Reflexão sobre Aladdin (2019): Empoderamento Positivo e Negativo

Reflexão sobre Aladdin (2019): Empoderamento Positivo e Negativo

Olá, marujos! Hoje, farei uma reflexão sobre o filme Aladdin (2019). Nesse remake em live action, ainda acompanhamos o ladrão de rua Aladdin tentando ganhar a vida, se apaixonando pela princesa Jasmine e lutando contra o vizir Jafar, que quer usurpar o trono. Porém, essa reflexão focará no desenvolvimento das histórias de Jasmine e Jafar, que apresentam um contraponto interessante sobre o lado positivo e negativo do empoderamento. Atenção, pois teremos spoilers do filme. Vamos lá!

Sobre Aladdin (2019) [COM Spoilers]

O filme Aladdin estreou em 2019. Ele é um remake com atores reais da então animação de 1992. O filme fez bastante sucesso, reapresentando a mesma história, mas com algumas mudanças que aprofundaram algumas tramas e melhoram o desenvolvimento de alguns personagens. Atualmente, está disponível na Disney+.

Aladdin é um ladrão de rua “bonzinho”. Ele ajuda uma garota que estava em apuros até descobrir que ela é a princesa Jasmine do reino de Agrabah.

Querendo impressionar Jasmine, já que ele se considera um “zé-ninguém”, Aladdin aceita a oferta do vizir (espécie de conselheiro do sultão) Jafar de ir até uma caverna mágica roubar uma lâmpada em troca de dinheiro. O roubo é bem-sucedido, mas Jafar trai o garoto e o abandona na caverna. O que o vizir não esperava é que o macaco de estimação de Aladdin, Abu, pegasse a lâmpada de volta.

Sem querer, a lâmpada é esfregada é de lá sai um gênio. O Gênio promete três desejos a Aladdin.

Saindo da caverna, Aladdin faz seu primeiro desejo pedindo para se tornar um príncipe, com a intenção de impressionar Jasmine. O gênio atende, mas o plano não funciona, já que Jasmine não liga para apresentações pomposas de príncipes metidos.

Aladdin, mudando um pouco de estratégia, resolve se um pouco mais ele mesmo e consegue se aproximar de Jasmine. Porém, ele ainda acha que precisa “bancar” o príncipe para ter o afeto da princesa.

Enquanto isso, Jafar descobre que Aladdin está com a lâmpada mágica e a rouba. Tendo agora o controle do Gênio, ele exige ser o sultão e o feiticeiro mais poderoso.

Aladdin, estrategicamente, convence Jafar de que este só seria totalmente poderoso se se tornasse um gênio. Jafar cai no truque e faz esse desejo, esquecendo que o poder do gênio vem junto com a sua prisão em uma lâmpada.

O verdadeiro sultão decide mudar a tradição e passa seu trono para sua filha, a qual também decide mudar as regras reais para se casar com Aladdin.

Aladdin cumpre sua promessa e usar seu último desejo para libertar o gênio da sua condição de escravo da lâmpada.

Se quiser ver o filme com detalhes e escutar suas músicas e danças marcantes, assista Aladdin na Disney+.

          
          
     

Reflexão sobre Aladdin (2019): Jasmine e o Empoderamento Feminino

Segundo a lei vigente em Agrabah até os acontecimentos finais do filme, o sultão deveria passar seu trono para um príncipe, homem.

Sendo assim, Jasmine não tinha outra opção a não ser casar-se com um príncipe, cumprindo sua “obrigação” como princesa e mulher.

Jasmine nunca aceitou essa posição subserviente e sempre foi uma rebelde. No começo do filme, isso fica claro quando ela escapa do castelo para explorar as ruas de Agrabah. Depois, constantemente ela questiona seu pai das leis antiquadas que ele obedecia.

O sultão tinha compaixão de sua filha, mas sempre a preteria e preferia respeitar as leis antigas de seu povo. Mas tudo muda quando ele percebe que Jasmine é uma líder nata.

Na cena em que Jafar usurpa o título de sultão, Jasmine não se cala e enfrenta Jafar, assim como mostra ao general Hakin que ele não deve obedecer Jafar só porque ele é um sultão agora, que ele deve manter sua honra e obedecer aos verdadeiros interesses do povo de Agrabah.

Por sua bravura e competência, o sultão, no final do filme, percebe que Jasmine tem todos os atributos necessários para ser uma sultana, que era apenas o empecilho da tradição que impedia sua filha de ser a nova governante. Por isso, ele muda de opinião e passa seu governo para ela.

Nesse filme, Jasmine ganha uma música muito significativa, que em português se chama “Ninguém Me Cala”. Ela a cante duas vezes, no começo do filme – quando Jafar diz que uma princesa serve para ser vista, mas não ouvida – e no final, quando ela decide encarar o vilão.

Jasmine vem representar todas as mulheres que, ao longo da história, foram excluídas da política simplesmente por serem mulheres. O machismo presente em várias (quiçá, a maioria das) culturas relegou o papel doméstico às mulheres, fazendo-as apenas reprodutoras e cuidadoras de lares.

Longe da importância desses dois papéis acima, a mulher também deveria ter o direito de opinar politicamente e assumir postos públicos de decisão. Isso é tão óbvio nos dias de hoje que é estranho pensar que não era assim no passado.

O que talvez não percebamos é que, mesmo a lei permitindo essas funções, são poucas as mulheres que conseguem assumir esses postos. Ainda existe um machismo estrutural que inibe as mulheres de se candidatarem a esses cargos e, quando o fazem, não são bem recebidas nos votos pelos homens (e até pelas próprias mulheres).

Não existe, na grande maioria das sociedades, uma distribuição equilibrada de postos de poder entre homens e mulheres. Muitas leis e regras jurídicas acabam dificultando as mulheres de ganharem e permanecerem em posições de destaque social, seja político ou em empresas privadas.

Reforço aqui que ninguém pode calar uma mulher e, em especialmente, uma outra mulher. Infelizmente, o machismo está tão arraigado na sociedade que uma mulher acaba sendo machista sem perceber e acaba atrapalhando outras mulheres de lutarem por posições importantes.

Peço que os homens aprendam a respeitar mais as vozes femininas e seus gritos de ordem e socorro. Muitas vezes, o que elas falam soa estranho para nós porque não são temas da nossa realidade. Mas não é porque não entendemos, que está errado ou não tem valor.

Devemos dar voz às mulheres e ouvirmos seus apelos, suas sugestões, suas opiniões. A voz da mulher é tão importante quanto a voz do homem, talvez até mais importante devido a tudo que ela guardou porque foi calada por tanto tempo.

Reflexão sobre Aladdin (2019): Jafar e o Empoderamento Revanchista

Nessa versão do filme, descobrimos mais sobre a história de Jafar. Ele também era um ladrão de rua que chegou a ficar preso no reino vizinho. Após sua liberdade, lutou para conseguir crescer politicamente em um ambiente que não valorizava a plebe. Chegou até o cargo de Vizir, que era o máximo alcançável devido a sua origem. Mas isso não o satisfazia.

Jafar queria ser sultão. E isso por si só não é um problema. O problema está nos meios e motivos para isso.

Como meio, Jafar usa da magia do Gênio. Ele obriga todos a lhe aceitarem como sultão. Esse empoderamento forçado acaba não funcionando e ele precisa usar da punição e do medo para ser obedecido, mostrando que ninguém o respeitava, apenas o temia.

Muitas vezes na história, o poder foi disputado e conquistado por meios ilícitos que acabaram sendo ratificados. Mas isso não é o certo e nem deve ser usado como parâmetro para justificar nada.

O sultanato – que é apresentado como um poder hereditário e elitista – pode não ser um sistema de poder justo, que recepciona a vontade do povo. Mas um golpe não era a solução porque o sistema continuou sendo opressivo, apenas mudando a figura no controle. Nessa situação, a luta por eleições diretas, permitindo a candidatura do povo, é que seria justa.

Outro problema grave na atitude de Jafar é sua intencionalidade. Jafar queria o poder para atacar o reino vizinho e se vingar por aquilo que ele sofreu quando era pobre. Jafar queria uma revanche e não se importava com os riscos que trazia para Agrabah e seu povo. Uma guerra custaria vidas inocentes de forma direta e indireta.

Jafar queria o poder de forma egoísta, ignorando a função social do seu cargo. Jafar não queria ser sultão porque acreditava que as atitudes do sultão atual eram ruins e que ele poderia fazer melhor, ele só queria o poder para ter sua vontade atendida a qualquer custo. Jafar não ligava para as demais pessoas a quem ele governava.

Esse pensamento de Jafar deve servir de exemplo para nós pensarmos nas pessoas que votamos e elegemos para qualquer cargo representativo, desde o presidente do Brasil até o representante de sala: qual o motivo daquela pessoa querer aquela posição? O que ela espera com seu cargo? Qual seu objetivo verdadeiro?

Reflexão sobre Aladdin (2019): O Custo do Poder Máximo

As atitudes de Jafar também devem nortear nossas pretensões de poder. Todos nós gostamos de ter poder, nossas vontades atendidas. Mas por qual motivo e a custas de quê?

Por toda a história de Jafar, ele queria ser a pessoa mais poderosa de todos. Para ele, apenas o primeiro lugar importava. Ser o segundo na hierarquia nunca era o bastante.

Seu lema era: “Ou você é o homem mais poderoso de todos ou não é nada”. Essa frase pode parecer até fazer sentido, mas é uma falácia. Ela subentende que não ter todo o poder te impede de ser e fazer tudo, e isso não é verdade.

Muitas vezes, para aquilo que queremos ou pretendemos, não é preciso ter todo o poder. Às vezes, um pequeno cargo ou um bom argumento com a pessoa certa já resolve tudo.

Da mesma forma, ser o mais poderoso não lhe garante tudo. Na história do filme, ser tão poderoso quanto um gênio custava ter uma vida de servidão. Tinha-se o poder, mas não se tinha a liberdade.

Curiosamente, isso ocorre na vida real: muitas pessoas que possuem poder relatam a dificuldade que se tornou suas vidas, porque devem prestar contas para outras pessoas, porque estão sendo sempre observados pelos outros, porque não possuem mais paz…

Por isso, devemos refletir se realmente vale a pena ter o poder máximo. Muito poder traz muita dor de cabeça.

Conclusão

Ao final dessa reflexão sobre Aladdin, percebemos que o grande diferencial em história dessa versão é o enfoque na questão do empoderamento. Vimos como o empoderamento pode ser positivo – quando olhamos para a luta feminina por representatividade – e como pode ser negativa – quando buscado por si mesmo, sem um motivo justo ou um meio adequado. Que possamos dar o poder a quem o merece e busquemos o poder apenas quando ele for realmente necessário e benéfico.

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Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.