Reflexão sobre Gavião Arqueiro: Não Existe Glamour em Ser Herói

Reflexão sobre Gavião Arqueiro: Não Existe Glamour em Ser Herói

Olá, marujos! Hoje, faremos uma reflexão sobre a minissérie Gavião Arqueiro. Nela, acompanhamos o vingador Gavião Arqueiro tendo que lidar com problemas causados pelo seu passado ao mesmo tempo em que protege e se aproxima de uma grande fã dele. Na reflexão, trabalharei diversos momentos nos quais a série mostra que não existe glamour em ser herói; que, na verdade, esse é um trabalho que traz muito mais sacrifícios do que benefícios. Teremos spoilers da série, mas sem revelações! Vamos lá!

Sobre Gavião Arqueiro (com SPOILERS)

Gavião Arqueiro é uma minissérie da Disney+ que estreou no final de 2021. Ela é canônica do MCU e se passa depois dos acontecimentos do filme Homem-Aranha: Sem Volta para Casa. No tempo cronológico do MCU, ela está situada no período do natal de 2024.

A série começa com a invasão alienígena de Nova Iorque (filme Vingadores) sendo apresentada por outra perspectiva. Acompanhamos uma menininha admirando o Gavião Arqueiro (Jeremy Renner) lutando contra os invasores ao mesmo tempo em que ela sofre a dor da morte do pai devido às explosões causadas pela invasão alienígena.

Passam-se os anos, essa menininha cresce e se torna uma grande arqueira, assim como seu ídolo. Seu nome é Kate Bishop (Hailee Steinfeld).

Nos dias atuais, acompanhamos Clint Barton vendo desmotivado um musical na Broadway sobre os acontecimentos da mesma invasão alienígena de Nova Iorque com seus filhos. Está na semana que antecede o natal e ele se prepara para ir com a família para sua casa no campo. Entretanto, algo inesperado acontece.

Surge uma notícia de TV dizendo que o Ronin foi visto em Nova Iorque. Clint sabe que ele é o Ronin, logo, alguém encontrou sua roupa e ele precisa recuperá-la porque muitas pessoas querem o Ronin morto. Ao rastrear o falso Ronin, Clint descobre que quem está usando a roupa é Kate Bishop.

Kate não fez isso de propósito. Ela só colocou a roupa para fugir sem revelar sua identidade de uma confusão em que se meteu. Mas os inimigos do Ronin não sabiam disso e começam a persegui-la. Clint se sente culpado pelo legado ruim trazido pela roupa e tenta ajudar Kate a se livrar da confusão em que se meteu.

A história se desenvolve com Clint tentando resolver tudo sozinho e de forma rápida para voltar para casa. Porém, Kate, como uma grande fã, não desgruda de seu ídolo, tentando acompanhá-lo e ajudá-lo no que for possível, às vezes ajudando, às vezes atrapalhando…

A missão não será fácil porque quanto mais os protagonistas pesquisam formas de acabar com tudo, mais problemas eles encontram!

E aí? Será que Clint e Kate conseguirão resolver tudo a tempo do Natal? Só vendo para descobrir!

Reflexão sobre Gavião Arqueiro: Musicais da Broadway não Mostram a Verdade!

Acredito que, no Brasil, a cultura dos musicais não seja muito forte e, por isso, você nunca foi a uma apresentação. No máximo, pode ter visto um filme inspirado em um musical. Porém, nos EUA, a cultura dos musicais é muito grande. Os grupos de teatro das escolas fazem a maiorias das suas peças musicadas e, para eles, um ator tem que saber cantar.

Nova Iorque é o principal local dos teatros musicais. Não só na Broadway, que fica no centro e são os maiores teatros, mas também em teatros próximos de médio e pequeno porte, chamados de Off-Broadway e Off-Off-Broadway. A cidade é cheia de pessoas tentando carreira em musicais e turistas que vêm apreciar essas montagens.

Escrevi tudo isso para dizer que nos EUA, tudo é um bom motivo para virar um musical. Como a demanda é muito grande, qualquer história pode virar um musical. E, pelo mesmo motivo, qualquer grande história VAI virar um musical. Essa é a realidade do nosso mundo.

Dessa forma, considerando que o MCU é um paralelo da nossa realidade, foi muito óbvio ter um musical sobre os Vingadores. Na verdade, acho que até demorou para fazerem alguma coisa! kkkk.

O problema não é o musical em si, mas a forma como a retratação dos fatos é feita e as mudanças artísticas produzidas.

Essas mudanças são coisas normais, que sabemos que existem, mas quando estamos muito envolvidos com os fatos reais, essas mudanças nos incomodam.

Os musicais, ou filmes, HQs, enfim… qualquer produção ficcional que não seja um relato histórico-documental, vai manipular os fatos ocorridos para se adequarem melhor a história. E essa manipulação pode desagradar muito às pessoas que passaram pelos problemas reais retratados na história.

No musical da série, chamado Rogers: The Musical (uma referência ao Capitão América) a luta contra os vilões á algo caricato e engraçado. Tudo muito diferente da realidade, que foi algo difícil e trágico, que custou a vida de muitas pessoas (como o pai da Kate).

Quando você não vive o fato real, ver o musical é uma diversão. Mas quando você viveu tudo aquilo, como foi o caso do Clint, ver aquelas cenas não é uma experiência legal, é uma experiência trágica. Ainda mais pelo fato de estar presente a Viúva Negra, que era a sua grande amiga e que se sacrificou no lugar dele.

Além disso, todas essas produções acabam exaltando, no final, mais a vitória e os fatos positivos decorrentes do acontecimento, para servirem de inspiração ou até mesmo venderem mais (já que quase ninguém gosta de gastar dinheiro para se sentir mal). Isso faz com que as pessoas que consomem esse conteúdo queiram viver aquela “vida maravilhosa” do protagonista porque, ao fazer as contas, parece que é uma vida bem melhor que a vida a qual o espectador tem.

Entretanto, como a série nos mostra, Clint não tem orgulho da sua vida de Vingador. Não digo orgulho de ter salvado o mundo e tudo o mais, mas de ser alguém que se sente satisfeitos pelo destino ter escolhido ele e não outra pessoa. Clint demonstra que, se pudesse, nunca teria se envolvido com tudo aquilo. Ele não queria ser um herói, ele apenas estava cumprindo o seu papel, sendo um bom profissional e um bom cidadão.

Para ele, que viveu todos os acontecimentos que vimos no MCU, lhe restou na memória muito mais as derrotas e pontos negativos do que o contrário. Por isso, ele se sente mal em ver todos exaltando a sua pessoa e seus amigos. Clint não queria ter vivido tudo o que viveu e se desespera quando vê pessoas querendo imitá-lo.

Reflexão sobre Gavião Arqueiro: Não Sou Exemplo para Ninguém!

Durante toda a série, vemos Clint como um herói cansado, aparentemente aposentado, tentando se livrar do seu passado, querendo ser esquecido. Ao mesmo tempo, vemos a jovem Kate Bishop querendo ser heroína, com muita disposição para fazer as coisas, querendo fazer amizade com seu ídolo Gavião Arqueiro, na “flor da idade”, com muita energia juvenil, sem nenhum grande relacionamento amoroso para cuidar ou lhe prender. Essas posições antagônicas geram muitas cenas engraçadas e reflexivas.

Como já foi dito, Clint tinha vergonha de ter sido o Ronin. Por isso, durante boa parte da série, esconde essa informação de Kate. No começo, ele diz que o Ronin morreu, que ele o conhecia, e que só queria destruir a roupa para que ninguém mais lembrasse dele. Óbvio que ele falava de si mesmo, mas Kate acredita que era outra pessoa. Só depois é que ela começa a desconfiar da verdade e o próprio Clint confessa, após adquirir confiança nela.

A confissão de Clint foi algo muito doloroso para ele. Além dele ter se arrependido muito da pessoa amargurada, cruel e vingativa que se tornou ao encarnar esse justiceiro mascarado, ainda existe o fato dele estar diante de uma grande fã. Enquanto que Clint se deprecia por ser quem é, Kate o exalta por tudo o que ela conhece do Gavião Arqueiro. E esse é o grande problema.

Os fãs normalmente só conhecem o lado público de seus ídolos. E, na maioria das vezes, apenas o lado bom é que vem a público. Se algo ruim vaza, é capaz desse lado ruim ser manipulado para se converter em uma história de superação. Dessa forma, os ídolos são perfeitos ou quase perfeitos.

Só que o ídolo sabe que não é perfeito. Muitas das vezes, ele se considera muito imperfeito, indigno de toda a fama que recebe. Só ele sabe das merdas que fez, que faz e que nunca alguém vai saber.

Antigamente, era muito mais fácil pintar esse ídolo perfeito. Sem internet e com poucos meios de comunicação, era só pagar a quantia certa para a pessoa certa. Hoje, isso já é mais difícil. É por isso que vazam constantemente histórias de famosos que chegam ao ponto de serem cancelados ou terem pedidos para cancelamentos.

Porém, o que poucos percebem, é que está surgindo uma nova classe de ídolos, que são os influenciadores digitais. Essas pessoas também sofrem do mesmo problema do Clint Barton: seus seguidores acham que os influenciadores são perfeitos.

Eu ainda não me considero um influenciador, mas tenho alguns seguidores mais fiéis, que interagem bastante. É engraçado ver como alguns acham que minha vida e da minha esposa são maravilhosas porque veem as postagens legais que fazemos nas redes sociais. Não é, minha vida é normal ou até pior porque, além de fazer tudo o que já sou obrigado a fazer, ainda fico criando esses conteúdos para entreter meus seguidores.

Existe em mim (e já vi em outros influenciadores também) o grande dilema do que mostrar e o que não mostrar. Creio que é algo natural nosso (do ser humano) não querer expor publicamente nossos problemas e dificuldades, pois não vemos sentido em compartilhar coisas que vão deixar as pessoas piores. Ao contrário, gostamos de compartilhar publicamente nossas alegrias, conquistas e vitórias porque sentimos que isso é o que vai fazer bem para quem nos segue. Não é uma questão de esconder um lado nosso, é questão de não ver sentido em mostrar coisas negativas.

Só que os fãs, por só terem um lado da história, acham tudo maravilhoso. E aí vem o problema: será que eu devo postar mais perrengues para entenderem que minha vida não é tão boa assim? Será que é melhor postar menos coisas legais para as pessoas pararem de achar que tudo o que faço é mágico?

A resposta, acredito, está mais no fã do que no ídolo. Os fãs precisam entender que todos que estão do outro lado da tela (seja do celular, do monitor ou da TV) são seres humanos como eles, com todas as situações que alguém normal vive ou pode viver. Claro que o fato de ser alguém “famoso” tem seus lados positivos e negativos. Mas o importante é entender que aquilo que eles estão vendo não é o todo, mas apenas uma parte, e uma parte selecionada para um propósito.

Reflexão sobre Gavião Arqueiro: Quem é o Verdadeiro Herói?

No último episódio, quando o laço de amizade já estava mais estreito entre Kate e Clint, temos um lindo diálogo sobre o que significa ser herói.

Nas palavras de Kate, que sempre esteve na posição de fã, “ser um herói não é apenas para pessoas que podem voar ou atirar lasers de suas mãos. É para qualquer um que é corajoso o suficiente para fazer o que é certo, custe o que custar”.

Como já tido anteriormente, Clint nunca se considerou um herói. Para ele, era como se fosse um emprego ou, quem sabe, uma obrigação moral. Ele não se considerava nada especial, só um ser humano “normal” com boa pontaria. Isso, claro, no seu momento Gavião Arqueiro, já que seu momento Ronin lhe decepcionava.

Foi Kate que fez com que Clint enxergasse a situação por outra perspectiva. Clint era um herói porque, mesmo com todas as suas limitações humanas (não só físicas, mas também emocionais, mentais, espirituais) se esforçou ao extremo para fazer aquilo que ele considerava ser o certo, custe o que custasse. Inclusive, era isso que ele estava fazendo naquele momento, deixando de estar com sua família no Natal para proteger uma desconhecida!

O termo herói, originalmente, se referia ao filho de um deus / deusa grego com um humano, ou a um mortal que foi divinizado. Em ambos os casos, geralmente, o semideus teve que percorrer uma jornada e enfrentar desafios. Após a vitória, sua história heroica era difundida para as demais pessoas, servindo como exemplo de superação da condição humana a tal ponto que se ganhava a admiração e respeito dos deuses. 

Pensando dessa forma, é interessante analisar personagens como Clint Barton e Natasha Romanoff (Scarlett Johansson), que são seres humano sem nenhum poder ou tecnologia que fizeram grandes feitos ao lado de outras pessoas que tinham alguma “vantagem”.

Fazendo um paralelo com nossa realidade, também podemos pensar em uma série de pessoas anônimas para a grande sociedade que levam vidas heroicas porque lutam diariamente para fazer o certo, custe o que custar, mesmo não tendo nenhuma ajuda e não tirando nenhuma vantagem no final.

Que nós possamos pensar nessas pessoas e as utilizarmos como exemplos reais e concretos de heroísmo, e não algum famoso que pode ser muito bom na sua área de atuação, mas teve e/ou tem uma série de vantagens para ser quem é ou estar onde está e, talvez, nem seja tão nobre quanto parece ser.

Conclusão

Ao final dessa reflexão sobre Gavião Arqueiro, percebemos que a vida de verdadeiros heróis é muito mais interessante para os fãs do que para os próprios heróis. Ser um herói exige sacrifícios para se fazer o certo e nem todos estão dispostos a isso. Os verdadeiros heróis não escolhem isso, mas acabam se tornando devido às circunstâncias do momento e de seus carácteres. Por isso, vale sim ser um fã de herói, mas com a intenção de imitá-lo e não de invejá-lo.

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Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.