Reflexão sobre Agatha Desde Sempre: Individualidade e Morte

Reflexão sobre Agatha Desde Sempre: Individualidade e Morte

Olá, marujos! Hoje, faremos uma reflexão sobre Agatha desde Sempre. Nessa minissérie, a feiticeira Agatha “acorda” do seu transe sem poderes e parte junto com seu novo Coven para o caminho das bruxas. Na reflexão, trabalho o problema da individualidade (presente na personagem Agatha) e a morte como parte do ciclo da vida (um dos principais temas da minissérie). Teremos spoilers. Vamos lá!

Sobre a Minissérie (COM Spoilers)

Agatha desde Sempre é uma minissérie da fase 5 do MCU. Estreou em 2024 na Disney+ e é uma continuação direta da outra minissérie WandaVision (apesar de se passar 3 anos entre uma e outra).

Agatha Harkness (Kathryn Hahn) perdeu a luta contra a Feiticeira Escarlate (Elizabeth Olsen) no final de WandaVision e ficou “aprisionada” na cidade de Westview em um transe mágico (ela vivia uma realidade paralela em sua mente). Agatha ficou assim por três anos, até que um jovem feiticeiro (Joe Locke) a libertou.

Esse jovem queria ir no caminho das bruxas, um lugar mágico que, após ser percorrido, concede um desejo aos bruxos que terminam o percurso vivos. Ele foi atrás de Agatha porque ela era a única bruxa conhecida que sobreviveu ao desafio.

O jovem queria mais poder e Agatha queria recuperar seus poderes (que havia perdido após a batalha de três anos atrás). Juntos, eles recrutam quatro outras bruxas para realizar o feitiço.

No caminho, cada bruxa passou por uma provação diferente, relacionada com seus traumas ou motivações pessoais. Algumas sobreviveram, outras não.

No fim, descobrimos que o jovem é Billy Maximoff, filho da Wanda Maximoff. Sua existência se deu porque o “espírito” do Billy de Westview encontrou um corpo recém morto em Eastview segundos depois de o feitiço da Feiticeira Escarlate acabar com o Hex (o domo vermelho) e tudo o que foi criado lá dentro (o que incluía seus filhos). E que seu real objetivo no caminho das bruxas era conseguir a “reencarnação” do seu irmão Tommy.

Também descobrimos que uma das bruxas que ajuda o grupo, que aparentemente era um antigo caso de amor de Agatha, nada mais é do que a Morte (literalmente). Ela estava lá porque queria corrigir o ciclo da vida e levar Billy, que não deveria ter “reencarnado”. Contudo, Agatha se entrega no lugar de Billy e acaba virando um fantasma.

Billy descobre que o caminho das bruxas não existia – o qual era só uma lenda – e que ele o fez se tornar real moldando a realidade com seu poder mágico (algo semelhante ao que sua mãe fez no Hex).

Por fim, o jovem feiticeiro Billy, agora consciente dos seus poderes, parte junto com a Agatha fantasma para encontrar seu irmão Tommy (que ele consegui reencarnar em algum lugar desconhecido).

Quer ver essa série com detalhes, ouvindo a Balada do Caminho das Bruxas e pegando várias referências da cultura pop sobre bruxas e feiticeiras? Assista Agatha desde Sempre na Disney+.

Reflexão sobre Agatha desde Sempre: O Problema da Individualidade

Agatha é uma bruxa solitária. Ela é sozinha por escolha própria e também por rejeição das demais bruxas.

Enquanto a maioria das bruxas possui um Coven (um grupo de bruxas amigas), Agatha prefere o isolamento ou é deliberadamente isolada pelas demais “irmãs”.

Sabemos, pela história contada, que Agatha “sugou” o poder e, consequentemente, a vida de seu Coven original. Depois, ela continuou fazendo isso com outras bruxas para ganhar poder e longevidade, o que lhe trouxe uma fama terrível.

Por mais que Agatha tente passar a ideia de que tem orgulho de ser excluída do “círculo social” bruxo, no fundo, ela sofre por viver esse isolamento.

Ao longo da série, vemos várias situações em que ela tem um conflito interno entre sua personalidade exterior (de durona e individualista) com uma vontade interior sincera de se conectar a um grupo. Porém, ela luta para evitar isso.

Aparentemente, ela sente que todos que são próximos dela morrem (provavelmente, resquício de culpa pela morte de seu filho ou sua proximidade com a própria Morte).

Ela só mudará de pensamento no final da série, quando – já fantasma – aceitará acompanhar Billy na busca por Tommy.

Billy também se considera alguém que atrai a morte, mas não relutará ter Agatha perto de si porque ela já morreu. E Agatha, além de não ver risco em estar ao lado de Billy, também tem uma afeição por ele (possivelmente, espelhando no garoto seu filho falecido). Além disso, ambos sentem o que o outro sente e isso gera uma cumplicidade na dupla.

A grande pergunta que fazemos sobre esse tema na série é: vale a pena viver sozinho? E a resposta é: não.

Agatha demonstrou ser a bruxa mais poderosa e temida, mas para que? Qual a utilidade desse poder e temor? Qual benefício ela tirou disso tudo?

Ter uma vida boa e não ter com quem compartilhar acaba sendo pior do que ter uma vida sofrida e ter com quem compartilhá-la. Se olharmos a vida que Agatha tinha com seu filho, ela era feliz com ele mesmo vivendo uma vida de praticamente mendicância.

Depois, quando sua revolta pela morte do menino se transformou na busca pelo poder, ela só tinha olhos para isso. Ela tinha prazer, mas não tinha felicidade ou até mesmo alegria.

A própria história do Billy durante toda a série é a busca pelo irmão, ou seja, alguém que é próximo dele, que conviveu e dividiu uma vida com ele. Billy não quer ficar sozinho mesmo sentindo ser um assassino.

Ficar sozinho só é prazeroso, mas não alegre. Você pode curtir um momento ótimo sozinho (prazer), mas não terá com quem compartilhar (alegria).

Talvez, no começo, você não sinta falta de ninguém “te perturbando” e consiga aproveitar diversos prazeres da vida sozinho. Porém, vai chegar a hora em que você sentirá a tristeza em estar só e quererá alguém para compartilhar momentos da sua vida.

Pode até ser que hoje, com a tecnologia, você se sinta menos sozinho por ter diversos amigos virtuais ou a distância com quem compartilhará sua vida e isso prolongará seu estado de “isolamento social” físico. Mas mais cedo ou mais tarde, você vai querer alguém próximo fisicamente a você para dividir um momento.

E entenda que não estou falando aqui de relacionamento amoroso ou ter que dividir uma casa com alguém. Me refiro a sair e encontrar pessoas fisicamente para conversar, se divertir, trocar ideias, tomar umas bebidas ou jogar uns jogos, essas coisas. É ter o afeto físico de alguém. Se sentir querido presencialmente e também ter a quem querer presencialmente. Esse é o caso de boas amizades.

Pense nisso na hora de se recusar a estar com outras pessoas, ao não querer se esforçar um pouco em compartilhar seu tempo com amigos, familiares ou amores. Hoje, essas pessoas podem ser “dispensáveis”, mas e amanhã? Ter alguém realmente próximo não é algo que se conquista “do nada”, exige tempo.

Por isso, mantenha o contato próximo com quem você gosta, quer bem, se sente bem. Não precisa encontrar toda a semana, mas mantenha essa pessoa sempre viva para você e você para ela.

Reflexão sobre Agatha desde Sempre: A Morte faz Parte da Vida

Outro tema recorrente na série é a morte. Tão importante que a própria Morte é um personagem essencial na trama.

A Morte é considerada a primeira bruxa verde, a bruxa responsável pelo ciclo da vida. Entender isso é fundamental para respeitarmos e acolhermos a morte. Ela DEVE existir para todos.

Agatha é acusada de roubar vidas para viver mais tempo do que deveria e isso não é bem aceito pela Morte. Todos temos nosso tempo de vida e precisamos aceitar quando ele acaba.

Prolongar a vida mais do que deveria geralmente trás um problema para si ou para outros. Na série, a vida de Agatha era sustentada pela vida da outras bruxas. Ou seja, alguém era privado da vida para beneficiar outra pessoa.

Na vida real, vemos muitos casos de pessoas prolongando suas vidas através de tratamentos e cuidados exagerados. Coisas desse tipo podem causar até mais sofrimento para a pessoa em si ou para os demais que cuidam dela, porque precisam ficar à disposição do afetado. Pense em quantas pessoas abandonam sua vidas pessoais para cuidar de um doente ou idoso que não tem mais chances de melhorar.

Não estou aqui defendendo a eutanásia porque, pela lógica da série, também é agir contra o tempo das coisas (nesse caso, antecipando). Mas falo de prolongar algo de forma desnecessária. Precisamos aceitar que a morte irá chegar para todos, mais cedo ou mais tarde.

Billy também é um desafeto da Morte porque não era para ele ter reencarnado. Ele teve a vida dele (mesmo que de forma esquisita) naquele universo e seu tempo tinha acabado. Mas ele “sem querer querendo” enganou a morte e pegou um defunto fresco para se manter vivo e isso foi agir “contra as regras”.

Não condeno o que Billy fez, até porque entendo sua vontade de viver e a ausência de causar mal a alguém (já que o verdadeiro William Kaplan já tinha morrido). Porém, esse tipo de coisa não pode ser normalizado como um costume porque, se fosse, aí sim geraria um problema.

Eu consigo imaginar toda uma economia em volta desse serviço de providenciar corpos frescos para pessoas trocarem de “casca”. Inclusive, acho que existe uma série ou filme em que isso era possível…

Enfim, de qualquer forma, o que Billy fez tanto com ele quanto com o irmão foi “roubar no jogo” e isso é desrespeitar o ciclo da vida, é não aceitar que seu tempo acabou e deixar o universo para os próximos que vierem.

Reflexão sobre Agatha desde Sempre: Morte como Missão Cumprida

Outra situação interessante de se analisar na série foi a morte da bruxa Alice Wu-Gulliver (li Ahn).

Ela era uma bruxa de proteção, que entrou no caminho porque queria retirar de si uma maldição de família. Basicamente, ela era atormentada por um demônio.

No caminho, ela conseguiu isso em um dos desafios. Porém, no desafio logo em seguida, acabou morrendo ao proteger o grupo de uma Agatha possuída.

Quando a alma de Alice percebe que morreu, questiona a Morte se realmente aquele era o fim de sua vida. Ela fica triste porque tinha acabado de se livrar da maldição e nem pode aproveitar sua nova etapa a vida.

Nisso, a Morte lhe diz que ela morreu cumprindo sua função, seu chamado: ela morreu protegendo o seu Coven. Com essas palavras, Alice se tranquiliza e segue para o pós-morte.

A lição que podemos tirar desses acontecimentos é entendermos o que dá sentido para nossas vidas e o que precisa ser satisfeito para considerarmos que atingimos esse objetivo e podermos morrer em paz.

Querer fazer tudo é impossível e angustiante. Não temos tempo hábil para isso. Precisamos focar em algo que queremos realizar, um grande sonho (por assim dizer) e correr atrás dele. Ao alcançarmo-lo, precisamos ter a consciência de missão cumprida e aceitar que tudo o que vier de positivo depois é lucro.

Esse pensamento, por mais difícil que possa parecer, com certeza lhe ajudará a conduzir melhor suas escolhas e lhe trará paz interior para acalmar seu coração e deixar a vida seguir seu fluxo sem grandes desesperos.

Pense: o que você quer realizar como seu grande objetivo? O que você gostaria de alcançar que lhe permitiria dizer “agora posso morrer em paz”? Tenha isso como meta e você terá não só uma vida mais tranquila, mas também uma morte mais tranquila. 

Conclusão

No final dessa reflexão sobre Agatha desde Sempre, entendemos que viver uma vida individualista pode ser prazeroso, mas não será uma vida alegre. Podem parecer sinônimos, mas quando você entender que não tem com quem compartilhar suas experiências de vida, entenderá bem a diferença. Além disso, a morte faz parte do ciclo da vida e, como seres vivos, precisamos aceitar que o fim terreno chegará. Por isso, tenha em mente um objetivo que faça sua vida ter valido a pena e foque nele para poder ter, no futuro, uma morte pacífica.

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Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.