Reflexão sobre The Electric State: Robôs Sencientes e Conexões Físicas

Reflexão sobre The Electric State: Robôs Sencientes e Conexões Físicas

Olá, marujos! Hoje, faremos uma reflexão sobre o filme The Electric State. Nele, acompanhamos uma jovem, dois robôs e um caçador de recompensas invadindo uma fortaleza para salvar o irmão mais novo dela. Na reflexão, falo sobre a revolução trabalhista dos robôs, sobre liberdade e também da necessidade em mantermos conexões físicas entre as pessoas. Teremos spoilers do filme na parte da reflexão. Vamos lá!

Sobre o Filme (SEM Spoilers)

The Electric State é um filme de ficção científica, ação e aventura da Netflix de 2025. Ele foi inspirado no livro ilustrado Estado Elétrico do sueco Simon Stålenhag.

Em um 1990 alternativo, a humanidade conseguiu criar robôs autônomos capazes de fazer praticamente qualquer coisa e eles eram utilizados em larga escala para as mais diversas funções.

Eis que, em um determinado momento, os robôs se revoltam contra os humanos porque estavam se sentido explorados. Isso desencadeia uma guerra. Os robôs estavam quase vencendo quando a empresa Sentre conseguiu criar robôs drones, que não pensavam por conta própria e eram controlados totalmente por humanos.

Os robôs autônomos sobreviventes foram exilados em uma área desértica como punição. Agora, a lei proíbe a circulação de robôs autônomos e pune qualquer pessoa que se associe a um deles.

Passa-se um tempo. Estamos em 1994 e uma jovem órfã chamada Michelle (Millie Bobby Brown) recebe a visita de um robô autônomo que diz ser, na verdade, a consciência do seu irmão, o qual está vivo e sendo mantido prisioneiro. A questão toda é que o irmão de Michelle foi declarado morto junto com o restante da família em um acidente de carro quatro anos atrás.

Agora, Michelle precisa ir até a zona de exclusão (onde estão os robôs sobreviventes) para obter mais informações sobre seu irmão. Para conseguir chegar nesse local, ela contará com a ajuda do contrabandista John D. Keats (Chris Pratt) e o amigo robô dele Herman.

Será que Michele conseguirá descobrir a verdade e salvar seu irmão? Descubra vendo The Electric State na Netflix.

Reflexão sobre The Electric State: Robôs Fazem a Revolução do Proletariado

Ficou muito claro para mim que a revolução que os robôs fizeram se assemelha muito àquilo que Marx propôs como a Revolução dos Proletariados.

Na história do filme, os robôs são sencientes. Ou seja, eles possuem a capacidade de pensar por conta própria e ter sentimentos. Porém, eles são tratados como máquinas comuns, coisas que desempenham uma tarefa para benefício dos humanos.

Não é difícil perceber que essa é uma crítica tanto à escravidão quanto ao regime de trabalho capitalista que abusa dos empregos, fazendo-os trabalhar mais do que deviam e em condições sub-humanas.

Porém, diferentemente do que percebemos agora, os robôs tiveram coragem de se rebelarem. Eles se uniram e se negaram a continuar aceitando aquelas condições de trabalho.

Infelizmente, eles perderam a guerra. O que isso pode significar para nós? Que não adianta lutar porque essa é uma batalha perdida? Parece que sim.

Sem o apoio dos seres humanos, os robôs, os quais não possuíam habilidades de combate, lutaram sozinhos contra exércitos treinados que foram evoluindo até superá-los.

Creio que o conselho dado pelo filme é: hoje, não adianta mais pensar que a mudança acontecerá através de uma revolução armada. A mudança precisa vir de uma revolução cultural e interna, tal como propuseram a Escola de Frankfurt e Antonio Gramsci.

Reflexão sobre The Electric State: Quem tem Direito à Liberdade?

Uma das discussões atuais em nossa sociedade é o direito dos animais. O Veganismo prega que não devemos nos utilizar dos animais porque eles são serem vivos sencientes, ou seja, eles sentem o mundo, especialmente a dor (quando são abatidos para alimentação ou passam por testes clínicos).

Outra discussão atual, ainda muito incipiente de dados, mas já antenada com o futuro próximo é uma reformulação do conceito de vida tendo em vista uma maior autonomia no existir de robôs e programas com inteligência artificial, os quais começaram a ir além da sua programação original e se “desenvolverem” por conta própria, tomando decisões independentes.

O filme The Electric State meio que combina essas duas discussões ao nos apresentar robôs sencientes lutando pela sua liberdade. E eu acho que esse deve ser o principal tema de discussão quando pensamos esse problema na vida real.

Mais do que discutir se está vivo ou não, ou discutir se sente ou não sente as coisas, a maior discussão é quais serem merecem ou não liberdade para se autodeterminarem, poderem escolher levar a vida que quiserem sem ninguém poder obrigá-los a fazer qualquer coisa.

Percebam que, no passado, vários povos humanos já tiveram sua liberdade cerceada usando-se de várias desculpas. E, até hoje, ainda acontecem casos similares, mesmo que mais isolados, de pessoas que também não tem os seus direitos de liberdade respeitados.

Sei que estarei sendo polêmico aqui, mas não vejo ainda os animais como seres que mereçam tal liberdade. Não encontro neles características que me indiquem que eles são autoconscientes de suas existências e que consigam buscar um propósito para suas vidas. Para mim, eles apenas existem seguindo seus instintos naturais. Por isso, não defendo totalmente a pauta vegana. Apenas a parte em que sou contra os maus tratos na criação dos animais.

Já com relação aos robôs sencientes, tendo a aceitar que eles mereçam tal liberdade. Mesmo eles não sendo feitos de carne e osso, eles parecem possuir algum tipo de autoconsciência, mesmo que não possuam um cérebro como o humano. Podemos até questionar se eles não estão agindo apenas pela sua programação e isso é uma pergunta válida, mas precisamos pensar duas coisas sobre isso:

1. O que seria “agir segundo uma programação”? Porque, por exemplo, podemos questionar que o próprio ser humano também é limitado por uma certa programação, seja biológica ou espiritual. Muitos filósofos consideraram que a essência do ser humano vem antes de sua existência e isso, em certo sentido, é uma programação prévia, uma certa limitação no agir humano.

2. Mesmo que exista uma programação inicial, tanto o ser humano quanto o robô senciente garantiriam a sua liberdade quando começam a agir por conta própria, tomando decisões autoconscientes. O ser humano, por exemplo, que faz sexo pelo prazer em vez de apenas pela reprodução da espécie superou sua programação. E um robô senciente que diz não querer viver apenas fazendo sua função mecânica a qual foi criado, mas quer fazer outras coisas demonstra que também superou sua programação.

É óbvio que aqui estamos apenas ventilando hipóteses e discutindo o que ainda é ficção. Mas, com o avançar da tecnologia, não demorará muito para esse debate se tornar essencial para nós.

Reflexão sobre The Electric State: Virtual vs. Físico

Tive a impressão que objetivo original do filme era fazer uma crítica ao modo como nós seres humanos estamos totalmente entregues ao mundo virtual e abandonando o mundo físico.

No contexto do filme, o aparelho criado para controlar os robôs drones, chamado Neurocaster, também foi comercializado para toda a população para fazer o upload da sua mente em uma espécie de nuvem virtual em que você praticamente vive uma pseudorrealidade, mais agradável para você. Enquanto a mente fica vivendo uma “vida” melhor, mais perfeita, o corpo fica totalmente abandonado.

A protagonista, no final do filme, pede para que as pessoas voltem a ter mais conexões físicas, “trocarem eletricidade”, uma expressão usada entre ela e seu agora falecido irmão para representar os momentos de convivência física que eles tiveram e não terão mais. 

Percebam que não estou opondo o mundo virtual ao mundo real, mas sim o mundo virtual ao mundo físico. Essa distinção é importante porque, no contexto do filme, como a mente “vai” para o mundo virtual, tudo o que ela vive lá é real. Logo, o questionamento agora é sobre a necessidade de não abandonarmos a dimensão física, corpórea do ser humano nas suas relações reais.

Um filósofo que falou muito sobre isso foi Maurice Merleau-Ponty. Em sua fenomenologia, ela exaltava o valor do nosso corpo físico, dizendo que “nós não temos um corpo, somos um corpo”. Para ele, só conseguiremos explorar o máximo de nossa humanidade se compreendermos o corpo como objeto essencial das nossas experiências.

Em outras palavras, o que o filósofo está dizendo é que nossa essência não é só a nossa mente, consciência ou alma (como preferir entender). O nosso corpo faz parte da nossa essência. Boa parte da nossa experiência de vida passa pelas sensações do corpo e não conseguiríamos vivê-las se não fosse o nosso corpo. Por isso, não podemos negligenciá-lo.

Hoje, cada vez mais estão surgindo tecnologias que tentam simular realidades virtuais que passem sensações físicas. Isso pode até ser interessante, especialmente para alguém que tenha alguma deficiência ou impossibilidade de viver fisicamente aquela experiência. Porém, nunca poderá ser um substituto da realidade física porque isso iria nos diminuir como seres humanos.

É só usar da lógica: precisou que alguém sentisse com seu corpo essas sensações para que conseguisse emulá-las em um programa de computador. Logo, a sensação física veio antes da virtual. O físico é primogênito e deve, por isso, ser priorizado.

Mesmo que, a meu ver, o filme tenha se perdido nessa reflexão, fazendo-a muito superficialmente no começo e no final apenas, ainda acho válida a reflexão. 

Conclusão

The Electric State é um daqueles filmes “pipoca” que você pode vê-lo como mero entretenimento, mas que está cheio de mensagens reflexivas mais ou menos claras. Uma assistida descompromissada pode não perceber nada demais, mas algo irá lhe falar mesmo que subliminarmente. Uma assistida mais atenta conseguirá perceber mais detalhadamente seus temas de debate e conseguirá apreciar ainda mais essa obra.

E aí? Curtiu essa reflexão sobre The Electric State? Compartilha! Tem algo a acrescentar a essa reflexão sobre The Electric State? Comenta! Quer uma reflexão sobre outra produção envolvendo robôs sencientes? Entra em contato!

Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.