Reflexão sobre Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania

Reflexão sobre Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania

Olá, marujos! Hoje, farei uma reflexão sobre o filme Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania. Nesse filme, o homem-formiga e toda sua família acabam voltando para o reino quântico e descobrem que, para sair de lá, precisarão enfrentar um vilão chamado Kang – o qual deseja conquistar vários universos. Na reflexão, abordarei alguns temas trazidos pelo filme: a responsabilidade social de quem é privilegiado, o falso argumento positivo do neocolonialismo e a noção de que nunca é tarde para deixar de ser otário. Teremos spoilers do filme. Vamos lá!

Sobre o Filme (COM Spoilers)

Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania estreou em 2023 e é considerada a primeira produção audiovisual da fase 5 do MCU. Esse filme apresenta aquele que será o grande vilão a ser enfrentado nessa fase: Kang. Em breve, ele estará disponível na Disney+.

Algum tempo depois da Batalha da Terra (nome com o qual ficou conhecida a luta definitiva contra Thanos e seu exército), Scott Lang (Paul Rudd) vive um momento de paz, ganhando a vida como autor de livros e podcasts sobre suas aventuras junto aos Vingadores.

Tudo estava bem até ele descobrir que sua filha adolescente Cassie (Kathryn Newton) desenvolveu em segredo um dispositivo que permitia contato com o Reino Quântico. Assim que Cassie acionou o dispositivo, ela, seu pai, Hope (Evangeline Lilly), Hank (Michael Douglas) e Janet (Michelle Pfeiffer) são sugados para o Reino Quântico e separados.

Scott e Cassie são encontrados por um grupo de nativos rebeldes, os quais enfrentam o governador tirano Kang, O Conquistador (Jonathan Majors). Porém, pai e filha são capturados por M.O.D.O.K. (Corey Stoll) – ex-rival de Scott e atual lacaio de Kang.

Kang exige que Scott restabeleça o núcleo de sua nave multiversal sob ameaça de matar Cassie. Scott aceita a missão à contragosto e a executa.

Enquanto isso, a família Pym-van Dyne passa por situações embaraçosas ao descobrir que Janet teve uma vida “complicada” durante seus anos no Reino Quântico.

No final do filme, todos se juntam para lutar contra Kang, incluindo os moradores rebeldes, e conseguem impedir o Conquistador de concretizar seus planos.

Reflexão sobre Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania: Responsabilidade dos Privilegiados

Scott, depois que salvou o mundo junto aos Vingadores, parou de fazer atos heroicos e focou seus esforços em vender suas memórias e cuidar da sua família. Ao mesmo tempo, Cassie estava agindo como uma ativista social, lutando para defender causas dos excluídos sociais – como moradores de rua (pessoas que voltaram após o blip e tinham perdido suas casas).

Existe uma tensão entre Cassie e Scott porque a menina quer ver o pai lutando por um mundo melhor enquanto Scott quer se dedicar apenas aos seus. E as coisas pioram quando eles vão para o Reino Quântico.

Lá, eles encontram nativos sobreviventes de diversos povos dizimados por Kang. Esses nativos estão se reunindo para contra-atacar e Cassie quer ajudar, mas Scott só quer ir para casa. Nisso, Cassie solta a frase que mais me impactou no filme: “Só porque não está acontecendo com você, não significa que não esteja acontecendo”. Essa frase me lembrou de outra que ouvi a poucos dias em algum podcast: “Existe uma responsabilidade para aqueles que são privilegiados”.

Em nossa sociedade, existe uma discussão sobre se devemos ou não nos envolver em lutas que não são as nossas. Devemos cada um cuidar da sua vida ou devemos dedicar nosso tempo em ajudar os outros?

A questão é que é muito fácil se envolver em grandes causas quando o problema é global e afeta a todos, incluindo nós mesmos. É fácil querer se juntar aos Vingadores para proteger a Terra de uma invasão alienígena porque aquela invasão vai trazer consequências para todos, inclusive a mim. Mas e quando o problema só afeta uma pequena parte da população e eu não estou nessa parte? Eu ainda quero me juntar aos Vingadores e ajudar essas pessoas nos seus problemas pessoais?

Cassie está fazendo uma crítica que é pertinente no universo do MCU: porque os Vingadores só aparecem para resolver grandes problemas? Porque eles não atuam em situações pequenas, do dia-a-dia, mas que também afetam muitas pessoas vulneráveis?

Contudo, essa crítica também serve para o nosso mundo: cadê as empresas, milionários e personalidades públicas na hora de resolver problemas cotidianos de várias pessoas? Porque esses citados só aparecem para fazer posts e campanhas quando alguma coisa ganha a grande mídia como desastres naturais ou algum assunto do momento? É isso que não pode acontecer!

Retomando a segunda frase que eu ouvi fora do filme, quem é privilegiado de alguma forma – pela cor da pele, gênero, orientação sexual, condição financeira etc. – precisa entender que possui uma responsabilidade social inerente ao seu privilégio. Nessa sociedade desigual em que vivemos, se você é um privilegiado porque nasceu (ou se tornou) em alguma das condições que não sofre preconceito, discriminação ou algum tipo de abuso, você precisa se responsabilizar em ajudar àqueles que estão sofrendo porque não foram privilegiados.

O termo “privilégio” significa um “direito, vantagem, prerrogativa, válidos apenas para um indivíduo ou um grupo, em detrimento da maioria”. Em uma sociedade justa, não deveriam existir privilegiados pois todos deveriam ter os mesmos diretos e prerrogativas. Ninguém deveria ter vantagem sobre os outros. Infelizmente, não é essa a realidade. E para mudar isso, os privilegiados deveriam tomar consciência disso e mudar.

É um pensamento utópico? Provavelmente. Mas não podemos desistir. Se você é privilegiado por qualquer motivo ou condição, não vire o rosto para aqueles que não possuem tal privilégio. Lembre-se da frase de Cassie, lembre-se que o problema continua existindo, mesmo que ele possa não te afetar nesse momento. Lute para que todos sejam iguais. Lute pelos que não tem forças ou condições para lutar. “Precisamos cuidar dos pequenos”.

Reflexão sobre Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania: Conquistadores são Monstros Disfarçados

A proposta de Kang em querer conquistar os chamados mundos problemáticos para conceber um mundo novo, sem problemas, nos soa ridículo e de fato o é. O curioso (e, ao mesmo tempo, triste) é que nossa sociedade já viveu essa realidade durante o chamado neocolonialismo.

Durante o neocolonialismo (século XIX), potências europeias invadiram terras na África e na Ásia em busca de matéria-prima e escoamento de seus produtos industrializados. Porém, para “não ficar feio”, para mascarar suas intenções econômicas, deram a desculpa que o objetivo das incursões era levar a cultura para esses povos. Basicamente, estavam dizendo que a cultura europeia era a verdadeira cultura ou, ao menos, a mais avançada e que a cultura dos povos africanos e asiáticos não era uma cultura de fato ou, ao menos, seria uma cultura inferior.

Se quisermos tornar as coisas mais bizarras, podemos lembrar que esse pensamento perdura nos dias atuais, com pessoas defendendo intervenções em países do Oriente Médio, por exemplo, pois eles não possuiriam valores “corretos”. E quem fala isso costumam ser países que até possuem leis igualitárias, mas que, na prática, são sociedades bem preconceituosas e desiguais.

Acredito que a mensagem do filme é criticar esse posicionamento de superioridade que temos muitas vezes, em acharmos que somos a solução moral para tudo e todos e que só conseguiremos resolver os problemas encontrados através da conquista, ou seja, da imposição da minha vontade sobre as outras pessoas ou culturas.

O sociólogo Boaventura de Sousa Santos diz que os direitos humanos atuais na verdade são os direitos humanos segundo a visão ocidental; e que só conseguiríamos de fato estabelecer os direitos humanos globais se o ocidente dialogasse com o oriente e criasse um documento que abrangesse os entendimentos culturais de todos os povos. Enquanto isso não fosse feito, tudo seria uma imposição de uma visão de mundo sobre outra.

Reflexão sobre Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania: Vamos Deixar de ser Otários!

Um momento tragicômico do final do filme me chamou a atenção: após uma intensa perseguição de M.O.D.O.K. à Cassie, ela vira para ele e diz algo do tipo “nunca é tarde para deixar de ser otário”. Isso dá um estalo na mente de M.O.D.O.K. e ele resolve se sacrificar para tentar deter Kang, dando uma chance de vitória aos heróis.

A situação acaba sendo um pouco ridícula porque M.O.D.O.K. se compara a um Vingador, mas a mensagem passada por toda a cena é interessante e importante para nossa sociedade: nunca é tarde para mudar.

Se lembrarmos que, antes dessa cena, o filme refletiu sobre o tema da responsabilidade social dos privilegiados e da hipocrisia em querer conquistar mundos “problemáticos” para consertá-los, podemos compreender que a mensagem de Cassie era para nós, espectadores. Somos nós que precisamos deixar de ser otários, compreendermos nossa posição social e mudarmos de atitude.

Conclusão

O filme Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania está longe de ser um dos melhores filmes da Marvel e nem é um filme que desenvolve bem seus temas reflexivos. Porém, as pinceladas que ele deu em alguns assuntos foram interessantes e me chamaram a atenção para elaborar essa reflexão. Por isso, nunca nos esqueçamos que “sempre há espaço para crescer”.

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Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.