Reflexão sobre KAOS: Fodam-se os Deuses!

Reflexão sobre KAOS: Fodam-se os Deuses!

Olá, marujos! Hoje, faremos uma reflexão sobre a série KAOS. Essa série é uma reinterpretação contemporânea da mitologia greco-romana e tem como plot principal a realização de uma profecia que derrubará o reinado de Zeus. Na reflexão, abordarei a crítica aos deuses presente na série, fazendo um paralelo com Marx (filósofo crítico da religião) e abordando a desnecessidade dos deuses para nossa vida. Teremos spoilers da série. Vamos lá!

Sobre a Série (COM Spoilers)

KAOS é uma série britânica de drama e humor negro que tenta imaginar a mitologia greco-romana funcionando mais ou menos nos dias contemporâneos (digo mais ou menos porque o presente da série não tem as tecnologias que temos nos dias de hoje, parecendo mais que se passa nos anos 80 ou 90).

A série foi lançada pela Netflix em 2024 e conta com uma temporada até o momento (sendo que a história não se fecha nessa temporada, indicando que teremos mais).

Em uma época relativamente contemporânea, os deuses gregos são reais e cultuados pelas pessoas. Zeus (Jeff Goldblum) reina no Olimpo junto de Hera (Janet McTeer), constantemente observando o que “seus” humanos andam fazendo.

No dia de Olímpia, o dia mais sagrado da religião, um monumento de culto aos deuses é vandalizado na cidade de Creta e Zeus fica possesso de raiva. No mesmo dia, ele sente uma mudança em sua fisionomia e começa a desconfiar que sua profecia está se cumprindo…

Todos os seres existentes recebem uma profecia dada pelas Moiras quando nascem, incluindo humanos e deuses. Mesmo as três irmãs dizendo que uma profecia não precisa necessariamente se cumprir, normalmente elas se cumprem. O problema é que toda profecia é um enigma e carece de certa interpretação.

Zeus interpreta a sua como um aviso de que, em algum momento, os deuses olímpicos cairão e o caos reinará. Logo em seguida, descobrimos que três humanos também possuem a mesma profecia: “Riddy” (Aurora Perrineau), Caeneus (Misia Butler) e “Ari” (Leila Farzad).

A partir desse momento, começamos a acompanhar a “vida” desses e de outros humanos e também das divindades e demais seres mitológicos, para saber se aquilo que eles estão fazendo os aproximam ou os afastam do cumprimento dessa profecia caótica.

Quer saber como esta história se desenrola em detalhes? Veja KAOS na Netflix.

Reflexão sobre KAOS: Os Deuses não Prestam!

Como foi mostrado na série, os deuses são seres superiores, mas egoístas. Eles se utilizam dos humanos como brinquedos, fonte de imortalidade e de diversão.

Como Zeus deixa claro, os humanos não devem ser amados pelos deuses porque são seres inferiores. Os deuses só podem amar seres iguais a eles.

Todas as “benevolências” aos humanos, dá-se a entender, nada mais são do que formas de controlar a massa da humanidade e uma forma de entretenimento (exemplificado pelos atos de Zeus criar destruições naturais na Terra só para ouvir preces a ele).

Com esse cenário posto, tenderemos a concorda com os seres (humanos e não humanos) que aparecem na série, os quais querem acabar com o reinado dos deuses olímpicos porque eles simplesmente não querem o bem dos demais seres e só pensam em si mesmos causando mais mal do que bem.

Reflexão sobre KAOS: Marx estava certo!

O filósofo e sociólogo ateu Karl Marx tem uma frase famosa e controversa: “A religião é o ópio do povo”.

Para quem não sabe, ópio é uma droga que “provoca efeitos no corpo como sensação de relaxamento, sonolência, alívio da dor e alucinações leves“.

Ou seja, Marx está dizendo que as religiões provocam um estado de torpor social nas pessoas que, inebriadas pelas promessas salvíficas futuras das religiões, deixam de lutar por melhorias das suas condições sociais no presente.

Como exemplo clássico, temos o cristianismo e suas passagens bíblicas que exaltam a humildade (“os humildes serão exaltados no reino dos céus”) e a resignação (“se alguém lhe der uma bofetada, dê a outra face”). Para Marx, pensamentos como esse fazem com que as classes dominadas (como os pobres e trabalhadores assalariados) acreditem que serão recompensados no futuro pelo sofrimento de agora e, por isso, não fazem muita questão de mudar sua realidade social desprivilegiada.

Se pensarmos na série KAOS, as coisas não são tão diferentes assim…

A religião praticada por quase todos os membros apresentados naquela sociedade, inclusive aparentando ser uma religião oficial do Estado, serve como forma de controle e ludibriação dos fieis. Os fieis se submetem aos deuses porque esperam a recompensa da reencarnação. Porém, como vimos, isso é falso. Ao contrário, as almas humanas são destruídas para virarem força vital para os deuses.

Ou seja, a religião da série KAOS cumpre esse papel “torporífico” tal como descrito por Marx. A única diferença é que a religião da série é, de certa forma, controlada pelos próprios deuses para benefício próprio, sendo enganados todos os seres humanos (sendo eles de classes dominantes ou dominadas), enquanto a filosofia ateia de Marx dirá que é a classe dominante que se beneficia da mentira dita à classe dominada.

De qualquer forma, a mensagem da série é clara e análoga à mensagem marxiniana: religião é controle! Não siga religiões porque seu único papel é controlar você – sua vida, suas escolhas, seu futuro. A religião não tem nenhum benefício, ela não lhe trará nenhuma recompensa. Ao contrário, ela lhe tirará tudo, especialmente a liberdade de lutar por uma vida melhor e/ou autêntica.

Reflexão sobre KAOS: Abandone os Deuses!

Pelo que me lembro da série, não explicam direito a origem do universo e do ser humano em si. Por isso, não posso afirmar que os deuses olímpicos não foram importantes para a criação dos seres humanos.

Mesmo assim, a série dá a entender que, no atual momento, os deuses olímpicos não são necessários aos humanos. Por isso, podem ser questionados, abandonados, destronados.

Fazendo um paralelo com nossa realidade, considerando que seguir uma religião não lhe garantirá salvação eterna ou algum benefício pós-vida, porque continuar a seguir uma religião? Porque deixar uma instituição religiosa dizer o que você pode ou não fazer?

Digam o que disserem, a grande maioria das pessoas deixa de fazer várias coisas consideradas legais perante a lei dos homens porque é proibido pela lei de Deus. E mesmo que o fiel jure que cumpre tal mandamento divino porque é o melhor para si, ele o faz com vistas da recompensa futura porque se assim não fosse, ele não precisaria de uma lei divina para lhe proibir, ele simplesmente não iria querer fazer tal coisa porque a rejeitaria por si própria.

Por exemplo, tem pessoas que não bebem bebidas alcoólicas porque não gostam do sabor. Um religioso cuja religião proíbe beber bebidas alcoólicas não irá se importar com essa norma se ele já for uma pessoa que não gosta do sabor das bebidas alcoólicas. Mas alguém que gosta de bebidas alcoólicas irá se sacrificar pela religião, irá abrir mão de um prazer seu porque supostamente está fazendo algo para agradar seu deus.

Essa mesma pessoa ficará reclamando dessa proibição no seu círculo íntimo de amigos fieis, dizendo que no fundo não existe problema no consumo consciente de álcool e torce para a religião revogar a proibição, irá “cair em tentação” várias vezes e pedirá perdão, poderá recorrer a outros vícios ou prazeres momentâneos (como comidas doces ou gordurosas), tudo para compensar a proibição imposta, tudo porque está agindo contra a vontade.

E porque faz isso se está infeliz? Porque quer a recompensa final. E o que essa pessoa faria se descobrisse que não tem nenhuma recompensa final? Iria começar a beber novamente já que seu sacrifício não lhe traria nenhum benefício…

A grande questão é: você está pronto para desafia seu deus ou sua religião? Está disposto a “pagar para ver”? A grande maioria dirá que não e é porque isso que preferem ficar seguindo os mandamentos religiosos mesmo não gostando ou não concordando com eles.

Foi essa a conclusão a qual chegou o filósofo Blaise Pascal em seu Argumento da Aposta: é melhor apostar que Deus existe e cumprir seus mandamentos porque, se for verdade, o sacrifício em vida será mínimo frente ao benefício eterno.

O problema é: como você ficará quando, ao morrer, descobrir que foi tudo em vão?

Conclusão

Me pergunto se as pessoas que viram a série KAOS conseguiram perceber essa crítica à religião e aos deuses trazida em seu enredo. É provável que muitos fieis simplesmente ignoraram isso porque pensaram que a religião da série é uma religião pagã e não a “verdadeira”. Porém, o nome da religião da série, se não me engano, é VERITAS, que significa “verdade” em latim. Ou seja, a série critica todas as religiões que se propõem como verdadeiras, inclusive as atuais!

E aí? Curtiu essa reflexão sobre KAOS? Compartilha! Tem algo a acrescentar a essa reflexão sobre KAOS? Comenta! Quer uma reflexão sobre outra série baseada em mitologia greco-romana? Entra em contato!

Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.