Reflexão sobre Duna: Profecias, Destino e Peões na Política

Reflexão sobre Duna: Profecias, Destino e Peões na Política

Olá, marujos! Hoje, faremos uma reflexão sobre os filmes Duna (Parte 1 e Parte 2) e, acredito eu, que também serve para o livro (apesar de não o ter lido). Na história, Paul Atreides é um jovem nobre que se vê envolvido em uma grande conspiração política intergaláctica ao mesmo tempo que é considerado um guerreiro lendário previsto nas profecias de fanáticos religiosos. Na reflexão, falo sobre o poder das profecias, sobre a aceitação do destino e como todos são apenas peões no jogo político. Teremos spoilers da obra! Vamos lá!

Sobre a Obra (COM Spoilers)

A obra original Duna é um livro escrito em 1965 por Frank Herbert. É considerado uma obra-prima da ficção científica moderna. Ele possui várias continuações criadas pelo próprio autor e vários prelúdios criados pelo filho do autor Brian Herbert em parceria com Kevin J. Anderson.

Recentemente, o livro Duna foi adaptado em dois filmes Duna (2021) e Duna: Parte 2 (2024). Existe um interesse em continuar a produção de filmes dos livros seguintes.

Em um futuro distante, os seres humanos descobriram como viajar entre planetas e, agora, o universo é administrado em um modelo feudal, com um imperador governando tudo e casas nobres administrando os planetas de forma subserviente.

Arrakis é um planeta desértico estratégico porque possui uma especiaria usada para várias coisas, sendo essencial para o império e sua fonte principal de renda. A casa Harkonnen era a responsável pela sua extração, mas foi obrigada pelo imperador a sair e deixar o serviço para a casa Atreides (tudo parte de um plano imperial para provocar um conflito e destruir a casa Atreides, que estava se despontando).

Paul Atreides é o segundo na linha de sucessão, filho do duque Leto Atreides com a concubina Lady Jessica, uma Bene Gesserit (irmandade de mulheres que conseguem perceber se as pessoas mentem ou falam a verdade e que possuem um objetivo obscuro próprio para o universo).

Em Arrakis, existe o povo local, chamado Fremen, que chama seu planeta de Duna (daí o nome da obra). Eles lutam contra qualquer casa que chega ao planeta porque sentem que estão sendo explorados. Os Fremen são considerados um povo menos desenvolvido e muito religioso. Inclusive, grande parte da sua população espera o cumprimento de uma antiga profecia, que promete o erguimento de um líder salvador do seu planeta dessa exploração e que devolveria a água para ele.

Os Atreides estavam conseguindo administrar a extração da especiaria sem criar grandes problemas com os Fremen, até que são atacados pelos Harkonnen e praticamente destruídos. Só sobrevivem Paul e Jéssica, que acabam perdidos no deserto.

Ambos são encontrados pelos Fremen. Para não serem capturados e mortos, Paul consegue mostrar seu valor como guerreiro e sua disposição em lutar ao lado dos Fremen, se tornando um deles. Jéssica, por outro lado, utiliza seu conhecimento e poder de Bene Gesserit para se tornar uma líder espiritual do povo e convencer a todos que Paul é o líder salvador que as profecias prometiam.

Paul não gostava de ser considerado essa pessoa da profecia, mas acaba aceitando o papel quando percebe que essa é a única forma de unir todos os Fremen para um ataque final contra os Harkonnen e contra o próprio imperador e, assim, conseguir a libertação dos Fremen e sua própria vingança.

A história termina com Paul conseguindo subjugar os Harkonnen e encurralando o imperador, se colocando como o próximo na linha de sucessão do império.

Para ver com detalhes essa obra, leia Duna (1965) e assista aos filmes Duna (2021) e Duna: Parte 2 (2024).

Reflexão sobre Duna: O Poder das Profecias e a Luta contra o Destino

A palavra profecia tem origem grega e significa “capacidade de interpretar o desejo dos deuses“. De fato, os gregos tinham oráculos que, quando consultados, podiam predizer coisas que iriam acontecer. Na mitologia grega, todas as profecias se concretizavam.

Curiosamente, muitas figuras tentaram fugir do seu futuro predito e, devido a suas atitudes, acabam provocando exatamente aquilo que queriam evitar. Creio que uma das histórias mais famosas seja a de Édipo (perpetuada no livro Édipo Rei de Sófocles): quando bebê, o Oráculo de Delfos disse que ele mataria seu pai e casaria com sua mãe. Então, os pais de Édipo, reis de Tebas, mandaram um servo matar a criança. O servo teve pena e largou o bebê na floresta. Ele foi encontrado e salvo, cresceu, matou o rei em uma briga de estrada (sem saber que era o rei). Depois, Édipo salvou Tebas do mostro Esfinge e foi coroado rei, casando com a rainha-viúva, sua mãe. Só depois de muito tempo Édipo descobriu a verdade.

Na obra Duna, a profecia do Kwisatz Haderach foi proposta e seguida pelas Bene Gesserit durante milênios. Elas buscavam a criação de um líder perfeito, que traria paz duradoura e prosperidade ao império. Porém, seguindo os desdobramentos provocados pelas próprias Bene Gesserits, não era para Paul Atreides ter nascido e muito menos se tornado o Kwisatz Haderach. Isso só ocorreu porque sua mãe, que era uma Bene Gesserit, descumpriu as ordens superiores e agiu por conta própria para provocar toda uma série de novos desdobramentos que culminaram na atribuição de Paul como o líder da profecia. E ele de fato cumpriu tudo o que estava previsto.

Então, perceba que a profecia não era para Paul, mas ele assumiu-a para si quando sentiu que era necessário e conseguiu se colocar como o verdadeiro líder profetizado. Porém, isso só foi possível porque, no passado, se criou essa profecia em que Paul cumpriria um outro papel. Além disso, talvez a próprio vontade das Bene Gesserits não quererem Paul como o líder profético fazia parte dos planos do destino para o cumprimento da profecia.

No começo, Paul não queria ser esse líder profético. Ele queria ser apenas um soldado Fremen, ajudando o povo que o acolheu. Contudo, quanto mais ele se destacava em campo, mais as pessoas que já o enxergavam como o Kwisatz Haderach confirmavam sua fé e mais pessoas se convenciam de que ele era essa pessoa. Ou seja, na luta para se distanciar da profecia, ele acabou se aproximando.

As profecias, hoje, normalmente têm o poder de dar esperança (ou, ao menos, direcionamento) para as pessoas. Ter uma profecia te mostrando que alguma coisa vai acontecer no futuro (geralmente boa) te acalma por você saber como tudo terminará ou se desdobrará, fazendo com que o presente (normalmente ruim) não seja visto como o fim de tudo, mas apenas parte do caminho. É por isso que muitas religiões possuem profecias de que chegará o dia em que todos os fiéis se salvarão ou prosperarão enquanto os infiéis se perderão ou fracassarão. Se não fosse uma fé nesse distante futuro, as religiões já teriam sido abandonadas porque você nunca vê chegar esse grande momento em que tudo dará certo na sua vida.

Ao mesmo tempo, muitas pessoas têm medo de saberem que seus futuros podem já ter sido escritos, que sua vida já possui, de alguma forma, um destino. Parece que crer no destino é sinônimo de acreditar que não se tem liberdade, que tudo o que você faz já era esperado pelo universo, que você não tem nenhuma autonomia ou controle sobre seus atos. Mas será que é tão ruim assim lutar contra o destino?

Veja que Paul Atreides não era, a princípio, para ser o representante da profecia do Kwisatz Haderach. Nem as Bene Gesserits queria isso, nem ele próprio queria isso. Porém, Paul percebeu que se abraçasse esse destino, ele conseguiria tudo o que precisava para realizar aquilo que ele queria originalmente (salvar Duna e o povo Fremen). Talvez, ele até conseguisse de outra forma, mas foi assumindo a figura profetizada que ele realizou o seu desejo.

Às vezes, o melhor que temos que fazer é aceitar o destino de nossas vidas e crer que profecias são reais. Fazer esse movimento é, de alguma forma, se libertar das obrigações de lutar contra o desconhecido, de criar caminhos diferentes. Aceitar o que a vida irá nos proporcionar não significa perder o controle do combate, mas apenas saber o final da luta. Aceitar o futuro pode ser a melhor forma de realizar aquilo que queremos de nossas vidas.

Reflexão sobre Duna: Somos Todos Peões?

Outro ponto de destaque de Duna é a disputa política (limpa e suja) que ocorre pelo poder. Curiosamente, veremos vários personagens buscando esse poder político por diversos motivos, nobre ou infames, justos ou injustos, para o bem coletivo ou para fins egoístas. Mas todos jogam o jogo da política.

Nesse jogo que envolve movimentos cuidadosos e de perspectivas a longo prazo, me pergunto se todos não seriam peões dessa disputa.

As Bene Gesserits construíram cuidadosamente os caminhos para a profecia colocando a irmandade acima de cada irmã.

As casas Harkonnen e Atreides possuem um passado conflituoso que fez e faz gerações se odiarem e se matarem pela honra e glória da casa (e não dos seus membros).

Algo semelhante ocorre com a casa Corrino (a casa governante do império), cujo líder quer perpetuar o poder da liderança para seus descendentes ao custo de destruir uma casa que aparentemente tinha potencial para reivindicar o trono em um futuro e acaba, em alguma medida, sacrificando a si mesmo nessa busca e criando sua nêmese.

Sei que a maioria das pessoas odeia política, mas não podemos fugir dela porque esse é o meio pelo qual os seres humanos interagem entre si e se organizam. Se existe interação humana, existe a política. Uma tirania, uma ditadura ainda é política. E o principal motivo das pessoas odiarem a política é porque todos são peões dela.

Quando observamos as disputas políticas presidenciais ou parlamentares, quando vemos as disputas de poder entre partidos ou entre os três poderes, quando vemos os acordos judiciários e as eleições, nos perguntamos porquê disso tudo, porque aquelas pessoas brigam e disputam tanto a ponto de não se importarem (aparentemente) com o sofrimento, com as dificuldades do povo.

Odiamos política quando vemos o nosso dinheiro virar um imposto que será mal-empregado ou até mesmo desviado, quando o candidato que votamos não cumpre o que prometeu ou se alia com o adversário que sempre criticava, quando falta o básico para nossas vidas ou para pessoas próximas a nós enquanto os políticos têm tudo e de sobra, quando a justiça não decide por nós ou pelo povo e se preocupa só com situações distantes da realidade do dia a dia.

Nessas horas, nos sentimos meros peões de um grande jogo político porque estamos sendo usados para as disputadas deles. Porém, acredito que até mesmo esses políticos muitas vezes viram peões: peões de seus partidos, peões dos seus patrocinadores, peões de suas ideologias. Volta e meia um político cai porque o próprio grupo o abandona, o “joga na cova dos leões”. Ninguém está seguro no jogo político.

A impressão que tenho é que a política virou um ser próprio, que se alimenta dos diversos tipos de peões que existem, uns mais baixos e outros mais altos na hierarquia. Mas isso só acontece porque deixamos a política chegar nesse ponto, porque a sociedade perdeu a mão com o que é política. Infelizmente, não tenho ideia de como recuperar seu papel original. Só sei que precisamos parar de servir à política e voltar a fazê-la servir a nós.

Reflexão sobre Duna: Conclusão

Ao final dessa reflexão sobre Duna, percebemos que essa é uma obra complexa, que mexe especialmente com política e fanatismo religioso. Essa reflexão sobre Duna nos mostrou que profecias existem e que somos nós mesmos que as realizamos; que destinos existem e que não tem problema segui-lo; que no jogo político, somos todos peões. Será que saber tudo isso é bom ou ruim? Depende de como você encara o seu futuro.

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Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.