Ensinando Sócrates através de Teatro Improvisado

Ensinando Sócrates através de Teatro Improvisado

Olá, marujos! Hoje, mostrarei como vocês podem estar ensinando a história de Sócrates através de um teatro improvisado. A vida de Sócrates é muito interessante e importante para a história da filosofia e para a própria compreensão do filósofo. Por isso, contar a história de Sócrates é a melhor forma para ensiná-lo. A proposta é que os próprios alunos contem essa história através de um teatro improvisado. Vou explicar como fazê-lo. Vamos lá!

Ensinando Sócrates através de Teatro Improvisado: Sobre a História de Sócrates

Podemos dividir a história de Sócrates em três momentos:

1º. Chamado: é o momento em que Sócrates vai até o Oráculo de Delfos e descobre que é o “mais sábio de todos os homens”;

2º. Missão: é o momento em que Sócrates resolve sair pela cidade questionando os que se diziam sábios para provar que oráculo estava errado e acaba constatando que o oráculo estava certo;

3º. Julgamento, Condenação e Morte: é o momento em que Sócrates é julgado e condenado à morte por seus “crimes”.

Para saber mais sobre a história de Sócrates, recomendo a leitura do texto: Sócrates Descomplicado: Biografia e Filosofia.

Ensinando Sócrates através de Teatro Improvisado: Fazendo as Peças

Como pudemos perceber, é possível dividir a história de Sócrates em três momentos. Por isso, minha proposta é que sejam criadas três peças.

A divisão em três peças é interessante porque podemos dividir a turma em três grupos. Assim, todos ficam ocupados e não precisam decorar muitas falas. No final, torna tudo mais dinâmico e prático.

Eu falei três peças e não três cenas porque cada grupo poderá criar mais de uma cena para cada uma das peças/momentos da vida de Sócrates.

Como é um teatro improvisado e espera-se usar a criatividade dos alunos, não pensei em falas prontas. A ideia é dar um texto com o acontecimento e os alunos criarão as cenas baseando-se nisso.

O professor auxiliará os grupos, esclarecendo dúvidas das histórias e garantindo que aquilo que os alunos farão está de acordo com o que é esperado.

As Três Peças

Os textos basilares para cada peça serão:

1º. “A vida filosófica pública de Sócrates começou depois de sua visita ao Oráculo de Delfos. Esse termo se refere à sacerdotisa (também conhecida como Pítia ou Pitonisa) do templo de Apolo da cidade de Delfos. A sacerdotisa haveria dito que Sócrates era “o mais sábio de todos os homens”. Essa afirmação incomodou Sócrates pois ele não se considerava um sábio, mas alguém que sempre estava em busca da sabedoria”.

2º. “Sócrates parte pela cidade interrogando algumas pessoas consideradas sábias para provar que existiam pessoas mais sábias do que ele. Contudo, isso lhe trouxe uma constatação e muitos problemas.

A constatação foi que as pessoas que diziam muito saber, nada sabiam. Elas achavam que sabiam, mas quando eram questionadas, interrogadas, exigidas em esclarecer suas ideias, acabavam falhando ou se contradizendo. Surge dessa constatação uma de suas famosas frases: “Só sei que nada sei”. Sócrates era humilde o suficiente para admitir que não sabia tudo e que nunca poderia atingir esse nível de conhecimento.

Os debates de Sócrates acabavam expondo ao ridículo pessoas famosas, com prestígio e poder, que eram honradas na cidade como sábios. Não era apenas a vergonha em ficar sem palavras para debater com Sócrates, mas o filósofo também gostava de utilizar provocações e sarcasmos com seus adversários. Isso fez com que Sócrates começasse a ser odiado por um grupo importante da cidade de Atenas.

Sócrates era uma figura pública, muito conhecida e respeitada pelos cidadãos atenienses (tirando, óbvio, aqueles que ele criticou ou envergonhou). Ele não fundou nenhuma escola de filosofia, mas tinha muitos seguidores, que o acompanhavam nos seus debates, que geralmente aconteciam na praça pública da cidade. Entre seus seguidores, a maioria eram jovens cidadãos que aprendiam com ele essa nova forma de pensar, que se preocupa mais em perguntar e questionar do que ter as respostas”.

3º. “Em certo momento, Sócrates estava incomodando demais. Isso provocou uma falsa acusação no tribunal ateniense. Supostamente, Sócrates estava cometendo três crimes: 1. Não acreditar nos costumes e nos deuses gregos; 2. Crer e pregar novos deuses; 3. Corromper a juventude com suas ideias. Para esses crimes, a pena pedida foi a morte. No julgamento, Sócrates buscou se defender a atacou cada uma das acusações, mostrando que eram infundadas e que tudo aquilo não passava de retaliação ao seu trabalho filosófico.

O poder dos acusadores era muito forte e mesmo tendo argumentado bem, foi considerado culpado. A pena a ele imposta não foi a morte, mas o exílio. Entretanto, Sócrates se recusou a ir embora de Atenas. Segundo ele, aceitar essa pena seria admitir que era culpado. Isso fez sua pena ser convertida em pena de morte.

Sócrates foi incentivado à fugir, mas ele também se recusou. Argumentou que, enquanto livre, viveu sobre as leis de Atenas, beneficiando-se dela. Por isso, não seria justo fugir quando agora a mesma lei o iria prejudicar. Também se posicionou dizendo que teve chances de mudar a lei quando era cidadão, e se não conseguiu fazer isso no momento certo, não justificaria transgredi-las agora. Enfim, Sócrates sofreu a pena de morte, tomando um veneno chamado cicuta”.

Como podem ver, a primeira peça é bem curta e, por isso, devem ser colocados poucos alunos nela (de 2-5 está ótimo). Os demais se distribuem nas demais peças.

Figurino e Cenário

Se der tempo de avisar previamente, o professor pode pedir para os alunos trazerem lençóis de casa para fazer togas improvisadas. Segue um vídeo que ensina duas maneiras de fazê-las:

Já a questão dos cenários é mais complicada. Uma solução simples é criar um quarto grupo, o dos desenhistas, para juntos fazerem um desenho no quadro que remeta à Grécia antiga. Por exemplo, criando uma imagem da Acrópole de Atenas ou algo que lembre isso. Enquanto os demais alunos vão ensaiando suas falas, os desenhistas vão criando o desenho.

Execução

Após tudo estar pronto, é hora da ação!

O professor chama cada grupo por vez, na ordem dos acontecimentos.

Cada grupo apresenta para os demais grupos, dando a chance de todos conhecerem a história pública de Sócrates (porque cada aluno encenará um momento e verá os outros dois).

Tempo e Pontuação

Eu pensei na organização abaixo considerando dois tempos de aula seguidos:

Preparação: pensei em dar um tempo de aula para eles, incluindo a explicação da proposta, a criação e ensaio das falas e amarração das togas. Enquanto isso, os desenhistas vão preparando a imagem no quadro.

Apresentações: as apresentações deverão ser breves naturalmente porque os alunos dificilmente criarão algo com mais de 10 minutos no semi-improviso. Dessa forma, considerando atuação e deslocamentos, acredito que todas as apresentações ocorrerão em torno de uns 30 a 40 minutos.

Conclusão: se tudo der certo, o professor ainda terá uns 10 minutos para concluir a aula.

Como imprevistos acontecem, recomendo fortemente que  o professor negocie previamente um terceiro tempo de aula com quem vem antes ou depois dele para garantir que dê tempo para tudo.

Se o professor só tem um tempo semanal com a turma, ele pode dividir tudo em dois momentos: em uma semana, ele passa a proposta e os alunos ensaiam; na outra semana, eles apresentam. Já para o cenário, o professor pode levar papel 40kg ou papel pardo para os desenhistas trabalharem nele e só colocar no quadro no dia. Se as coisas se enrolarem, ele usa uma terceira semana para concluir tudo.

Como essa é uma atividade ligeiramente complexa, é interessante colocá-la como uma das avaliações bimestrais, valendo de 2,0 a 3,0 pontos.

Ensinando Sócrates através de Teatro Improvisado: Relacionando as Peças com a Matéria

Bom, a peça contando a história de Sócrates já torna as coisas um pouco óbvias sobre a relação da atividade com a matéria. Porém, é importante que o professor fique atento para, no final, complementar alguma parte na história que faltou ou ficou mal explicada e que você acha importante.

Uma questão crucial é que dificilmente a peça conseguirá trabalhar bem o método socrático porque uma peça que explique bem o processo da ironia, da maiêutica e da aporia exige mais tempo e dedicação. Por isso, é interessante que o professor explique isso no final, dizendo que era esse o método que Sócrates utilizava nos seus debates públicos.

O professor pode dar um exemplo hipotético de debate, pode citar um dos presentes nos diálogos socráticos ou usar um desses vídeos curtos para facilitar:

Ensinando Sócrates através de Teatro Improvisado: Interdisciplinaridade

Essa aula pode ser dada junto com o professor de Artes.

O professor de artes pode auxiliar os alunos nos ensaios, em métodos para elaborar e decorar as falas ou dicas de atuação.

Ele pode até usar a atividade como pretexto para explicar a história do teatro em uma aula própria dele.

Ensinando Sócrates através de Teatro Improvisado: Conclusão

Fazer um teatro com alunos nunca é coisa fácil. Um teatro improvisado com certeza será um desafio a mais. Porém, acredito que a experiência valha a pena se tivermos consciência que a execução da atividade estará de acordo com o pouco tempo disponível. De qualquer forma, a maior intenção não é formar atores, mas ajudar os alunos a conhecerem a história de Sócrates de uma forma divertida e desafiadora.

E aí? Alguma parte ficou confusa? Deixa sua dúvida nos comentários! Conhece algum professor de filosofia? Compartilha esse artigo com ele! Quer sugerir outros conteúdos para receberem uma aula diferenciada? Entra em contato comigo!

Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.