Reflexão sobre Shang-Chi: Responsabilidade e Cobrança

Reflexão sobre Shang-Chi: Responsabilidade e Cobrança

Olá, marujos! Hoje, faremos uma reflexão sobre o filme Shang-Chi e a lenda dos dez anéis. Nesse filme, acompanhamos o jovem Shang-Chi, que se vê obrigado a retornar para seu país e confrontar seu pai, sem imaginar que isso lhe levaria a uma aventura mística. Nessa reflexão, abordarei os temas mais recorrentes do filme: a necessidade de assumir responsabilidades ao mesmo tempo em que existe uma cobrança externa para que isso seja feito logo. Tem spoilers na descrição do filme, mas não tem spoilers na reflexão em si. Vamos lá!

Sobre Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis (COM Spoilers)

Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis é um filme de super-herói da Marvel / Disney de 2021. Ele já está disponível na Disney+.

A história começa falando da lenda dos dez anéis, mostrando que um homem chamado Wenwu (Tony Leung) encontrou esses anéis que lhe davam poder sobre-humano e os utilizou para formar um império e uma organização criminosa secreta. Como os anéis também lhe deram longevidade, sua história virou lenda e ele ficou conhecido como “O Mandarim”.

Os anos passam e Wenwu quer ainda mais poder. Por isso, ele decide atacar uma vila mística chamada Ta Lo. Lá, ele conhece Ying Li (Fala Chen), a guardiã do local. Ambos acabam se apaixonando e decidem abandonar suas vidas atuais para viverem juntos. Dessa união, nascem Shang-Chi (Simu Liu) e Xialing (Meng’er Zhang).

Mesmo Wenwu tendo deixado o passado para trás, rusgas antigas ainda existiam com alguns inimigos. Por causa disso, sua casa foi atacada e sua esposa morta. Desolado, o Mandarim volta a usar os anéis e retoma sua antiga vida, buscando vingança. Além disso, ele também decide iniciar seus filhos nas artes marciais e prepará-los para serem membros da sua organização: os Dez Anéis.

Shang-Chi, aos 14 anos, foi mandado para sua primeira missão: matar o homem que matou sua mãe. Ele vai, mas nunca mais volta.

Passam-se alguns anos e agora Shang-Chi se chama Shaun. Ele mora em São Francisco, EUA e trabalha como manobrista. Sua melhor amiga é Katy (Awkwafina), a qual ele conhece desde a época em que ele chegou nos EUA e que trabalha com ele. Ambos levam uma vida normal, sem se preocuparem em serem grandes pessoas na sociedade (fato que motiva muitas críticas da mãe de Katy).

Tudo ia bem até que Shaun e Katy são atacados em um ônibus por membros dos Dez Anéis. Isso obriga Shaun a contar seu passado para Katy e irem os dois para China, encontrar a irmã de Shang-Chi, que estaria em perigo. Lá, descobrem que Xialing possui um complexo de lutas clandestinas e que ela guarda rancor de Shang-Chi por ele ter a abandonado.

O pai Wenwu aparece e conta para os filhos seu plano de atacar novamente Ta Lo (o antigo lar de sua esposa). Wenwu está convencido que sua esposa foi presa pelos habitantes da vila e precisa ser libertada, ignorando todas as indagações dos filhos que isso era um delírio do pai.

Como eles não convencem o pai de que sua mãe morreu e nada pode ser feito, eles decidem ir para Ta Lo avisar os habitantes da vila para que eles se preparem. Chegando lá, descobrem que a vila é mística e ela serve de proteção contra um ser demoníaco que quer se libertar e está influenciando Wenwu para destruir a proteção.

Como isso vai terminar? Só vendo o filme! 🙂

Reflexão sobre Shang-Chi: “Se você não mirar em nada, nunca irá acertar nada”

Para mim, o grande tema filosófico de Shang-Chi e a lenda dos dez anéis é a necessidade de se assumir responsabilidades na vida. E a melhor frase que representa isso é dita por uma anciã da vila Ta Lo para Katy, enquanto esta estava treinando arco e flecha para ajudar na proteção da vila. Na ocasião, Katy estava atirando em direção aos alvos, mas sem preocupação com o que iria acertar.

A frase da anciã tanto serviu como ensinamento para aquele treinamento, como serviu de ensinamento para a vida que Katy levava. Katy demonstrou ser alguém inteligente e sagaz, mas subaproveitava suas qualidades.

Sem desprezar as pessoas que trabalham como manobrista, o filme mostra que Katy podia usar das suas capacidades para algo maior e mais desafiador. Porém, ela não queria. Ou melhor, ela temia.

Reflexão sobre Shang-Chi: Fracassar é Pior do que Tentar?

Na cultura oriental, é muito comum vermos jovens sendo extremamente cobrados por seus pais, que depositam sobre eles grandes responsabilidades em serem “alguém na vida”. Esse peso gera grandes números de depressão e suicídio entre esse grupo. Por isso, é muito pertinente ver uma Katy que prefere não se arriscar na vida, que prefere ser cobrada diariamente que precisa ser alguém, do que uma pessoa que arrisca ser algo e fracassa.

Muito provavelmente, os motivos de Katy não mirar em nada está no fato dela ter medo de não ser boa suficiente naquilo que faz. Como manobrista, ela é excelente; mas e em outras coisas? Katy prefere não arriscar, não assumir responsabilidades. 

Porém, o motivo disso reside exatamente em sua família que lhe cobra diariamente essa responsabilidade, mas coloca o alvo tão acima da vista de Katy que ela não tem coragem de se arriscar com medo de fracassar.

Reflexão sobre Shang-Chi: Decidindo sua Vida aos 15 Anos

Acredito que esse é um dos grandes problemas pelos quais passam os adolescentes brasileiros, especialmente os de classe média ou acima. Esses jovens são diariamente cobrados a pensarem no futuro, se planejarem para a faculdade que irão fazer, na profissão que irão escolher, no dinheiro que precisarão ganhar, no status que precisarão sustentar.

Esses jovens não têm mais o direito de viverem o presente, de curtirem o momento, de escolherem seus futuros quando eles quiserem. E não pensem que estou defendendo “vagabundagem”. Não é isso!

Naturalmente, todos nós pensamos no futuro e isso está presente para todos nós, desde a juventude até a velhice. É só parar para pensar o que você planeja fazer no ano que vem ou daqui a alguns anos. Todos temos planos, metas e desejos. Por isso, acredito que todos (ou a grande maioria) desses jovens naturalmente desenvolvem uma ideia de futuro, traçam metas e planos para realizem seus desejos.

Alguns, já querem desde novos alguma coisa e irão fundo nisso. Outros, mudam constantemente de ideia sobre o que querem dos seus futuros. Outros, não conseguem vislumbrar nada até que algo aconteça e tenham um “estalo” do tipo “é isso que quero da minha vida”.

O problema se encontra na cobrança, porque cada um tem o seu momento, o seu despertar. Mas nós, adultos, que já fomos como esses jovens e esquecemos, queremos que eles tenham seus futuros traçados já com 15 anos e ai desse futuro ser algo muito simplório aos nossos olhos!

Reflexão sobre Shang-Chi: É Normal Errar o Alvo ou Mirar outro Alvo

Os dias atuais nos trazem dois grandes desafios: existe uma infinidade de possibilidades que podemos escolher para nosso futuro e cada vez temos menos tempo para nos dedicar a alguma coisa. Juntos, esses fatores fazem com que nos desesperemos a cada dia com tudo aquilo que “precisamos” fazer e não conseguimos. Isso nos passa a sensação de fracasso, por não darmos conta de tudo. Só que isso está errado.

As infinitas possibilidades deveriam ser um alívio para nós porque nos permitiria fazer escolhas mais adequadas para quem somos, e não mais termos que seguir um padrão mais ou menos adequado para nós, que nos representa em alguns aspectos, mas não em outros. Ter infinitas possibilidades não significa ter que fazer tudo, mas poder encontrar algo que realmente nos completa.

Da mesma forma, a tecnologia e os avanços sociais vieram para nos dar tempo, seja tempo de vida ou tempo no dia. Por isso, é bizarro termos mais tempo e, ao mesmo tempo, parecer que estamos sem tempo. Na verdade, o grande problema é como estamos gastando o nosso tempo…

Dito tudo isso, observamos que se a vida hoje nos dá infinitas possibilidades, é porque podemos escolher bem aquilo que queremos do nosso futuro, mesmo que demore. É válido podemos fazer experiências, nos arriscar. Isso é muito melhor do que nos obrigarmos a seguir um caminho que nos pareceu interessante antes, mas que não é agora. E, só por causa disso, acabarmos vivendo uma vida infeliz. Ou, por dizerem que não podemos mudar, nos recusar a escolher (que foi o que aconteceu com Katy).

Além disso, não é porque tomamos uma decisão em nossas vidas que o caminho para realizar tal projeto seja simples. Dependendo de nossas escolhas, pode ser que erremos muito, tenhamos que nos readaptar várias vezes, até que em certo momento consigamos realizar nossos objetivos. Dessa forma, mesmo sabendo com certeza o que queremos, pode ser que demoremos a realizar nossos objetivos e isso é normal. O importante é ter paciência e dedicação porque uma hora vai dar certo.

Conclusão

Fazer escolhas nunca é algo fácil, ainda mais quando sabemos que essas escolhas irão influenciar toda a nossa vida futura. Por isso, precisamos de mais apoio nesse momento e menos cobrança. Todos nós, alguma hora, saberemos o que fazer de nossas vidas. Precisamos dar tempo ao tempo. É muito melhor uma escolha demorada e bem-feita, do que uma escolha apressada e malfeita.

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Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.