Uma Reflexão sobre O Senhor dos Anéis - A Sociedade do Anel: Uma História sobre Amizade

Uma Reflexão sobre O Senhor dos Anéis – A Sociedade do Anel: Uma História sobre Amizade

Uma Reflexão sobre O Senhor dos Anéis – A Sociedade do Anel: Uma História sobre Amizade

Olá, marujos! Bem-vindos à Nau dos Loucos, um blog sobre a loucura de ser um professor de filosofia nerd! Hoje iremos fazer uma reflexão sobre O Senhor dos Anéis – A Sociedade do Anel, primeiro filme dessa trilogia. Focarei no filme porque é a obra que a maioria das pessoas conhece, mas quem não leu o livro deve lê-lo. Ele complementa muito bem a história (tão bem que pode dar um sono nos desavisados… kkk). Como esse filme já foi lançado a muito tempo e praticamente todo mundo já viu ou conhece a história, não irei me preocupar com spoilers. Nesse artigo, falaremos especialmente sobre amizade.

O Senhor dos Anéis – A Sociedade do Anel

Assim, como a história de O Senhor dos Anéis no livro é dividida em três partes, os filmes também foram divididos. Os livros foram escrito por J. R. R. Tolkien e os filmes dirigidos por Peter Jackson. Os filmes são muito fiéis ao livro, fazendo apenas algumas adaptações para funcionar melhor na tela. Para quem não sabe, O Senhor dos Anéis se passa em um lugar fantástico conhecido como Terra Média, onde habitam além dos seres humanos, outros seres inteligentes (como hobbits, anãos, elfos, magos, orques…).

A história começa na vila dos hobbits, criaturas de baixa estatura e pés grandes que vivem uma vida simples e pacata (tranquila), ligados à natureza. Tudo muda quando o mago Gandalf (Ian McKellen) descobre que o hobbit Bilbo Bolseiro (Ian Holm) possui um anel extremamente poderoso, que continha um poder maligno e pertencia ao antigo inimigo da Terra Média Sauron (Sala Baker).

Gandalf sabia que aquele anel continha parte significativa do poder de Sauron, e que enquanto ele existisse a Terra Média estaria em perigo. Ao mesmo tempo, ele também descobre que Sauron está reunindo forças escuras para atacar e tomar a Terra Média. Por isso, decide convocar um conselho em Valfenda, cidade dos Elfos amigos, para decidir o que fazer a respeito.

O poder maligno do anel corrompe as pessoas que o carregam, então era necessário alguém puro de coração para transportá-lo, especialmente agora que Sauron estava voltando e o anel tinha retomado sua força corruptiva. O escolhido para transportar o anel foi Frodo Bolseiro (Elijah Wood), sobrinho de Bilbo. Junto a Frodo, juntaram-se outro três hobbits, seus amigos: Sam (Sean Astin), Merry (Dominic Monaghan) e Pippin (Billy Boyd).

Em Valfenda, o conselho decidiu que era necessário destruir o anel. Mas só era possível fazer isso na Montanha de Perdição, em Mordor, onde o anel foi forjado. Para essa missão, criou-se uma comitiva que recebeu o nome de Sociedade do Anel, composta pelos quatro hobbits citados, o mago Gandalf, o elfo Legolas (Orlando Bloom), o anão Gimli (John Rhys-Davies) e os humanos Aragorn (Viggo Mortensen) e Boromir (Sean Bean).

No caminho, o grupo passa por alguns contratempos, enfrenta grupos de orques e acaba, no final do primeiro filme, desfeita. Gandalf e Boromir mortos. Merry e Pippin sequestrados por orques. Aragorn, Legolas e Gimli partindo para o resgate. E Frodo e Sam indo sozinhos para a Montanha da Perdição.

A continuação dessa história está nos filmes e artigos desse blog: As Duas Torres e O Retorno do Rei.

Uma Reflexão sobre O Senhor dos Anéis: o Poder da Amizade

Nessa reflexão, podemos dizer que o elemento principal do lado “do bem” da história de O Senhor dos Anéis é a amizade. Se não fosse ela, a história não se desenrolaria e muito menos teria um final feliz. Ao longo da trilogia, veremos diversos laços de amizade se formando, se fortalecendo, e sendo cruciais para o sucesso da campanha. Mas todos eles começam no primeiro filme.

A Amizade entre Gandalf e Bilbo

A primeira amizade que destaco é a que existe entre Gandalf e Bilbo. Esse é um tipo de amizade desconfiada; eles se gostam, mas não confiam sempre um no outro. Bilbo se mostra como alguém que sabe que tem um amigo para desabafar, mas não quer fazer isso com medo da bronca ou dos conselhos que receberá. Do outro lado, Gandalf sempre está desconfiado que Bilbo esconde algo, vive tentando provocá-lo a falar, mas sem o forçar. Esse tipo de amizade é muito comum quando ambos são orgulhosos demais para admitir que precisam um do outro. Ou se acham tão autossuficientes ou soberbos (orgulhoso) que o amigo se torna desnecessário, apenas sendo um colega.

Se Gandalf e Bilbo tivessem uma confiança maior um no outro, provavelmente os problemas ocorridos durante a aventura teriam sido evitados. Se Bilbo tivesse dito logo a Gandalf sobre o anel, o mago já teria percebido que aquele era o Um Anel e teria se livrado dele antes do objeto e seu dono original terem readquirido poder. Esse problema também ocorre quando nós tratamos nossos amigos como colegas, ou nos consideramos mais sábios que eles. Não contamos nossos problemas achando que sozinhos temos a solução, que o outro não tem capacidade de dar um conselho tão bom quanto o que já tinha pensado, e assim acabamos nos enrolando mais em um problema que poderia ser evitado.

Devemos aprender com a amizade de Gandalf e Bilbo que amigos às vezes dizem coisas duras, que sugerem soluções difíceis, mas que isso é para o bem do outro. Precisamos confiar mais naqueles que consideramos amigos e desconfiar mais de nós mesmos.

A Amizade entre Merry e Pippin

Aqui, temos uma amizade entre iguais. Ambos são hobbits, moram no mesmo condado, convivem diariamente e não apresentam posição social diferenciada. Merry e Pippin parecem irmãos gêmeos de tão grudados que são e de tantas trapalhadas que se metem juntos. Quando, nos filmes seguintes, forem obrigados a se separar, um sentirá a falta do outro como se tivesse tirado uma parte de si.

Aristóteles, quando trata do tema da amizade, nos diz que amizade verdadeira só existe entre duas pessoas iguais, que ocupam a mesma posição social e compartilham de uma igualdade relacional. Para o filósofo, a amizade segundo a virtude só pode ser estabelecida entre seres “bons e semelhantes na virtude, pois tais pessoas desejam o bem um ao outro de modo idêntico, e são bons em si mesmos”. Não existe interesses por trás da amizade de Merry e Pippin, não existe posição de destaque entre eles, como se um fosse mais importante que o outro na história.

Como o próprio filósofo diz, esse tipo de amizade é muito raro, pois são raros os seres humanos que possuem as condições necessárias para que ela ocorra. Mas raro não significa impossível, e é por isso que devemos nos esforçar para encontrar esse tipo de amizade. Essa é uma amizade que perdurará para sempre, que será alimentada apenas pela felicidade de um e do outro de serem amigos. 

A Amizade entre Frodo e Sam

A relação entre Frodo e Sam é muito debatida pelos fãs porque parece mais um amor de Sam por Frodo do que exatamente uma amizade. É interessante, por isso, dizer que o termo grego para amizade é philia, e que ele também é traduzido por Amor. Para os gregos Amizade era um tipo de amor… Normalmente dizemos que a palavra Filosofia significa “amor à sabedoria”, mas dizemos que o termo Filósofo significa “amigo da sabedoria”, exatamente porque Filosofia é a junção das palavras gregas Philia e Sophia

Voltando aos amigos Frodo e Sam, o que vemos aqui é uma amizade quase que devocional. Sam entende que seu papel de amigo é apoiar a todo o custo Frodo, até mesmo quando este não quiser ser apoiado. Sam se comprometeu com a Sociedade do Anel mais para proteger Frodo do que salvar a Terra Média. Nessa relação, vemos que existe uma hierarquia, em que Frodo é mais importante que Sam. Não estou dizendo que isso foi acordado entre eles ou que Frodo se aproveita dessa amizade. O que mais parece é que Sam escolheu se submeter a Frodo, como que seu servo, escudeiro.

Nesse caso, a amizade deles não é entre iguais, mas também não deixa de ser amizade. Aqui surge uma amizade de serviço, de entrega. Sam devota a sua vida a proteger Frodo. Ao mesmo tempo, parece que Frodo não dá o devido valor e até mesmo chega, às vezes, a tripudiar (desdenhar) sobre Sam e seu excesso de zelo (cuidado). Se achamos isso estranho, devemos olhar para a nossa realidade e ver quantas vezes isso acontece com a gente, seja no papel de Sam ou no papel de Frodo.

É muito comum em uma amizade, especialmente nas mais recente, que alguém seja a pessoa mais dedicada, que procura sempre o outro, que sempre cede nas decisões, que se submete ou muda para agradar o amigo. Do outro lado, está o amigo mais autoritário, que sempre acha que sua sugestão é a melhor, que nunca cede em uma discussão e que se acostuma em ser paparicado (bajulado). Normalmente, isso acontece sem querer, muito provavelmente porque um dos lados tem baixa autoestima e o outro alta autoestima.

Às vezes, nem é isso. Acontece simplesmente porque alguém tem uma característica mais mansa, bondosa, serviente (que serve) e nem percebe que se coloca em uma posição inferior. Por outro lado, aquele que tem suas vontades sempre atendidas nem percebe que está sendo mesquinho, acaba achando que apenas possui a verdade ou as melhores respostas, e acaba ignorando o sacrifício do amigo.

Devemos ficar atentos para esse tipo de amizade, porque ela pode funcionar bem no filme, mas nem sempre acaba bem na vida real. O melhor, é que ambos compreendam a desigualdade que criaram e consertem-na, para serem justos um com o outro, parceiros de verdade.

A Amizade entre Legolas e Gimli

Podemos dizer que essa é a amizade mais inesperada e mais divertida do filme. Ela tem essa característica porque existe na Terra Média uma aversão dos anãos para com os elfos e vice-versa. Problemas antigos, de conflitos esquecidos, mas que marcaram ambas as raças. No começo, eles se detestam. Depois, começam a se respeitar. E no fim, são amigos inseparáveis. Essa evolução só foi possível pela convivência, pelo trabalho conjunto, em que cada um conheceu verdadeiramente o outro. As máscaras do preconceito caíram e ambos puderam se enxergar como realmente são.

No nosso cotidiano, não é raro vermos esse tipo de coisa. O preconceito pode ser no pensamento antiquado de que não existe amizade entre homem e mulher, ou no pensamento do tipo “não é bom andar com esse tipo de gente”. Com o aumento do número de refugiados, cresce a xenofobia (aversão ao estrangeiro), o que pode criar uma triste cultura de preconceito e impedimento de amizade entre pessoas de culturas diferentes.

Gimli e Legolas provaram que existe sim amizade para além de antigos preconceitos. Quando se dá uma chance de conhecer o outro como ele é, os motivos dele ter aquele tipo de vida e aquela crença, percebe-se que as diferenças são menores que as semelhanças. Assim também nós precisamos dar chances para que o outro se revele a nós. E, se mesmo assim, não quisermos construir amizades (algo normal porque não se pode ser obrigatório), devemos ao menos respeitar e incentivar que outros possam construir esse tipo de laço.

Uma Reflexão sobre O Senhor dos Anéis: Conclusão

O Senhor dos Anéis é uma obra só dividida em três volumes. Por isso, essa reflexão sobre O Senhor dos Anéis pode ser estendida para os outros filmes também e conhecê-los até ajuda a entender o que eu disse. De qualquer forma, é possível destacar alguns traços mais trabalhados em cada episódio, e o que mais me chama a atenção nessa primeira parte é a amizade. Espero que eu tenha conseguido fazer um breve aprofundamento nessa linda história, que tem muito a nos ensinar.

E aí? Quais são os outros temas que te chamam a atenção na trilogia O Senhor dos Anéis? Deixa aí nos comentários! Conhece alguém muito fã da obra de Tolkien? Compartilha esse artigo com ele! Quer sugerir outros filmes para serem analisados? Manda mensagem pelo formulário de contato.

Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.