Reflexão sobre Wicked: Racismo e Bullying

Reflexão sobre Wicked: Racismo e Bullying

Olá, marujos! Hoje, faremos uma reflexão sobre Wicked (tanto o musical, quanto os filmes). A trama relata a história de Elphaba – a bruxa má do Oeste -, desde o seu nascimento até sua morte, mostrando uma outra perspectiva sobre a vilã do mundo de Oz. Na reflexão, abordarei o tema do racismo e do bullying presentes nas produções. Não teremos spoilers. Vamos lá!

Sobre as Produções (SEM Spoilers)

Wicked se tornou fenômeno como um musical da Broadway. Ele estreou em 2003 e vem sendo apresentado lá desde então, quebrando vários recordes. Também existem ou existiram montagens em vários outros países, incluindo o Brasil em 2016 e 2023.

O nome completo do musical é Wicked: A História Não Contada das Bruxas de Oz. Como curiosidade, o musical Wicked se inspirou no livro Wicked: A História Não Contada Das Bruxas De Oz de 1995, escrito por Gregory Maguire.

Por sua vez, todas essas produções se basearam em O Maravilhoso Mágico de Oz, livro infantil escrito em 1900 por L. Frank Baum e sua famosa adaptação cinematográfica O Mágico de Oz de 1939.

A adaptação cinematográfica de Wicked foi dividida em duas partes, tendo a primeira estreado em 2024 e a segunda prevista para 2025.

A histórica começa com a concepção e nascimento de Elphaba. Se não bastasse ser fruto de um adultério, Elphaba nasceu verde e com poderes mágicos (algo raríssimo em Oz).

Elphaba sempre foi vista como esquisita pelas demais crianças de sua idade. Ela também não era amada por seu pai (não fica claro se ele sabia do adultério, mas ele a culpa pela deficiência física da sua outra filha) e por sua irmã Nessarose (não fica claro se ela também culpa Elphaba pela deficiência, mas ela a culpa por sempre “chamar a atenção”, lhe tirando a oportunidade de “ser notada” pelas demais pessoas).

Chega a adolescência e Elphaba vai acompanhar sua irmã no primeiro dia de aula na Universidade Shiz de Nessarose. Porém, coisas acontecem e Elphaba acaba sendo convencida a também estudar na universidade, para desenvolver seus poderes mágicos. Quando vai se acomodar, descobre que dividirá o quarto com Galinda, uma aluna estilo patricinha popular que também quer ser feiticeira.

As duas se odeiam e se bicam o tempo todo até que coisas acontecem e elas se tornam amigas. Nesse interim, surge o príncipe Fiyero, que é o amor da vida de Galinda, mas que ama de verdade Elphaba.

Outro problema que vem acontecendo naquele mundo é a perseguição dos animais de Oz. No passado, todos os animais eram inteligentes e sabiam falar. Porém, com o tempo, os animais têm perdido sua voz e estão sendo perseguidos pela polícia de Oz. Isso é algo que tem incomodado Elphaba enormemente.

Depois de algum tempo de estudo, Elphaba recebe o convite do próprio Mágico de Oz, a autoridade máxima do reino, para visitá-lo. Ela aceita com a esperança do mágico resolver o problema dos animais, e leva Galinda junto dela, que agora se chama Glinda (em homenagem ao professor bode Dr. Dillamond, que pronunciava o nome da menina dessa forma).

O que o Mágico de Oz quer com Elphaba? Será que ele irá ajudá-la na causa animal? Como Elphaba se tornará a Bruxa Má do Oeste? Como tudo isso se relacionará com o dia em que Dorothy chegou em Oz? Descubra vendo o musical Wicked ou os filmes Wicked: Parte 1 e Wicked: Parte 2.

Reflexão sobre Wicked: Ser Verde não Te Faz Inferior!

Wicked é sobre muitas coisas, e uma delas que mais se destaca é o racismo.

Elphaba nasceu verde e sua cor única foi, desde a sua infância, motivo de crítica. Esse problema se manteve na Universidade Shiz também.

O fato de o autor usar a cor verde para a pele de Elphaba – além do motivo óbvio de respeitar a obra original de O Mágico de Oz – serviu para criar um distanciamento necessário entre personagem e público, para que todos conseguissem sentir o racismo presente nas cenas.

Infelizmente, por causa do chamado racismo estrutural, muitas pessoas acham que racismo não existe e ofensas ou “brincadeiras” ligadas à cor da pele não são práticas racistas, que não existem motivos para a pessoa ofendida ficar desse jeito, que está exagerando. Dessa forma, colocando uma personagem de tom da pele verde em vez de preto cria o distanciamento necessário para alguém olhar aquilo e pensar “mas por que estão fazendo mal à menina só por causa dela ser verde?!”, que é exatamente o que gostaríamos que as pessoas sentissem quando veem uma pessoa preta sofrendo o mesmo mal.

Estranhar alguém ter a pele verde pode ser normal em um primeiro momento. É uma novidade afinal de contas. O problema é evoluir de um estranhamento para um preconceito. Depois que se passa o susto, não se tem motivo para continuar olhando esquisito para Elphaba. Quem continua assim, está claramente agindo de forma racista (consciente ou inconscientemente).

Reflexão sobre Wicked: Bullying não é Brincadeira!

Todo bullying começa a partir de alguma coisa, de alguma característica que se destaca na pessoa ou é destacada pelo agressor para tornar aquilo uma piada ou motivo de ridicularização da vítima.

No caso da Elphaba, sua pele verde foi o motivo principal para as pessoas fazerem bullying com ela.

Na Universidade Shiz, quem puxa o grupo dos agressores é Galinda (posteriormente Glinda). Ela se sente ameaçada porque quer ser uma feiticeira, mas não tem poderes. Enquanto isso, Elphaba tem dons mágicos naturais e recebe a tutoria de Madame Morrible (que era o desejo de Galinda).

Se não fosse Galinda, com certeza Elphaba conseguiria se enturmar na universidade depois de algumas semanas. Porém, isso não ocorre porque Galinda fica mantendo vivo o bullying e as demais pessoas vão acompanhando.

Galinda era a garota popular e ir contra o que ela fazia te deixava impopular, enquanto que imitar sua atitude te tornava normal e te dava uma chance de entrar no círculo de amizades dela.

Essa situação fica muito clara na noite do baile, quando todos criticam as vestes e forma de dançar de Elphaba para agradar Galinda, mas param de fazer isso e começam a elogiar ou dançar como Elphaba no momento em que Galinda decide apoiar a nova amiga imitando seus passos.

Ou seja, a maioria das pessoas que fazem bullying não o fazem porque existe de fato um motivo para isso (mesmo que injustificável), fazem o bullying só porque esse ato já se tornou um costume, uma prática social.

Reflexão sobre Wicked: Os Falsos Salvadores!

Depois que Galinda se arrepende do que fazia com Elphaba e resolve se tornar sua amiga, começa a “ajudá-la” a se tornar alguém popular.

Galinda é tão cínica ou deslumbrada pela sua autoestima que se apresenta a Elphaba como sua fada madrinha social, sua produtora e relações públicas.

O que Galinda não percebe em seus atos é que: 1. Elphaba só sofria o que sofria por causa dela; e 2. A solução verdadeira nunca é mudar quem a pessoa é e sim a forma preconceituosa das demais pessoas enxergarem a vítima.

Essa atitude de Galinda vai ao encontro de muitas produções artísticas e casos reais em que pessoas pertencentes aos grupos privilegiados da sociedade se acham os salvadores sociais dos menos favorecidos sem, na maioria das vezes, perceberem que foram eles próprios ou sua classe quem causou todo o mal originalmente.

Existe um termo técnico na sociologia chamado reparação histórica. Esse termo se refere a políticas públicas que governos precisam fazer para minimizar ou compensar os impactos negativos deixados em um grupo social daquela sociedade por crimes cometidos no passado.

No caso do Brasil, por exemplo, a política de cotas raciais é uma forma de reparação histórica porque, devido à escravidão existente e seu fim abrupto feito de qualquer jeito, deixou a população negra da época marcada como uma raça inferior e relegada às periferias e favelas do Brasil. Essa situação deixou uma marca histórica até os dias de hoje, com a maioria da população negra sendo pobre, com menor escolaridade e menores salários.

Concordar com políticas públicas de reparação histórica é mais do que um dever. É ser justo, é ser empático, é ser cidadão, é ser humano. É entender que algo precisa ser feito hoje e de forma urgente para resolver um problema que se arrasta a anos e que não tem perspectiva de melhorar se nada for feito agora.

É engraçado ver pessoas de classes, raças ou situações favorecidas socialmente se autopromovendo por fazerem alguma ação social contra as desigualdades, mas não aceitando políticas públicas que fazem isso. É tipo uma pessoa no Brasil se achar o máximo porque fez um trabalho voluntário em um pré-vestibular social e ser contra as cotas, ou um empresário fazer marketing porque sua empresa ajuda causas sociais (sabendo que terá benefícios fiscais), mas faz lobby no congresso contra políticas sociais públicas.

Se você é favorecido de alguma forma, você não faz mais do que sua obrigação em ajudar alguém não favorecido. Você não tem o direito de se achar alguém melhor porque fez algo desse tipo. Você, no máximo, pode se sentir pior se teve essa oportunidade e não colaborou!

Conclusão

Wicked tem vários temas interessantes para serem debatidos, mas resolvi destacar esses dois que, na minha visão, se destacam logo no começo e que acabarão também sendo motivos para situações problemáticas na trama até o seu final. Além disso, destaquei dois temas atuais e bem presentes em nossa sociedade, que já eram para terem sido resolvidos, mas, infelizmente, estão longe de acabar.

E aí? Curtiu essa reflexão sobre Wicked? Compartilha! Tem algo a acrescentar a essa reflexão sobre Wicked? Comenta! Quer uma reflexão sobre outro musical da Broadway que já virou filme? Entra em contato!

Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.