Olá, marujos! Hoje, aprenderemos sobre a vida e obra de Søren Kierkegaard de um jeito descomplicado. Kierkegaard é considerado o maior filósofo dinamarquês e pai do existencialismo. Também é considerado o maior expoente do existencialismo cristão. Apresentaremos os principais pontos de sua biografia e suas principais contribuições filosóficas. Vamos lá!
Kierkegaard Descomplicado: Biografia
Infância e Juventude
Søren Aabye Kierkegaard nasceu em 5 de maio de 1813 em Copenhague, Dinamarca. Ele era de uma família rica. O sobrenome Kierkegaard se assemelha à palavra Kirkegård (cemitério adjacente a uma igreja). Porém, é mais provável que o sobrenome venha do nome de uma fazenda onde o patriarca nascera.
Sua mãe, Ane Sørensdatter Lund Kierkegaard foi a segunda esposa de seu pai, Michael Pedersen Kierkegaard. Eles se conheceram porque Ane era empregada doméstica de Michael e sua primeira esposa. Michael casou-se com Ane depois que sua primeira esposa morreu.
Søren Kierkegaard é o mais novo de sete irmãos. Porém, apenas ele e outro irmão chegaram a viver mais de trinta anos.
A mãe Ane não tinha estudos e era considerada alguém simples. O pai Michael começou sua vida como pastor de ovelhas, mas acabou ganhando destaque no comércio de lã. Com seus lucros, ele fez investimentos imobiliários que lhe garantiram sua fortuna e de sua família.
Michael era um autodidata que incentivava seus filhos ao estudo e também muito rigoroso na criação deles. Ele também tinha uma fé cristã muito forte e um tanto exagerada. Como exemplo, ele se considerava amaldiçoado por ter blasfemado contra Deus quando era pastor de ovelhas e por ter tido relações sexuais com Ane antes do casamento. Basicamente, a maldição consistia em seus filhos morrerem jovens, antes dele. Esse temor era constantemente exposto para Søren e seus irmãos. Acabou que a maldição não se concretizou.
Søren Kierkegaard ingressou nos estudos formais em 1821, aos 8 anos, na Escola de Virtude Cívica em Copenhague mesmo. Lá, ele se dedicou principalmente ao latim e à história, se formando em 1830, aos 17 anos. No mesmo ano, ingressou na Universidade de Copenhague para estudar teologia. Apesar disso, dedicou-se mais à filosofia e literatura.
Sua mãe morreu em 1834, quando Søren tinha 21 anos. Já seu pai morreu em 1838, quando Søren tinha 25 anos. O pai queria que ele fosse pastor e Søren até cogitou essa possibilidade, mas acabou desistindo.
Kierkegaard conheceu Regine Olsen em 8 de maio de 1837. Ambos eram muito apaixonados e, em 1840, aos 27 anos, no mesmo ano em que ele se formou em teologia, Kierkegaard pediu Olsen em casamento. Porém, no ano seguinte, em 1841, ele desmanchou o noivado. Segundo o diário do filósofo, ele não conseguiria proporcionar a felicidade que Olsen merecia.
Alguns meses depois do fim do noivado, Kierkegaard obteve o título de Magister Artium, que equivaleria hoje ao nosso Doutorado, com uma tese sobre a ironia socrática.
Primeiro Período de Escrita
Entre 1841 e 1846, Kierkegaard fez uma série de publicações onde expunha suas opiniões filosóficas. É digno de nota o fato dele fazer essas publicações sob diferentes pseudônimos.
A interpretação que temos disso é o fato dele apresentar diferentes opiniões sobre como deveríamos viver e entender a vida. Basicamente, vemos essa discussão sob o olhar de um esteta (alguém que busca o sentido da vida nos prazeres da vida), um ético (alguém que busca o sentido da vida nos valores morais) e um religioso (alguém que busca o sentido da vida na fé cristã).
Após sua série de publicações, ele considerava que tinha concluído seu trabalho. Porém, em 1845, Peder Ludvig Møller escreveu uma crítica a um de seus livros e também contribui com um artigo satírico sobre Kierkegaard no jornal O Corsário.
Kierkegaard rebateu as críticas e as sátiras. Porém, acabou criando uma rivalidade com O Corsário, que continuo satirizando-o e ridicularizando-o por causa de sua aparência, voz e hábitos.
Esse fato fez com ele voltasse a escrever e, dessa vez, sem pseudônimos.
Segundo Período de Escrita
Entre 1847 e 1855, publicou mais uma série de livros que possuíam dois focos de crítica: a sociedade moderna (de sua época) e a Igreja da Dinamarca (a instituição – também conhecida como Igreja Nacional Dinamarquesa ou Igreja Evangélica Luterana na Dinamarca -, e não a religião).
A crítica à sociedade moderna de sua época começou após os episódios de humilhação que sofreu pelas publicações de O Corsário. Kierkegaard percebeu que o momento em que estava vivendo havia tirado a liberdade das pessoas serem quem elas são. A sociedade estava ficando excessivamente racional e desapaixonada, criando o que ele chamou de “multidão”: um agrupamento de pessoas indiferentes. A individualidade estava se perdendo.
Já a crítica à igreja dinamarquesa estava concentrada no fato dela não estar mais vivendo o evangelho de Jesus Cristo. Para Kierkegaard, o verdadeiro exemplo a ser imitado é o de Jesus e isso significava passar por humilhação, desprezo, ridículo e sofrimento. Tudo isso, segundo o filósofo, estava sendo evitado pela igreja, que facilitara ser cristão transformando o cristianismo em um mero sistema moral e filosófico. Além disso, a Igreja da Dinamarca obrigava todos a seres cristãos enquanto Kierkegaard defendia que a fé deveria ser uma escolha individual (e não uma imposição).
Morte e Funeral
Em 2 de outubro de 1855, Kierkegaard desmaiou na rua com paralisia nas pernas. Ele foi levado para o hospital Fredericks e ficou internado por volta de 40 dias até vir a óbito. Søren Kierkegaard morreu aos 42 anos em 11 de novembro de 1855 em Copenhague, Dinamarca.
Na época, acreditava-se que ele teve um problema de coluna devido a uma queda de árvore na infância ou que tivera uma infecção pulmonar. Estudos posteriores analisaram os laudos médicos e consideraram que ele tinha, na verdade, Mal de Pott (também conhecido como tuberculose vertebral). Essa doença é uma infecção na coluna vertebral causada pela bactéria da tuberculose.
Mesmo com suas críticas à igreja dinamarquesa, ele foi enterrado nela com os devidos ritos funerários na presença de parentes e admiradores. Contudo, o enterro não foi tranquilo já que seu sobrinho gritou que essa atitude iria contra as vontades do tio, que era um crítico daquela instituição religiosa.
Kierkegaard Descomplicado: Filosofia
Existencialismo Cristão
Para Kierkegaard, o ser humano se diferencia dos demais animais e das plantas por possuir um eu, uma consciência, um espírito. É essa consciência que dialoga com ela mesma e faz o ser humano ter a autoconsciência, a consciência de estar vivo e estar no mundo.
Além disso, o filósofo destaca a importância da personalidade do indivíduo e de sua relação com o mundo para a formulação daquilo que seria a verdade. Para Kierkegaard, “a subjetividade é uma verdade” e “a verdade é subjetiva”. Isso quer dizer que toda compreensão objetiva do mundo acaba passando por uma interpretação do ser humano sobre essa verdade objetiva, subjetivando-a.
Como exemplo recente, temos a verdade objetiva da pandemia do coronavírus, que acabou sendo subjetivada e, com isso, surgiram aqueles que viram a pandemia como uma consequência ocasional das ações humanas e surgiram aqueles que viram a pandemia como algo provocado propositalmente com fins obscuros. Para cada interpretação, existirá uma verdade sobre o que foi a pandemia.
Como cristão convicto, Kierkegaard também irá analisar essa subjetividade nas questões de fé. Em seus conceitos filosóficos (que veremos a seguir), perceberemos que a autoconsciência humana e seu encontro do propósito existencial culminará na fé cristã. Para ele, o objetivo existencial do ser humano é a eternidade (encontrada no Absoluto, Deus).
Os Estádios da Existência
Os estádios da existência humana, também conhecidos como esferas da existência humana, são três movimentos ou maneiras de ser do ser humano durante sua existência. São eles o estético, o ético e o religioso.
Estádio Estético: esse é estágio em que vivemos o momento, experimentando aquilo que a vida nos proporciona no agora. Nesse estádio, estamos abertos às influências externas e as mudanças internas de humor, mudando conforme as coisas em nós e ao nosso redor vão mudando. Esse seria um estágio em que vivemos o temporal.
Estádio Ético: esse é o estágio em que passamos a existir de fato, em que nós escolhemos a nós mesmos. Criamos uma responsabilidade e começamos a tomar decisões sobre agir certo ou errado. Através do dever, nos submetemos a uma ordem moral que guia nossas ações. Nesse estádio, possuímos a liberdade de escolha responsável, de fazer aquilo que achamos certo fazer. Esse seria um estágio com inclinação para o eterno.
Estádio Religioso: esse é o estágio em que se pressupõe a fé. Ao aceitar a fé cristã, o homem encontra verdadeiramente seu propósito de existir. Ele é mais radical que o estádio ético porque a fé pode fazer exigências que estão para além da moral humana (ele usa como exemplo o sacrifício de Abraão). Esse seria um estágio com a aceitação do eterno.
Por mais que seja perceptível uma escala de valor entre esses estádios, o filósofo entendia que nós podemos estar em qualquer um deles em qualquer momento de nossas vidas. Logo, eles não constituem uma reta, mas sim um triângulo em que podemos “pular” de um para outro dependendo da forma como nos entendemos e nos comportamos.
A existência desses estádios existenciais é uma das provas da liberdade humana porque o ser humano pode escolher em qual estádio ficar e também escolher quando mudar de estádio.
Entendendo esses estádios como modos de ser no mundo, temos aqui uma fenomenologia existencial.
Salto da Fé
Kierkegaard chama de salto da fé a atitude de ruptura que o ser humano precisa tomar para mudar do estádio ético ou estético para o estádio religioso. É um salto porque não é uma passagem, um processo. Ou se acredita ou não se acredita.
O filósofo compreende que existe a dúvida e a dúvida faz parte da fé. Se tivéssemos certeza da existência de Deus, não haveria dificuldade de as pessoas aceitá-Lo e não seria um desafio para o ser humano viver permanentemente no estádio religioso.
O salto da fé não pode ser compreendido de modo racional. Ele está para além da lógica.
Kierkegaard Descomplicado: Principais Obras e Comentários
Kierkegaard Descomplicado: Conclusão
Søren Kierkegaard foi um filósofo que buscou compreender o modo como o ser humano escolhe viver a sua vida. Ele foi capaz de nos mostrar os modos existentes, suas implicações e um caminho de escolha que ele considerava o adequado. Ao escolher escrever a maior parte de seus livros sob pseudônimos, Kierkegaard queria que suas obras fossem interpretadas livremente por cada leitor, sem que se tentasse criar um sistema fechado sobre seu pensamento. Dessa forma, apesar de podermos concluir algumas ideias filosóficas dos seus escritos, não está certo dizer que tudo se resume a isso e, desse jeito, fica a cargo de cada pessoa ler os originais e tirar suas próprias conclusões, colocando a sua subjetividade na busca pela verdade kierkegaardiana.
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Até a próxima e tenham uma boa viagem!
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Kierkegaard Descomplicado: Referências
WIKIPÉDIA. Verbete Søren Kierkegaard (português, grego, malaiala, dinamarquês e norueguês) e Salto da fé.
SANTOS, Wigvan Junior Pereira dos. Os estádios da existência de Kierkegaard (Mundo Educação).