Reflexão sobre Bebê Rena: A Falta de Amor-Próprio

Reflexão sobre Bebê Rena: A Falta de Amor-Próprio

Olá, marujos! Hoje, faremos uma reflexão sobre a minissérie Bebê Rena. Nela, um atendente de bar começa a ser perseguido por uma cliente que ele atendeu. Na reflexão, abordarei como os dois personagens principais sofrem com a falta de amor-próprio e acabam tendo atitudes ruins por causa disso. Teremos spoilers da série. Vamos lá!

Sobre a Série

Bebê Rena é uma minissérie dramática baseada em fatos reais que estreou em 2024 na Netflix e se tornou um fenômeno.

Donny (Richard Gadd) é um escocês que vai para Londres (capital da Inglaterra) em busca de sucesso como comediante. Porém, já está a alguns anos estagnado na sua carreira e atualmente trabalha como garçom de um pub.

Certo dia, Martha Scott (Jessica Gunning), uma mulher mais velha que ele, entra no bar e ele lhe oferece um chá gratuitamente, já que ela estava com uma expressão muito triste e disse que não tinha dinheiro. Ela fica encantada por aquele gesto e começa a frequentar diariamente o pub.

No começo, mesmo Donny não sentido atração por Martha, ele gosta da atenção que recebe dela. Porém, quando ela começa a insistir em querer algo a mais e seus colegas de trabalho começam a fazer brincadeiras sobre um suposto relacionamento deles, Donny resolve pôr um fim na situação deixando claro que nada aconteceria entre eles.

Nessa hora, Martha começa a se transformar em uma perseguidora, mandando-lhe constantes e-mails, indo até sua casa e frequentando diversos ambientes que Donny frequentava fora do pub.

As coisas vão só piorando ao ponto que ela começará a incomodar a família de Donny e atrapalhar seu relacionamento.

Será que Donny conseguirá por um ponto final nessa perseguição antes que as coisas percam ainda mais o controle? Descubra vendo Bebê Rena na Netflix.

Reflexão sobre Bebê Rena: Disclaimer / Atenção!

Por causa do fenômeno que se tornou essa série, muita coisa já aconteceu e ainda deve acontecer sobre ela no mundo real.

O primeiro ponto que quero destacar para essa reflexão é: mesmo ela sendo inspirada em fatos reais, irei tratar os personagens como ficções. Ou seja, não irei considerar o que foi real ou não. Irei me basear no que é mostrado na série.

O segundo ponto é sobre uma possível doença mental da personagem Martha. Como não sou psiquiatra ou psicólogo e esse blog é de filosofia, irei fazer uma reflexão ignorando possíveis diagnósticos clínicos.

Por fim, mesmo a história sendo muito pesada e triste em alguns aspectos, deixem as pessoas reais em paz. Se alguém precisa intervir, é a polícia e não você!

Reflexão sobre Bebê Rena: Martha e sua Obsessão pelo Outro

Como vimos na série, a atitude de Martha com Donny não foi sua primeira vez. Ela já tinha tido uma atitude semelhante a alguns anos, inclusive sendo presa por isso. Dessa forma, podemos compreender ainda mais claramente que existe algum problema em Martha.

Podemos dizer que Martha não possui amor-próprio e, por isso, fantasia sua vida, criando em sua cabeça situações perfeitas para ela e se tornando obsessiva com quem supostamente iria compartilhar essa vida.

Diante da dura realidade que é a vida, só temos duas escolhas: encará-la ou fugir dela. Encarar é a atitude adequada, mas nem por isso fácil. Ao contrário, costuma ser a mais difícil porque ninguém quer sofrer ou passar dificuldades (sejam materiais ou emocionais). A fuga, por outro lado, é um caminho rápida e ousado. Pode ocorrer por uma atitude suicida ou pode cair na fantasia. Foi na fantasia que Martha resolveu se esconder de sua realidade.

Primeiramente, temos toda a criação que ela fez do seu trabalho como advogada de políticos britânicos. Sua fantasia lhe fez criar falsos contatos no celular e fazer montagens para seu Facebook. Tudo para alimentar suas histórias em que ela era alguém importante. Ela realmente era advogada (como foi mostrado no episódio em que Donny vai ao seu apartamento), mas não parece que ela esteja exercendo sua profissão.

Depois, temos seu histórico policial de perseguição e falsas acusações sobre seu ex-chefe ou colega de trabalho (não lembro exatamente) e familiares dele. Ela parecia até aquele momento alguém normal, mas que surtou. Aconteceu alguma coisa muito específica que desencadeou esse comportamento? Não sabemos, mas podemos supor que sim já que ela tinha uma casa, uma renda (ou poupança) e chegou a se formar. Logo, dá para acreditar que ela tinha uma vida “normal” antes do primeiro incidente.

Por fim, chegamos ao seu “relacionamento” com Donny. Tudo leva a crer que foi algo casual. Só aconteceu: ela entrou naquele pub por um acaso e ele estava lá. Ele teve pena dela e ela acabou despertando novamente sua obsessão.

Aos olhos dos outros, Martha é alguém normal e até mesmo, no começo, ela se comporta assim com Donny. Insistente talvez, mas nada doentio. Porém, as coisas vão perdendo o controle enquanto Donny não dava um ponto final nas investidas de Martha. Depois dos excessos de Martha, quem estava em volta de Donny conseguia ver o transtorno de Martha; mas em outros ambientes, ela se comportava normalmente.

No final da minissérie, descobrimos a inspiração do apelido que ela deu a ele: bebê rena é uma referência ao bichinho de pelúcia que ela tinha quando criança e era o seu brinquedo preferido, brinquedo esse que servia de suporte emocional quando ele presenciava os problemas conjugais de seus pais.

Com essa informação, conseguimos entender como Martha era “quebrada” por dentro desde a infância. Ela não se amava o suficiente para conseguir encarar sozinha os problemas que a vida lhe apresentou desde pequena e acabou encontrando no apego emocional a algo (ou alguém) a solução para os seus problemas.

Martha se apegou a Donny, vendo nele seu novo suporte emocional. Ele se tornou necessário para ela e ela não sabia mais como viver sua vida sem ele. Essa obsessão foi só piorando conforme ele ia se afastando dela ou ela sentia que ele ia se afastando dela.

Martha é um caso crítico, mas seu comportamento aparece em várias pessoas em menor grau, que se apegam a alguém e ficam dependentes emocionais dessas pessoas. Daí, quando são dispensadas, começam a “surtar” em diferentes graus e modos.

A reflexão que devemos ter está no aprendizado com o erro de Martha: nunca devemos colocar nossa felicidade no colo de outra pessoa. Nunca podemos ser dependentes de ninguém. Devemos aprender a bastar-nos por nós mesmos. A pessoa que precisa necessariamente nos amar somos nós mesmos. Sem isso em vista, acabamos nos apegando de forma indiscriminada a outra pessoa.

Reflexão sobre Bebê Rena: Donny e sua Carência Afetiva

Donny pode ser classificado como o típico “cara fracassado”: saiu de casa para tentar realizar seu sonho, não conseguiu e acabou em uma “vida de merda”, bem aquém daquilo que queria para si.

Não sabemos muito do passado dele, mas pudemos intuir que ele não tinha um diálogo muito franco com seus pais porque ele escondeu tudo o que passou e tinha medo da reação deles, só contando sobre o abuso sofrido e sua sexualidade depois que as coisas fugiram do controle (porque alguém gravou seu desabafo no show).

Também vimos que seu estilo de comédia é meio “esquisito” para dizer o mínimo, sendo algo muito forçado, como se ele estivesse desesperado para chamar atenção para si da forma mais absurda possível. Suas apresentações despertavam pena (do público na série e de nós mesmos na vida real). Tinha aquela sensação de vergonha alheia, em que você quer que a pessoa simplesmente pare porque você não aguenta mais vê-la passando por aquela humilhação.

Com esses elementos e mais o próprio desabafo e autorreconhecimento do personagem, vemos o quão carente Donny é. Por causa disso, Donny acabou deixando Martha desenvolver seu relacionamento com ele, deixando-a preencher essa carência de atenção que ele tinha.

Martha era alguém que o “amava” como ele era, ou melhor, como ele imaginava que era ou gostaria de ser. Martha enchia o seu ego porque era alguém que demonstrava viver para ele, tratando-o como alguém importante. Até então, Donny não era nada para ninguém.

Além disso, vimos consternados todo abuso que Donny sofreu de Darrien (Tom Goodman-Hill). Donny sentiu muito cedo que aquela relação era tóxica, que ele estava sendo menosprezado como comediante e escritor, que ele estava lá para servir aos interesses pessoais de Darrien e mesmo assim continuou indo, aceitando cada abuso de drogas e investida até as coisas chegarem em um nível crítico que lhe “quebrou” totalmente. Porém, isso demorou tanto que estragou seu relacionamento com a namorada da época e, de uma certa forma, também afetou como ele ficou depois disso tudo.

Donny se menosprezava tanto que muitas vezes retomou o contato com Martha devido a carência que ficou de alguém que se importava com ele. Quando a perseguição parava, era ele quem a procurava. Ele só tomou uma decisão definitiva quando sentiu que sua família foi ameaçada. Até então, ele preferiu manter essa relação doentia com Martha, em que ele reclamava dos excessos ao mesmo tempo em que gostava da sensação de ser perseguido, de saber que alguém se importava tanto com ele.

O cúmulo, para mim, foi ele retornar ao Darrien, depois de tudo pelo que passou, aceitando um emprego como se os dois não tivessem um passado traumático. Como ele pode?

Ele pode porque a falta de amor-próprio dele fez com que ele precisasse da sensação de alguém lhe “amando”, não importando a forma doentia de amor que fosse. Isso ficou claro quando ele teve um estalo ao receber gratuitamente a bebida do barman no final da série.

Ao ser tratado de forma piedosa e gentil pelo atendente, Donny o olhou com amor, como se aquele cara também lhe amava. Nessa hora, ele entendeu tudo o que Martha fez.

Donny é o exemplo negativo de todas as pessoas que aceitam viver “situações de merda” com outras pessoas só para receberem migalhas de atenção e cuidado. São homens e mulheres que não terminam um relacionamento que saber ser ruim porque preferem se apegar ao 1% feliz e desprezar os 99% de tristeza.

Que possamos olhar para Donny e entender que não precisamos ser o centro das atenções de ninguém a não ser nós mesmos. Nós somos o suficiente para nos amarmos e preenchermos nossa carência interior. Não precisamos mendigar atenção emocional de ninguém!

Conclusão

Percebo que os rumos da história dessa minissérie foram o que foram porque duas pessoas sem amor-próprio se encontraram e viveram um “relacionamento” problemático. De um lado, uma mulher que precisava se apegar a outra pessoa para ser feliz; do outro lado, um cara que precisava “ser apegado” por alguém para ser feliz. Esse encontro acabou resultando em problemas emocionais para ambas as pessoas e para outras que estavam perto deles. Que aprendamos a nos amar mais e não depender de ninguém além de nós mesmos: nem para depositarmos nosso amor, nem para recebermos amor. Só quando conseguirmos ser autossuficientes é que seremos capazes de viver um relacionamento saudável com outra pessoa.

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Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.