Ensinando Metafísica Pré-socrática através de Debate

Ensinando Metafísica Pré-socrática através de Debate

Olá, marujos! Hoje, mostrarei como vocês podem estar ensinando a metafísica pré-socrática de Parmênides e Heráclito através de um debate entre os alunos. Essas duas teorias filosóficas são as precursoras dos problemas metafísicos e, por serem opostas, fazem com que reflitamos bastante sobre quem estaria “certo” ou “errado”. Os alunos, ao tomarem posições e defenderem seus argumentos, também terão a oportunidade de ouvirem o outro lado e perceberem que, no final, todas fazem sentido. Vamos lá!

Relembrando o Conceito

Tanto Parmênides quanto Heráclito são filósofos pré-socráticos, os quais buscavam de forma lógico-racional explicar a origem e o funcionamento do universo.

Porém, a história os colocou como “adversários” porque eles defenderam posições contrárias (talvez até contraditórias) sobre o que seria o ser último do universo.

Parmênides é considerado o defensor de um monismo imobilista, estático. Para ele, o Ser do universo é único e imutável. Sua famosa frase é “o ser é, o não-ser não é”. Segundo o filósofo, se houvesse movimento, o ser deixaria de ser o que é e passaria a ser outra coisa. Sendo assim, nada muda na realidade última, essencial. Aquilo que consideramos como mudança é algo apenas aparente, fictício, exterior.

Heráclito, por outro lado, é considerado o defensor de um monismo mobilista, fluido. Para ele, o Ser do universo é único e em constate movimento. Suas famosas frase são “tudo flui” e “ninguém cruza duas vezes o mesmo rio”. Segundo o filósofo, o movimento está na essência do ser, que está constantemente mudando de estado, forma, aparência ou características. O Ser está em um constante Devir, um Vir-a-ser porque nunca está parado, está sempre se transformando. O estático seria apenas aparência porque nada está parado.

Ensinando Metafísica Pré-socrática através de Debate: Os Debates

Apresentação

A ideia é fazer a turma debater as visões metafísicas opostas de Parmênides e Heráclito através de várias provocações.

Essas provocações poderão ser frases ou exemplos da realidade que farão os alunos refletirem sobre a interpretação do mundo pela visão desses filósofos.

Temas para Debate

Segue abaixo várias provocações que o professor poderá fazer em aula:

  1. “Ou uma coisa é, ou não é”
  2. “Ninguém passa duas vezes pelo mesmo rio”
  3. A luz existe? E o escuro? O calor existe? E o frio? E se o que existisse fosse, na  verdade, a luminosidade e a temperatura?
  4. Você é a mesma pessoa em aparência e personalidade de quando era criança? Se você mudou tanto, o que “sobrou” de você do passado? Você ainda é você?
  5. Esse objeto (caneta, apagador ou qualquer coisa que você esteja segurando) está parado ou em movimento?

Debatendo

Não existe um padrão de comportamento para esses debates. Não é para ser algo estruturado e engessado, mas fluido.

O professor deve analisar o andamento das discussões para cada provocação e ir “dando corda” nos temas que os alunos engajarem ou passar para o próximo tema se sentir que os alunos já não estão participando ativamente, para que a turma não disperse.

Ensinando Metafísica Pré-socrática através de Debate: Relacionando o Debate com a Matéria

Vou colocar abaixo como relacionar cada um dos temas que propus com a matéria a ser explicada:

a) Essa é uma frase que adapta a frase clássica de Parmênides “O ser é e o não ser não é” para uma linguagem mais palatável aos alunos. A ideia é questionar a existência ou inexistência de algo. E, após considerar sua existência, questionar se, caso sofra uma mudança, ela ainda será aquela coisa ou deixará de ser aquela coisa. Use exemplos: se um copo quebra e eu tenho todos os cacos, ainda é o copo? E se eu colo todos os cacos, ainda é o mesmo copo ou é outro copo?

b) Essa é uma frase adaptada da passagem de Heráclito “Ninguém pode entrar duas vezes no mesmo rio, pois quando nele se entra novamente, não se encontra as mesmas águas, e o próprio ser já se modificou“. A ideia é questionar os alunos sobre o constante movimento e transformação das coisas. Reflita com eles sobre o fato das águas correrem e aquela água em si na primeira passagem já não será a mesma na segunda passagem. Reflita o fato da própria pessoa não ser a mesma porque aquela que passa a segunda vez já tem outras experiências e vivências (nem que seja só o fato de ter passado uma vez antes no rio).

c) Após questionar se a luz existe e a maioria concordar, pergunte se a escuridão existe. Nessa hora, os alunos começarão a “bugar”. Alguns dirão que sim, outros que não. Dê um exemplo prático do tipo: olhem para a lâmpada ligada, está com luz aqui no ambiente; quando eu apago a luz, o escuro (como um ser) entra na sala e ocupa o lugar ou é apenas a luz (como um ser) que deixa a sala? Faça o mesmo questionamento usando o calor e o frio. Essa ideia da existência de um e inexistência do outro confirmaria a tese de Parmênides.

Depois dos debates, sugira a existência da luminosidade e da temperatura como seres. E os binômios luz-escuro e calor-frio seriam os extremos opostos desses seres, que hora tendem para um lado e hora tendem para outro. A comparação seria com uma moeda, que possui o lado da cara e da coroa como espectros do ser da moeda. Essa proposta se alinharia com a teoria de Heráclito.

d) Questione se os alunos ainda são os mesmos quando crianças, seja em aparência ou no pensamento, e com certeza eles dirão que não. Daí, pergunte o que sobrou atualmente daquela criança se tudo mudou, até as células. Provavelmente, dirão que nada. Então afirme, de forma jocosa, que eles não são mais os filhos de seus pais já que aquela criança do passado, das fotos, não existiria mais… Obviamente, isso é uma brincadeira para levantar essa dicotomia entre mudar e ainda ser o mesmo. Explique para eles que é daí que surge a noção de essência (aquilo que permanece quanto o resto todo muda) que será trabalhado depois.

e) Após mostrar o objeto e deixar os alunos debaterem, diga que o objeto se encontra em ambos os estados ao mesmo tempo. Por um lado, se considerarmos o objeto como um todo, ele está parado. Porém, se analisássemos seus átomos, veríamos que os elétrons deles estão em movimento. Por causa disso, poderíamos dizer que essencialmente o objeto está em movimento, mas na aparência ele está parado.

Ensinando Metafísica Pré-socrática através de Debate: Interdisciplinaridade

Essa aula poderia ser dada junto com um professor de ciências naturais.

Nos questionamentos C, D e E, o professor de ciências naturais pode apresentar a visão científica por trás do que é a luz e o escuro; o calor e o frio; as evidências científicas que provam que uma pessoa é aquela pessoa; e o como a ciência explica o funcionamento dos átomos e como eles formam as substâncias.

É sempre bom lembrar que a filosofia antecedeu a ciência moderna e serviu como base para ela. Mas a filosofia é teoria especulativa, sem comprovação prática.

Ensinando Metafísica Pré-socrática através de Debate: Conclusão

Essa é uma daquelas aulas que vai levantar bastante polêmica entre os alunos porque são temas complexos de se responder e que apresentam respostas controversas ou contraditórias. Como os alunos gostam de uma “discussão”, eles irão adorar tentar defender suas opiniões e serem surpreendidos com visões contrárias que poderão “quebrar” seus argumentos. Por fim, já adianto que é muito comum alguns alunos brincarem dizendo que chegarão em casa falando que “o professor de filosofia disse que não sou seu filho!”.

E aí? Alguma parte ficou confusa? Deixa sua dúvida nos comentários! Conhece algum professor de filosofia? Compartilha esse artigo com ele! Quer sugerir outros conteúdos de metafísica para receberem uma aula diferenciada? Entra em contato comigo!

Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.