Colar na Prova: entendendo esse problema

Olá, marujos! Hoje vou falar de um dos temas que mais chateiam o professor: colar na prova. Vamos discutir aqui alguns motivos que levam o aluno a fazer isso e quais as consequências desse ato, tanto para o aluno, quanto professor e para a sociedade. Já adianto que não sou santo e já colei algumas vezes, mas isso não quer dizer que me orgulho do que fiz. 

Colar na Prova: o que é?

Eu sei que parece desnecessário explicar o que é isso, mas se pretendo analisar o fato, é preciso deixar claro o que entendo por colar na prova. Isso serve inclusive para delimitar o debate que possa surgir nos comentários. 

Bom, entendo como colar na prova o processo em que o aluno deliberadamente consulta a possível resposta em um meio que não lhe é permitido ou remarca sua resposta caso receba-a de algo ou alguém. Ou seja, se a prova é individual e sem nenhum tipo de consulta, está errado perguntar para o colega ou olhar no livro. Se a prova é em dupla e com consulta ao livro, está errado perguntar para outra dupla ou olhar na Internet. Também considero cola se o aluno recebeu ou viu sem querer uma resposta e altera aquela que ele tinha dado. Mas não considero cola se ele recebeu a dica e não tinha feito ainda a questão (porque será impossível, na minha opinião, resolver a questão de forma imparcial caso já tenha a dica da resposta).

Colar na Prova: porque um aluno faz isso?

Pela minha experiência de aluno e professor, existem alguns argumentos que levam o aluno a cometer essa infração. São eles: malandragem, desespero e falta de opção.

Malandragem

Quando o aluno não presta atenção na matéria, ou falta e não tenta recuperar o conteúdo perdido, não estuda para a avaliação etc. Todos os motivos que mostram o desinteresse do aluno em adquirir o conteúdo e buscar a forma mais fácil de cumprir com a obrigação. Esse costuma ser o principal motivo da cola na prova. O aluno despreparado não quer assumir o erro e tenta burlar a regra e conseguir a resposta e consequentemente a nota sem ter feito o esforço necessário para isso.

Desespero

Quando o aluno se esforçou para aprender a matéria e não conseguiu ou teve algum imprevisto que impossibilitou estudar para a matéria, e essa nota é crucial para seu quadro escolar. Normalmente isso acontece com bons alunos que precisam mostrar resultado (seja em casa, seja para a escola etc.) e como não domina o conteúdo, se desespera. Acaba recorrendo à cola para evitar a vergonha da nota, assumindo o ato como um atestado de fracasso. Também acontece com alunos fracos em algum conteúdo, que tem dificuldade de aprender e como não consegue dominar o conteúdo para a prova, recorre à cola para garantir a nota mínima.

Falta de opção

Esse é o caso mais raro, mas possível. Acontece normalmente quando o professor cobra na avaliação um conteúdo que não explicou ou cobra de um forma que não explicou. Nesses casos, normalmente, o professor já é famoso entre os alunos por fazer isso. Logo, todos os alunos costumam considerar a cola como o único meio viável para conseguir a nota. Já que o professor não costuma admitir que age desse jeito.

Colar na Prova: consequências

Aluno

Quando é questão de malandragem, ele não se importará com o ato, mas sairá daquele conteúdo sem dominá-lo minimamente. Se lhe for exigido em um futuro, provavelmente falhará e nem saberá como encontrar a resposta. Quando é desespero, ele se sentirá culpado do que fez por algum tempo (pode ser dias ou anos, depende da pessoa). Aquela nota nunca será verdadeiramente dele e ele sempre se sentirá inseguro se precisar daquele conteúdo, mesmo que ele o saiba minimamente ou onde buscar a resposta. Se for por falta de opção, normalmente não acontece nada ao aluno, no máximo raiva do professor.

Professor

Quando é questão de malandragem, ele ficará extremamente irritado e chateado. A cola é uma afronta e uma traição para o professor. Esse tipo de cola frustra o professor que se esforçou para dar o conteúdo e tentou chamar os alunos para prestar atenção. Além disso, quebra a confiança do professor com o aluno. Quando a cola é pelo desespero, normalmente o professor fica chateado pela situação, mas releva o fato. Ele interpreta que foi um caso isolado e tenta ajudar o aluno para que não precise fazer isso em uma próxima vez. Quando a cola é por falta de opção, geralmente o professor nem percebe, e se percebe ignora. Se ele foi capaz de “enganar” o aluno cobrando algo que não deu, ele não se importa de ser “enganado” também.

Só para deixar claro, estou citando aqui o que se passa no professor quando ele percebe a cola. Sua reação pessoal não significa necessariamente a sua reação administrativa. Dependendo de cada instituição, mesmo ele querendo punir o aluno, não conseguirá de modo eficaz e por isso nem tenta. Ou, mesmo sem querer fazer isto, ele irá entregar o caso para os superiores punirem o infrator (para que o professor mesmo não seja prejudicado).

Sociedade

A sociedade coloca a responsabilidade da escolarização nas mãos dos professores. Logo, ela acredita que quem se forma ou passa em uma matéria, tem razoavelmente aquele conteúdo. Quando um aluno consegue seu diploma através de cola, ele coloca a sociedade em que vive em risco, porque ele finge saber algo que não sabe.

Nesse cenário, acontecerão duas possibilidades: ou o formado terá que aprender “na marra” aquele conteúdo colado para conseguir uma profissão ou se manter nela, ou o formado continuará enganando o sistema até não poder mais ou fazer alguma coisa errada e ser descoberto. Em ambos os casos, isso é ruim: ou vai custar mais tempo para aprender algo que já se deveria saber, ou vai causar um problema na sociedade (seja em menor ou maior escala).

Colar na prova: possíveis soluções

Cola por malandragem

Aluno: aprender a se dedicar mais, vislumbrar a responsabilidade dele ao fazer tal ato; assumir seus erros (aceitando errar a questão). Pais: acompanhar mais de perto os filhos para saber se estão se dedicando à escola e se preparando para as provas; acreditar no professor / escola quando lhe é dito como o filho se comporta e o como age na escola; conversar e/ou castigar o filho caso seja avisado da cola. Professor: tentar estimular o aluno a prestar atenção nas aulas; lembrar da prova nas vésperas; alertar a escola dos alunos que estão desinteressados e são potenciais problemas. Escola: dar suporte, credibilidade e proteção ao professor que denuncia a cola; desenvolver um trabalho com o aluno em conjunto com os pais, para mudar esse comportamento; criar uma escala de punição para esses casos. Sociedade: parar de alimentar o pensamento de “malandragem do brasileiro”, de que “tem que tirar vantagem em tudo”; parar de fazer distinção entre grandes e pequenos delitos, como se os grandes justificassem os pequenos atos infracionais.

Cola por desespero

Aluno: dialogar com quem está cobrando resultados excepcionais para minimizar essa cobrança; conversar com o professor sobre essa cobrança excessiva e sua dificuldade na matéria (para que ele entenda a situação e ajude). Pais: rever a forma como cobram seus filhos, para que eles não se tornem pessoas ruins ou doentes devido ao excesso de cobrança; acompanhar o estudo do filho e ajudá-lo se ele estiver com dificuldades de aprendizagem. Professor: tentar perceber esses casos e ajudar o aluno antes que a cola aconteça; levar para a instituição o problema; tentar ajudar o aluno fazendo uma avaliação de mesmo nível mas com outra abordagem. Escola: proteger e dialogar com o aluno para entender o que se passa e buscar soluções; rever a forma de avaliação da instituição. Sociedade: trabalhar melhor o conceito de competitividade / meritocracia, para que seja algo saudável; dar chances ao fracasso e à falha, mostrando que são características inerentes à vida e evolução de qualquer coisa.

Cola por falta de opção

Aluno: tentar dialogar com o professor as diferenças entre aula e avaliação; levar para a instituição o problema. Pais: acreditar e apoiar o filho no seu relato; ir até a instituição para entender o problema e buscar solução. Professor: rever seus métodos de ensino e critério de avaliação; fazer uma autocrítica do seu trabalho; desenvolver humildade e admitir seu erro. Escola: dar credibilidade ao aluno; exigir do professor uma postura profissional; punir o professor que faça isso de forma deliberada e não aceite mudar. Sociedade: trabalhar melhor os sentimentos de humildade e o exercício da autocrítica como formas de engrandecimento profissional; entender que qualquer pessoa pode errar e dar uma nova chance.

Colar na Prova: Conclusão

Colar na prova nunca será a melhor solução. Se ela acontece, algum problema existe e isso fará mal para todos, da sala de aula até a sociedade. É preciso que cada ente envolvido nessa situação assuma sua responsabilidade e colabore para uma solução do problema. O que não se pode fazer é ignorar esse fato. Uma boa reflexão sobre esse problema é esse vídeo que mostra a consequência da cola para a sociedade; e esse vídeo que fala do “jeitinho brasileiro”.

E aí? Gostou do artigo? Se você já teve um caso interessante ou engraçado de cola, deixa aí nos comentários! Se você acha que alguém precisa urgentemente ler esse artigo para mudar de postura, compartilha! Se você gostaria de ler sobre outras questões da vida de professor, entra em contato para sugerir um tema.

Até a próxima e tenham uma boa viagem!