Homo Totus Descomplicado: Antropologia de Santo Agostinho

Homo Totus Descomplicado: Antropologia de Santo Agostinho

Olá, marujos! Hoje, aprenderemos sobre o conceito de homo totus de um jeito descomplicado, presente na antropologia de Santo Agostinho. Vamos ver como esse filósofo descreveu de forma racional algo que ele já tinha como uma verdade de fé. Vamos lá!

Sobre Santo Agostinho

Santo Agostinho é o maior expoente da filosofia cristã no período conhecido como patrística dentro da chamada filosofia medieval (a qual perdurou durante a Idade Média).

Agostinho era um cidadão romano que morava na África, filho de pai pagão e mãe cristã. Por muito tempo, Agostinho viveu a vida pagã, mas acabou se convertendo já adulto após conhecer Santo Ambrósio.

Mesmo antes da conversão, Agostinho buscava na filosofia encontrar a verdade. Após a conversão, compreendeu que a verdade era Cristo e, através de seus conhecimentos filosóficos, buscou fundamentar a fé cristã em bases filosóficas. Ele foi fortemente influenciado pelo neoplatonismo, o que marcou muito teoria filosófica.

Em certo momento de sua vida, foi nomeado bispo da cidade de Hipona, servindo, assim, tanto como pastor dessa comunidade como também teólogo da igreja cristã.

Para saber mais da vida de Santo Agostinho, recomendo: Santo Agostinho Descomplicado: Biografia e Filosofia.

Homo Totus Descomplicado: Ser Humano como Criatura Superior de Deus

Baseando-se na fé cristã, Agostinho acolherá que o ser humano é uma criatura de Deus. Porém, nós não somos uma criatura qualquer porque fomos feitos a imagem e semelhança de Deus.

Agostinho distingue que entre os seres criados por Deus existem:

Os que têm existência, mas não tem vida;

Os que têm existência e vida, mas não tem inteligência; e

Os que têm existência, vida e inteligência: que somos nós.

Essa particularidade nos faz superior a todas as demais criaturas, mas ainda inferiores a Deus, que é o Criador. Tudo em nós vem de Deus, e o inferior não pode ser maior que o superior.

O fato de sermos imagem e semelhança de Deus nos traz não só a inteligência, mas também o livre-arbítrio: que é a nossa capacidade de escolher agir.

Homo Totus Descomplicado: Relação Corpo e Alma

Assim como em Platão, Agostinho também dirá que o ser humano possui corpo e alma, ou seja, uma parte material e uma parte espiritual.

Ainda em consonância com suas fontes platônicas, Agostinho defenderá uma superioridade da alma sobre o corpo. Porém, diferentemente dos neoplatônicos, Agostinho não desconsiderará o corpo, como se ele fosse o cárcere da alma. Ao contrário, defenderá que o ser humano é uma totalidade (homo totus), uma união necessária (e não acidental) entre corpo e alma.

Para Agostinho, Deus quis que o ser humano fosse feito da união de corpo e alma. Por isso, não faz sentido considerar que apenas a alma é importante, desprezando-se o corpo. Dessa forma, a natureza ontológica do ser humano querida por Deus é essa união: “está na natureza da alma unir-se com o corpo, assim como na natureza do corpo unir-se com a alma, pois foram assim ontologicamente designados pelo Criador para viver em unidade” (SILVA, 178).

Porém, isso não nega que apenas a alma possui a razão. Sendo assim, ela é a responsável por governar o corpo e possui, em certo sentido, mais valor que o corpo. Contudo, como ficou claro até aqui, possuir mais valor não significa dizer que não exista valor no corpo. Com isso, o corpo ainda possui muito valor porque, seguindo o pensamento de Paulo de Tarso, Agostinho verá o corpo como morada da alma.

Sem um corpo, a alma humana não pode agir no mundo. Logo, o corpo é fundamental para que alma possa realizar suas funções.

Homo Totus Descomplicado: Tudo o que é Criado por Deus é um Bem

Na tradição platônica, o corpo era visto como fonte do erro e da corrupção; mas Agostinho irá desmentir isso. O fato do Verbo ter-se feito carne, ou seja, de Deus ter vindo à terra na forma de um homem com um corpo já seria uma prova do valor do corpo humano para a criação.

Segundo o padre da igreja, o corpo sem alma nada pode fazer, ele apenas sente as sensações do mundo. Dessa forma, é a alma que guia o corpo para caminhos errados quando ela está corrompida pelo pecado. O ser humano peca pela vontade corrompida da alma, e não do corpo. Sendo assim, o corpo não é, como defendiam os platônicos, um problema para a alma alcançar a verdade e o bem.

Além disso, tudo o que Deus criou é um bem e, por esse motivo, teria um propósito nobre. Os prazeres que o corpo sente são bons, mesmo que em menor medida. Por isso, não podem ser considerados ruins. O problema não está nos prazeres que o corpo sente, e sim na inclinação que algumas pessoas têm de viverem suas vidas em prol desses prazeres, desprezando o prazer melhor que é estar na presença de Deus. Dessa forma, “a negatividade não se encontra nos bens em si mesmo, mas na má vontade do homem ao faz mal-uso desses bens” (SILVA, 176).

Do mesmo modo, a alma, ainda que maculada pelo pecado, nunca perderá sua dignidade e valor pois nunca deixará de ser algo criado por Deus.

Homo Totus Descomplicado: Corpo, Alma e Espírito

Em vários momentos, Agostinho dirá que o ser humano total é formado de corpo, alma e espírito. Agostinho faz essa distinção entre alma e espírito para justificar a diferença entre os seres vivos inteligentes (os seres humanos) e os não inteligentes (demais seres vivos).

Alma se referiria àquilo que dá ânimo, que dá vida. Já espírito seria a parte racional e espiritual que o ser humano tem, que lhe daria inteligência e o ligaria a Deus.

Contudo, em outros momentos, o termo espírito virá como um atributo da alma. E a união do ser humano se dará entre um corpo e uma alma, que possui espírito.

Sendo assim, é válido dizer que o ser humano é uma união de corpo e alma. Apenas temos que compreender que essa alma humana é diferente do sopro de vida que habita os demais seres vivos.

Homo Totus Descomplicado: Conclusão

Vemos, nesse artigo, que Santo Agostinho compreenderá o ser humano como um ser total, dotado de um corpo e de uma alma racional. Sem essas duas naturezas, o ser humano estaria incompleto porque Deus queria essa união dessa forma que é. 

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Até a próxima tenham uma boa viagem!

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Referências

SANTO AGOSTINHO. O Livre Arbítrio. Editora Paulus (Coleção Patrística).

SANTOS, Wesley Pires dos. A concepção de homem em Agostinho. Blog Emporium. Disponível em https://famariana.edu.br/blog/2017/10/03/a-concepcao-de-homem-em-agostinho/. Acessado em 11 dez. 2021.

SILVA, Nilo César B. Antropologia de Agostinho de Hipona, fortitudo corporis na hierarquia dos bens criados. Revista Dissertatio. Disponível em https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/dissertatio/article/view/9287. Acessado em 11 dez. 2021.

 

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.