Uma Reflexão sobre FRIENDS: Aquela sobre Amadurecimento
Olá, marujos! Hoje vamos fazer uma reflexão sobre a série FRIENDS. Eu já tinha ouvido falar dessa série, mas só parei para vê-la a uns dois anos, pela Netflix. E adorei! Eu e minha esposa “maratonamos” (se não me engano, foi algum período de férias). Ao mesmo tempo que era engraçado ver referências e características do passado (como a presença de um BIPE), os problemas da vida adulta eram extremamente atuais, especialmente para alguém que está na faixa dos 25-30 anos, que é esse momento em que você já terminou a faculdade, já está trabalhando em um emprego que você quer, já saiu (ou está querendo) sair de casa (seja solteiro ou para casar). É por isso que, para mim, essa é uma divertida série sobre amadurecimento. Ao longo desse texto, vamos ter vários spoilers da série, então quem não viu ainda, esteja preparado. Vamos lá!
Sobre FRIENDS
FRIENDS é uma série americana no estilo sitcom, que foi ao ar originalmente entre 1994 a 2004. A série conta a história de seis jovens amigos que moram em Nova Iorque. Como eu já disse lá em cima, eles começam a série entre os 21 e 24 anos, que é o começo da maturidade. Ao longo das dez temporadas, acompanhamos a vida deles: relacionamentos, trabalho, família, religião, estudo etc. Nós rimos com eles, choramos com eles, nos irritamos com eles, tomamos partido (Ross e Rachel estavam ou não dando um tempo?).
A enredo é muito simples, mas o desenvolvimento das histórias que é interessante. Os episódios são curtos (20 a 22 minutos) e você quer ver logo tudo. A série te instiga a ver o próximo não necessariamente deixando um gancho para o seguinte, mas só porque você está curioso para saber o que vai acontecer na semana seguinte. Eu fico imaginando como deveria ser traumático para os fãs terem que esperar uma semana entre um episódio e outro, ou um período de férias entre uma temporada e outra (em que volta e meia deixavam um gancho). Deveria ser agoniante.
Uma Reflexão sobre FRIENDS: Amadurecimento
Não tem jeito, nós amadurecemos. Alguns mais cedo, outros mais tarde; alguns para uns aspectos da vida, outros para outros aspectos. Entretanto, invariavelmente, perceberemos que não encaramos mais a vida com olhos infantis, somos chamados à responsabilidade. Percebemos que nossas decisões irão gerar consequências sérias em nossas vidas e na de outras pessoas.
A filosofia existencialista ateia diz que somos responsáveis por nós mesmos, que devemos ter a responsabilidade de tomar decisões e aceitar as consequências delas, que não podemos continuar a deixar algum agente exterior dizer o que devemos ou não fazer de nossas vidas (nem mesmo Deus, porque ele não existe, sendo apenas uma invenção humana para tirar de nós o peso da responsabilidade). Eu trabalho um pouco mais esse conceito no artigo sobre o filme O Show de Truman.
Outro filósofo que fala do amadurecimento é Immanuel Kant. No seu famoso texto “O que é o Esclarecimento?” fala da necessidade do ser humano abandonar a menoridade intelectual, e amadurecer. Ou seja, ele deve estar esclarecido para pensar por conta própria, ter autonomia de argumentos, em vez de ficar preso a discursos prontos de outras pessoas. Uma das formas em que percebemos o amadurecimento é quando começamentos a ter pensamentos destoantes dos nosso pais, quando começamos a enxergar a vida e suas peculiaridades de um modo diferente daquele que fomos ensinados.
Sapere Aude! “Ouse saber” nos diz Kant! E é isso que devemos fazer para amadurecer, aprender diversas visões sobre a vida para tomarmos uma posição nós mesmos sobre ela.
Uma Reflexão sobre FRIENDS: O Amadurecimentos dos Personagens
Nessa reflexão sobre FRIENDS, não tem como listar tudo o que acontece com os personagens, mas irei trazer uma ou outra história de cada um deles que mostra o seu amadurecimento. E são questões pelas quais nós passamos ou podemos vir a passar…
Aquele sobre o Amadurecimento da Rachel Green
Rachel (Jennifer Aniston) começou a série como uma “filhinha mimada”, que nunca trabalhou e que iria se casar com um homem bem sucedido, mantendo assim a vida de luxo e lazer. Entretanto, ela desiste do casamento no dia do “sim!” e envergonha seus pais. Como ela não volta atrás, se vê sem os cartões de crédito e tendo que trabalhar. Sem nunca ter feito nada na vida, percebe que a realidade da maioria das pessoas não é fácil. Que as contas chegam e não são magicamente pagas. Ela tem que trabalhar, cumprir horário, se subordinar.
Eu vejo muito alunos meus quererem começar a trabalhar logo, ou junto com o ensino médio ou assim que acabarem. Em vez de se dedicarem para passar para uma boa universidade ou conseguir uma boa bolsa de estudos, preferem ganhar logo um “dinheirinho”. Só que eles esquecem que aquele “dinheirinho” é muito porque é todo para ele, já que as demais contas são pagas pelos pais. Mas se eles tivessem que se sustentar sozinhos, aquele dinheiro seria insuficiente, ou pelo menos, não seria o suficiente para sobrar no final do mês, para ser gasto em roupas ou baladas.
Às vezes, a pressa é inimiga da perfeição. Devemos dar tempo ao tempo. Se ainda temos tempo e condições de nos prepararmos, vamos fazer isso. Sem pressa de trabalhar, casar, ter filhos. Pense se você realmente está pronto para esse novo estágio de vida. Porque, na maioria dos casos, não tem volta.
Aquele sobre o Amadurecimento do Ross Geller
Ross (David Schwimmer) era o típico nerd dos anos 90. Relativamente bem sucedido com relação à profissão, seu problema era a vida amorosa. Durante a série, ele passou por três divórcios! Ross sofreu muito por amor, sempre teve dificuldade de manter uma relação. Se traumatizou porque a sua primeira esposa o abandonou porque se descobriu lésbica. Depois, quando finalmente conseguiu ficar com a Rachel, sua paixão juvenil, vivia brigando com ela porque não gostava de ceder, sempre se considerando o certo da relação. Seu último divórcio aconteceu porque casou com outra pessoa ainda apaixonado pela Rachel…
O amadurecimento do relacionamento é um dos mais difíceis. Você tem que aprender a ceder mais do que ser agradado. Na religião cristã católica, costumam falar que você não casa para ser feliz, mas sim para fazer a outra pessoa feliz. E, para isso, tem que ter maturidade para viver a dois. Não é só questão de sexo, porque casamento vai muito além disso. É questão de convivência, de aceitar como o outro é ou ter que mudar para agradar o outro. É saber dividir tarefas e despesas. É estar disponível para ajudar e ouvir o outro.
Aquele sobre o Amadurecimento da Monica Geller
Monica (Courteney Cox) casa com Chandler e resolvem ter filhos. Mas descobrem que são estéreis. Ela tanta várias coisas para ver se consegue engravidar, de simpatias a tratamentos, mas não funciona. No final, resolvem adotar e se realizam porque percebem que existe amor verdadeiro na relação pais e filhos adotivos. Não precisa ter o mesmo sangue para se considerar como pertencente a família.
Para uma mulher, não poder ser mãe quando se quer isso é um sofrimento. Nossa cultura sempre trouxe muito marcado a característica da mulher como mãe e uma mulher que não pode engravidar é como se fosse uma vergonha. A mulher se culpa como se ela não “prestasse” para nada. A adoção é um meio muito prático e positivo de ser mãe, sendo até mesmo uma forma de ajudar a sociedade; mas mesmo assim ainda tem muitas famílias que gastam muitos recursos para conseguir uma gravidez artificial. É claro que cada um pode fazer o que bem entende da sua vida e do seu dinheiro, mas é uma questão de amadurecimento perceber a hora de parar de tentar e ver as outras possibilidades. É maturidade enxergar que um filho adotado pode e deve ser tratado com as mesmas condições e características de um filho gerado.
Aquele sobre o Amadurecimento do Chandler Bing
Chandler (Matthew Perry) sempre relatou traumas de infância devido aos seus pais digamos que excêntricos. Sua mãe era uma escritora de romances adultos e falava de sexo de forma extremamente aberta, ainda na infância dele, traumatizando-o. Já seu pai se tornou um travesti, chocando-o e frustrando-o, o que gerou um rompimento. Por isso e por sua forma de agir, muitas vezes foi questionado sobre a sua sexualidade. No avançar da série, além de verificarmos que ele é hétero (já que casa com a Monica), também vemos ele se entendendo com sua mãe e fazendo as pazes com seu pai.
Para muitos de nós, os nossos pais são nossos heróis, pessoas infalíveis. E quando descobrimos que não é bem assim, nos frustramos. Às vezes as brigas são momentâneas, às vezes duram anos. Tem pessoas que perderam seus pais antes de terem tido coragem de tomar a iniciativa de perdoar ou se desculpar. É questão de maturidade entender que todos nós somos seres humanos e por isso falhos. Os pais, de certo modo, não querem errar, mas isso pode acontecer. Muitas vezes ouvimos aquele discurso “Você só vai entender quando for adulto / tiver filhos” e é verdade. Aqui tem a questão de dar o primeiro passo, ceder. Quanto mais velhos somos, mais “cabeças-duras” ficamos e acaba sendo o filho que precisa tomar a iniciativa.
Aquele sobre o Amadurecimento da Phoebe Buffay
Phoebe (Lisa Kudrow) deve ser a pessoa que amadureceu para vida mais cedo do grupo, já que teve um infância traumática, fugindo de casa e morando na rua, tendo a mãe se suicidado e o pai abandonado a família. É engraçado que ela é a personagem mais “doidinha” do grupo. Quem sabe esse estilo não foi uma “válvula de escape” ou uma consequência dela ter sido prematuramente obrigada a se virar e conhecer o mundo na sua maior crueldade?
Traumas de infância são coisas sérias e afetam muitas pessoas. A falta de condições básicas para viver, como moradia e comida também é um problema sério. Vemos todos os dias crianças tendo que trabalhar para ajudar em casa em vez de estudar ou brincar. Novamente aqui temos a discussão do tempo certo para tudo. Phoebe foi uma guerreira e vencedora, mas nem todos têm essa sorte. Ter que trabalhar para sustentar uma casa deveria ser obrigação dos pais e não dos filhos. Ter que trabalhar ainda criança, seja em casa ou na rua traz um amadurecimento na hora errada, que pode atrapalhar seu amadurecimento em outros aspectos da vida. Da mesma forma, temos que ficar atentos para não confundir trabalho infantil com responsabilidades. Responsabilidades específicas, na hora e momento certo são sim necessárias e fazem parte do amadurecimento de uma criança.
Aquele sobre o Amadurecimento do Joey Tribbiani
Joey (Matt LeBlanc) passou boa parte da série lutando para conseguir um bom papel e ser ator. E quando ele conseguiu um papel de destaque, lhe faltou maturidade para conduzir a profissão. Além de ter esbanjado dinheiro com seu novo apartamento, ainda se achou no direito de criticar os roteiristas, o que lhe causou um “morte” dolorida na série da qual participava. Isso o obrigou a ter que voltar para a sua antiga vida e realidade.
Quantos de nós já não lutamos por uma coisa e quando a conseguimos erramos na forma de lidar com aquilo? No trabalho, isso é muito comum. Sempre almejamos crescimento profissional e quando ele vem, não agimos da forma correta. Falta maturidade para o novo status social ou para a nova função. Se perdemos isso por incompetência, amadurecemos porque vemos o que fizemos de errado. Melhor é perceber antes de perder, ouvir o conselho de quem está de fora e está percebendo que não estamos indo para o caminho certo.
Uma Reflexão sobre FRIENDS: conclusão
Durante essa reflexão sobre FRIENDS, poderíamos ter citado várias outras situações pelas quais passaram esse grupo de amigos e que nós nos identificaríamos. O mais importante aqui é perceber que faz parte da vida amadurecer e isso não é ruim, mas tem que ser feito no momento certo, da forma certa, para aproveitarmos e nos encaixarmos nas novas etapas e mudanças da nossa vida.
E aí? Quais outras situações você se lembra de amadurecimento durante a série? Deixa aí nos comentários! Conhece alguém muito fã da série? Compartilha com ele essa reflexão sobre FRIENDS! Quer sugerir outras séries antigas de idade e que são ao mesmo tempo atuais nas discussões? Manda a lista pelo formulário de contato.
Até a próxima e tenham uma boa viagem!