Olá, marujos! Hoje, apresentaremos o filósofo Avicena de um jeito descomplicado. Nesse texto, farei uma biografia desse importante filósofo persa e apresentarei de modo resumido suas principais teorias filosóficas. Vamos lá!
Avicena Descomplicado: Biografia
Avicena é o nome latinizado de Ibn Sīnā. Por sua vez, o nome completo do filósofo é Abu Ali Huceine ibne Abdala ibne Sina.
Infância
Avicena nasceu em agosto de 980 d.C. em uma aldeia chamada Laq-Laqa ou Khomeitan (atualmente, uma cidade chamada Afexana), localizada no atual Uzbequistão. Ele era de origem Persa. Sua mãe se chamava Setareh e seu pai Abdala (ou, se preferirem, Abdullah). Na época, essa região pertencia ao Império Samânida e Abdala trabalhava para eles como administrador de terras.
Em 985, a família se mudou para Bucara, que era a capital do império. Avicena tinha cinco anos. Nesse mesmo ano, ele entrou na escola primária e lá estudou até seus seus 16 anos, em 996. Porém, sua capacidade intelectual ia muito além dos conhecimentos oferecidos pela escola. Os relatos dizem que ele já havia decorado o Corão aos 10 anos! Por isso, seu pai lhe proporcionou estudos com diversos professores particulares. Nesses estudos, aprendeu matemática, direito, filosofia e medicina.
Juventude
Aos dezesseis anos, Avicena já havia adquirido muito conhecimento de medicina e dava consultas gratuitamente. Uma das pessoas que tratou foi do emir Nuh II, o governante dos samanidas. Seu sucesso lhe rendeu o título de médico oficial do emir e lhe concedeu acesso à biblioteca real, a qual ele concluiu de ler toda quando tinha 18 anos (em 998).
Em 999 o Império Samânida caiu. Avicena continuou em Bucara até 1002 (com seus 22 anos), assumindo as funções de seu pai que havia falecido no ano anterior. Porém, ele percebeu que não estava sendo bem-recebido pelo novo império.
Como isso, Avicena se viu necessitado de fugir para a cidade de Gurganj (atual Konye-Urgench, no Turcomenistão) ainda em 1002, governada à época por um patrono das ciências. Ele permaneceu lá até 1012. Nesse período, escreveu bastante e teve contato com grandes nomes da cultura islâmica da época.
Vida Adulta
Em 1012, quando Avicena tinha 32 anos, ele precisou fugir novamente. Mahmud, o líder da dinastia Ghazna (a qual havia derrotado a dinastia Samânida) convocou Avicena para servir na corte em Bucara. Porém, Avicena recusou o pedido e começou a ser perseguido.
Ele decidiu ir para a cidade de Gorgān porque lá também tinha um governante patrono das artes. Só que, ao chegar, descobriu que esse governante havia morrido. Ele ainda ficou em Gorgān por um tempo, mas foi embora em 1014 (aos 34 anos). A parte mais importante dessa fase de sua vida foi ele ter conhecido Abu ‘Ubayd al-Juzjani, que foi seu grande amigo, discípulo e biógrafo.
Em 1014, Avicena chegou a Ray (atualmente, no Irã). Lá, ele ficou trabalhando como médico da corte. No ano seguinte foi para uma cidade próxima chamada Hamadan (também no atual Irã). Após muitos conflitos internos de governo, Avicena se tornou Vizir (uma espécie de conselheiro do governante). Ele conciliou suas tarefas com seus estudos e escritos. Com a morte do então governante Shams al-Dawla em 1021, aos 41 anos, Avicena decidiu se aposentar da sua função e se dedicar apenas aos estudos e escritos.
O novo governante Sama’ al-Dawla pediu para Avicena permanecer como Vizir, mas este recusou. O governante não gostou da recusa. Para piorar, descobriu que Avicena trocava correspondência com Ala al-Dawla Muhammad, o governante de uma cidade inimiga chamada Isfahan (também no atual Irã). Por causa da sua traição, Avicena foi preso. Ele permaneceu preso por quatro meses, até ser libertado pelo exército de Ala al-Dawla Muhammad, que atacara Hamadan.
Últimos Anos
Após sua libertação, Avicena foi para Isfahan em 1024, aos 44 anos. Lá, ele ficou trabalhando como médico e conselheiro de Ala al-Dawla. No seu tempo livre, se dedicava a escrever.
Avicena também acompanhava o Emir durante suas expedições militares. Em uma dessas, rumo a Hamadan, Avicena começou a sentir fortes dores estomacais. Chegando em Hamadan, ele piorou e morreu em 18 de junho de 1037, aos 57 anos. Acredita-se que ele teve câncer de estômago.
Avicena Descomplicado: Filosofia
Avicena foi responsável por desenvolver a chamada filosofia primitiva islâmica.
Parte de suas obras chegaram à Europa medieval e influenciaram alguns filósofos, com especial destaque para Tomás de Aquino.
Durante certo período de tempo, tanto na Europa quanto no Oriente Médio, chegou a existir o chamado avicenismo, sendo uma espécie de escola filosófica que se baseava na filosofia de Avicena.
Metafísica
Avicena desenvolve melhor a teoria aristotélica sobre a oposição entre existência e essência, mostrando que a existência de algo não pode ser inferido da sua essência. Além disso, defende que a matéria e a forma não podem por si mesmas se relacionarem, precisando de um agente-causa que provoque essa interação.
Para o persa, existem três modalidades do ser: a) os impossíveis – que não podem existir; b) os contingentes – que podem existir ou não existir, se lhe derem ou não existência; e c) o necessário – que existe por si mesmo.
O ser necessário seria único e separado de tudo, tendo como único atributo a sua existência e também seria o ser que provocaria a existência de todos os seres contingentes.
Filosofia da Religião
Avicena irá defender que o ser necessário que ele propôs em sua metafísica nada mais é do que o Deus islâmico. Essa teoria ficou conhecida como “Prova do Verdadeiro”.
Através de uma série de argumentações lógicas, Avicena mostrará que o ser necessário é único e possui todos os atributos islâmicos dados a Deus, a saber: unidade, simplicidade, imaterialidade, intelecto, poder, generosidade e bondade.
Sua teoria claramente inspirou a primeira via da existência de Deus de Tomás de Aquino.
Antropologia Filosófica / Psicologia
Avicena defenderá que a essência humana é sua alma, a qual seria uma substância perfeita, imortal e independente do corpo. O corpo seria algo desnecessário, apesar de ser ele, através do cérebro, que daria à razão as sensações.
O filósofo percebeu que nós somos capazes de uma autoconsciência, ou seja, que podemos ter consciência de nós mesmos independentemente de qualquer sensação. Para provar isso, ele desenvolveu o experimento mental conhecido como “Homem Flutuante”.
Nesse experimento, Avicena pede para que imaginemos a nossa criação sendo feita de uma só vez e completa, com os olhos fechados, membros abertos e afastados, e caindo em um vazio. Segundo o filósofo, nessa situação, nós não conseguiríamos sentir nada do mundo exterior e nem sentir nosso corpo (sentir com sentido de sensibilidade dos sentidos). Mesmo assim, seríamos capazes de saber que existimos, tendo uma autoconsciência de nós mesmos. Essa seria a prova de que existiria algo real independentemente de algo sensível.
Teoria do Conhecimento
Para Avicena, o primeiro conhecimento do qual teríamos seria o “eu sou”, derivando todo o resto desse primeiro.
Além disso, o ser humano é dotado de nous, que é a sua capacidade intelectual. Esse nous recebe de Deus a comunicação da verdade, conferindo ordem e compreensão da natureza.
Como a alma é imortal, o nível de conhecimento intelectual adquirido na vida terrena influenciaria a vida após a morte, tendo melhor vida quem mais e melhor desenvolvesse seu intelecto.
Avicena Descomplicado: Principais Obras e Comentários
Avicena Descomplicado: Conclusão
Avicena é um dos poucos filósofos islâmicos estudados ou citados na filosofia ocidental. Seu trabalho foi de suma importância para desenvolver as teorias aristotélicas e preservá-las até chegarem novamente na Europa. Como visto, sua filosofia influenciou bastante o principal filósofo da escolástica – influenciando, por tabela, toda a história da filosofia.
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Até a próxima e tenham uma boa viagem!
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Avicena Descomplicado: Referências
WIKIPÉDIA. Verbetes Avicena (português, inglês, japonês, cazaque, malaiala e tadjique), Nous e Proof of the Truthful.
