Filosofia do Cinema Descomplicada: Estética de Gilles Deleuze

Filosofia do Cinema Descomplicada: Filosofia da Arte de Gilles Deleuze

Olá, marujos! Hoje, explicaremos uma filosofia do cinema de forma descomplicada segundo o pensamento de Gilles Deleuze. Após breve apresentação do filósofo e uma advertência sobre seu estilo filosófico, iremos explicar quais foram os pressupostos para a origem do cinema e o que é o cinema para ele. Esse será o primeiro de três artigos sobre o tema. Vamos lá!

Sobre o Filósofo

Gilles Deleuze nasceu em Paris, França em 18 de Janeiro de 1925. Estudou filosofia e foi professor de filosofia em diversas universidades francesas. Publicou diversos livros com teorias próprias e comentários à filósofos e outras personalidades. Também lutou por causas sociais, especialmente os direitos dos homossexuais e a libertação da Palestina. Foi acometido por uma doença pulmonar em 1968 que foi piorando com o tempo. Em 1995, a doença lhe obrigou a ficar recluso e lhe impediu de continuar escrevendo. Não aguentando essa situação, Deleuze se suicidou em 4 de novembro de 1995.

Filosofia do Cinema Descomplicada: Advertências Prévias

Deleuze é conhecido por tecer comentários ao pensamento de outros filósofos e autores de forma parcial, praticamente se apropriando das teorias desenvolvidas previamente para criar novos conceitos, conceitos próprios. Dessa forma, quando Deleuze diz que tal filósofo ou cineasta quis dizer algo, precisamos desconfiar se realmente o tal filósofo ou cineasta tinha esse pensamento ou se é Deleuze interpretando um pensamento alheio do seu modo, criando uma interpretação própria.

Mesmo que possa parecer, essa atitude não seria errada do ponto de vista filosófico para Deleuze. Se lembrarmos aquilo que ele defende como o fazer filosófico, todo filósofo tem essa obrigação de criar conceitos novos a partir do que já foi dito. Logo, aquilo que Deleuze faz em seus livros está de acordo com sua visão filosófica.

Os livros que Deleuze escreveu sobre Cinema (Cinema 1: a imagem-movimento e Cinema 2: a imagem-tempo) não são livros sobre a história do cinema ou comentários técnicos sobre a arte do cinema, apesar de, por necessidade, Deleuze abordar questões históricas ou técnicas do cinema.

Deleuze se propõe a extrair conceitos das imagens cinematográficas produzidas por vários diretores de cinema ao longo do tempo, tentando compreender o que o cinema faz de único. Ou seja, ele olha para aquilo que foi produzido e, de acordo com essa produção, ele cria conceitos para mostrar a capacidade que o cinema tem de fazer pensar através de imagens.

Filosofia do Cinema Descomplicada: O Cinema

Pressupostos para a Origem do Cinema

O Cinema é uma arte contemporânea. Para ele existir, foi necessário que uma certa tecnologia existisse antes e que essa tecnologia fosse usada de uma tal forma combinada. Deleuze elenca cinco pré-requisitos (ou condições) que permitiram e possibilitaram o surgimento do Cinema:

  1. A fotografia em si: sem a fotografia, não teria como registrar os vários momentos que serão transformados em um filme;
  2. A fotografia espontânea: diferentemente de uma fotografia normal, em que as pessoas posam para o fotógrafo; a fotografia do cinema é espontânea, ou seja, as coisas vão acontecendo (naturalmente ou ensaiadas) e o cineasta vai registrando esses acontecimentos;
  3. As diversas fotos espontâneas tiradas são colocadas uma ao lado da outra de forma equidistante, ou seja, com uma distância igual entre cada foto para que não quebrar a continuidade do momento registrado;
  4. Película: o negativo dessas várias fotos equidistantes precisa ser transformado em película, que é uma longa fita a qual suporta todas essas fotos;
  5. Mecanismo de arrasto: por fim, existe o mecanismo que projeta o filme, passando essa película em uma certa velocidade fixa, gerando o famoso efeito de movimento.

Na imagem abaixo, você verá várias fotos de um homem que tira o seu chapéu. Essas fotos possuem o mesmo tamanho e estão milimetricamente posicionadas em uma fita que será reproduzida em um projetor.

Filosofia do Cinema Descomplicada: Homem de Chapéu

No cinema, já fomos de 20 fotos (ou quadros) por segundo até 60 quadros por segundo.

Definição de Cinema

Deleuze define Cinema como: “sistema que produz o movimento em função do instante qualquer”. Explicando:

O fotograma (nome dado para cada uma das fotos captadas) sozinho pertence à arte da fotografia. O diferencial do cinema é o movimento que a combinação dos cinco pré-requisitos consegue gerar ao passar em velocidade uma certa quantidade de fotogramas.

O intervalo entre cada fotograma é o material em si do cinema porque é essa passagem rápida entre um fotograma e outro que faz o cinema ser único. O que encanta o espectador do cinema é exatamente essa possibilidade de ver várias imagens passadas diante de si em tal velocidade que ele as vê se movimentando.

A questão do instante qualquer também é de suma importância porque, como foi dito, o cineasta vai registrando aquilo que está acontecendo diante da câmera. Se pensarmos em um registro de uma luta de boxe, os lutadores não vão lutar congelando segundo a segundo para serem captados pela câmera. Eles irão lutar normalmente enquanto que a câmera registrará freneticamente cada milésimo de segundo de diferentes ângulos e distâncias.

Esquematização do Cinema

Podemos dizer que existem três níveis que compõe o cinema: quadro, plano e montagem.

Quadro: também chamado de enquadramento. É um conjunto relativamente fechado, em que estão posicionados o cenário, os objetos e os personagens que participarão da cena. O quadro é a “visão” da câmera, o que ela escolheu mostrar e o ângulo que escolheu mostrar. Exemplo: um ringue de boxe, com dois lutadores prontos para começar a luta.

Filosofia do Cinema Descomplicada: Estética de Gilles Deleuze

Plano: são as mudanças e transformações que ocorrem dentro do quadro que está sendo captado. Exemplo: a luta em si, com os movimentos de braços e pernas, as deformações do rosto, as expressões dos lutadores ao darem e receberem os golpes.

Montagem: é a coleção de todos os planos captados pelo cineasta, colocados lado a lado. Na montagem, o cineasta escolhe o que fica e o que sai daquilo que foi capturado pela câmera. Ele escolhe quanto tempo vai durar cada plano, ele escolhe a ordem em que vai mostrar cada plano. É pela montagem que compreendemos o todo do filme. Exemplo: Rocky, um Lutador (1976).

Observação

Por mais que associemos o termo “cinema” a um local específico em que um filme é projetado em uma tela enorme para várias pessoas, a arte chamada “cinema” não se limita a isso.

Dessa forma, podemos entender como cinema séries e filmes feitos diretamente para TV / streaming. Nesses casos, ainda temos todo o trabalho de preparação de quadro, plano e montagem.

Por outro lado, um vídeo que você grava de um show e repassa tal como foi gravado não é cinema.

Filosofia do Cinema Descomplicada: Conclusão

Nesse texto, você pode compreender o que Deleuze considerou como aquilo que se fez necessário para o surgimento do cinema e o que faz o cinema ser considerado uma arte original. Nos próximos dois artigos, serão apresentados seus principais conceitos sobre a imagem-movimento (própria do cinema clássico) e imagem-tempo (própria do cinema moderno).

E aí? Gostou dessa explicação descomplicada sobre uma Filosofia do Cinema? Compartilha! Quer um artigo descomplicado sobre outra teoria do cinema? Entra em contato comigo dizendo qual gostaria de ver aqui! Alguma parte ficou confusa ou gostaria de complementar a explicação? Comenta!

Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Referências

ALVES, Francisco Fabrício da Cunha. A imagem-movimento deleuzeana e seus desdobramentos. In: Polymatheia – Revista de Filosofia. Fortaleza: Universidade Estadual do Ceará, v. 14 n. 25 (2021): Jul./Dez. 2021.

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.