Reflexão sobre Olhos que Condenam: Não-Verdades e Suas Consequências

Reflexão sobre Olhos que Condenam: Não-Verdades e Suas Consequências

Olá, marujos! Hoje, faremos uma reflexão sobre a minissérie Olhos que Condenam. Baseada em fatos reais, essa minissérie conta a história de cinco jovens negros do Harlem que foram equivocadamente condenados por um crime que não cometeram. Na reflexão, abordo os problemas de manipular a verdade ou defender mentiras e as consequências disso para vidas pessoais e sociais. Teremos spoilers. Vamos lá!

Sobre a Minissérie (COM Spoilers)

Olhos que Condenam é uma minissérie da Netflix de apenas quatro partes que estreou em 2019. A produção foi muito elogiada e ganhou vários prêmios e indicações.

Em 1989, um crime brutal contra uma mulher branca que corria no Central Park, Nova Iorque ocorreu.

A polícia prendeu cinco adolescentes negros que estavam nas proximidades, acreditando que eles eram os culpados.

Existe uma pressão da sociedade nova-iorquina para que justiça seja feita e, por causa disso, as investigações começam a ser tendenciosas para garantir a culpabilidade dos cinco meninos.

Mesmo sem evidencias claras, os cinco são condenados. Os quatro mais novos vão para reformatórios e o mais velho, para a prisão comum. Lá, eles sofrem. Do lado de fora, suas famílias sofrem.

Todos tiveram que cumprir integralmente suas penas. Voltando para suas casas, tiveram dificuldades de se reajustar na sociedade.

Anos depois, uma pessoa presa por outros crimes confessou ter sido o estuprador da corredora do Central Park. Exames de DNA confirmaram.

Os cinco (agora) homens processam a cidade de Nova Iorque e ganham. Mas nenhum dinheiro compensa o trauma vivido por eles…

Quer entender em detalhes todo esse drama? Assista Olhos que Condenam na Netflix.

Reflexão sobre Olhos que Condenam: Quanto Vale a Verdade?

Conceituando a Verdade

Desde os filósofos da Grécia antiga, a humanidade sempre perseguiu a verdade. Mas o que é a verdade?

O conceito de verdade mais aceito e pacificado entre as pessoas é “aquilo que corresponde aos fatos”. Ou seja, é verdade que está chovendo lá fora se, ao irmos para o lado exterior da casa, estiver de fato chovendo.

A verdade pode se opor a duas coisas: falsidade e mentira.

Uma afirmação é falsa quando aquilo que é dito não corresponde ao fato. Por exemplo, será falsa a afirmação de que está chovendo lá fora se, ao sair da casa, não estiver chovendo.

De outra forma, uma afirmação pode ser mentirosa quando aquilo que é dito não corresponde ao fato e a pessoa que disse aquilo já sabia que afirmação não correspondia ao fato. Por exemplo, eu dizer que está chovendo lá fora sabendo que não está chovendo.

A Importância da Verdade

Todo esse preâmbulo serve para introduzir a afirmação de que a verdade é importante para os seres humanos. Como seres pensantes e racionais, a verdade serve como orientação de nossas ações.

A verdade é um guia do nosso agir cotidiano. Nossas decisões se baseiam naquilo que tomamos como verdadeiro. É por isso que, desde o início da educação parental, a criança é ensinada a falar sempre a verdade. Só depois ela aprenderá (geralmente por observação) que esse “sempre” é ligeiramente relativo…

Sendo a verdade um guia moral e social para nós, uma das coisas que exigimos dos nossos representantes públicos, sejam eles os políticos (eleitos) ou os funcionários (contratados ou concursados), é que ajam buscando sempre a verdade.

Os funcionários públicos têm o dever de falar a verdade e buscar a verdade em seus atos porque eles, enquanto estão no exercício de suas funções, estão guindo moralmente e socialmente o povo ao qual eles representam.

De modo geral, deveríamos confiar naquilo que é dito e praticado por um funcionário público porque ele fala em nome do Estado enquanto está exercendo a sua função pública.

Caso “Corredora do Central Park”

Diante disso que falei até agora, podemos perceber que a atitude dos órgãos públicos de Nova Iorque foi contra tudo o que se esperava deles.

A apreensão dos cinco adolescentes já é algo complicado porque foi feita após os incidentes e sem nenhum tipo de embasamento específico (já que a denúncia era de uma turba de adolescentes e qualquer indivíduo poderia ou não estar nela). Mesmo assim, talvez ainda dê para “passar um pano” se pensarmos que eles seguraram os jovens para uma averiguação e depois os soltariam. Mas aí começaram os problemas…

Claramente buscou-se incriminar os cinco garotos mesmo sem provas concretas e até mesmo com provas falseadas. Basicamente, toda a acusação se baseou em confissões que eles fizeram depois de terem sido pressionados e assediados. Tudo sem a presença dos pais deles ou advogados. Praticamente uma tortura psicológica.

Existe um ditado que diz “contra provas não há argumentos”, mas esse ditado foi totalmente ignorado nesse processo porque as provas inocentavam os garotos e mesmo assim eles foram condenados.

A pressão social era tão grande que a polícia e a promotoria preferiram fechar os olhos para a justiça e entregar inocentes para o linchamento público. A mesma coisa aconteceu com os jurados, que “lavaram suas mãos”, fazendo vista grossa para todos os problemas do caso apontados pelos advogados de defesa.

Aquele discurso de “inocente até que se prove o contrário” foi totalmente ignorado e muito provavelmente por questões raciais e socioeconômicas. Se fossem cinco adolescentes brancos e/ou ricos, iria-se pressupor suas inocências. Mas como eram cinco adolescentes pretos/latinos e pobres, já se pressupõe que são culpados…. Isso aconteceu nesse caso e continua acontecendo, tanto nos EUA quanto no Brasil!

Reflexão sobre Olhos que Condenam: As Consequências em Ignorar a Verdade

As Consequências para as Vítimas

Obviamente, aqueles que mais sofreram com todo esse processo malconduzido foram os cinco jovens condenados. 

Seus exemplos mostram o quanto informações falsas ou mentirosas podem prejudicar alguém. Fazer justiça a qualquer custo muitas vezes pode causar ainda mais injustiça.

Mesmo que esses cinco adolescentes tivessem sido os culpados, nenhuma pena reverteria o mal cometido às vítimas. Nenhuma pena traria de volta a constituição física e emocional de ninguém. Logo, não fazia sentido condenar alguém sem a certeza que essa pessoa é a culpada.

O caso da série serve muito bem para nós aprendermos a não julgarmos antecipadamente ninguém. Não é correto um discurso de que “qualquer coisa, depois pede desculpas” porque após o mal ser feito, não dá para revertê-lo 100%.

Dessa forma, precisamos parar de antecipar condenações e críticas às pessoas, muitas vezes em forma de fofocas e “disse-me-disse”. Vejo isso acontecendo demais em ambientes familiares, de trabalho, na igreja, na política e nas colunas sociais de famosos.

Aprenda a se colocar no lugar da vítima. Perceba o quanto seria ruim você ser julgado e condenado nem provas, sem uma correta averiguação, só porque é mais fácil já ser acusado.

As Consequências para as Autoridades Públicas

Outro problema sério em questões como as apresentadas na minissérie é a credibilidade abalada das autoridades públicas.

Depois que ficou claro e evidente o erro cometido pela polícia e promotoria, as pessoas começam a desconfiar da qualidade dos serviços prestados por esses agentes. Assim, nos próximos casos, mesmo que eles ajam de forma correta e adequada, haverá pessoas que argumentarão coisas como “será que podemos confiar nesse julgamento? Será que eles não erraram de novo ou estão sendo precipitados?” e coisas do tipo.

Quando um agente falha miseravelmente no seu serviço, ele coloca em xeque toda a credibilidade daquele órgão público. E isso é muito ruim porque os cidadãos precisam acreditar no funcionamento da burocracia de Estado. Se aqueles que prestam os serviços não tem credibilidade, o povo não confiará naquilo que eles dizem e isso gerará um caos social.

Todas as vezes que um policial no Brasil faz uma abordagem inadequada de pessoas, isso faz com que a população odeie ainda mais a polícia de modo geral. Isso é péssimo porque a polícia é importantíssima para a nossa segurança e precisa ter credibilidade para fazer seu trabalho. Sem credibilidade, o próprio policial correto fica sem confiança para agir como deve.

O mesmo problema ocorre aqui com os políticos. Depois de tantos casos de corrupção, ninguém acredita que existam políticos honestos, o que afasta boas pessoas da vida política, abrindo ainda mais brecha para a corrupção na política.

Por isso, ficam dois alertas: se você é um agente público, leve seu trabalho a sério porque não é somente a sua imagem que você mancha, mas de toda a instituição; se você é um cidadão, não descredibilize toda uma instituição “apenas” por um erro de alguns agentes.

As Consequências Financeiras para a Sociedade

No final, quando ficou provado o erro do Estado, tanto a cidade quando o estado de Nova Iorque foram processados e tiveram que pagar milhões de dólares de indenização.

O valor é mais que justo, mas o problema é a origem desse dinheiro: não foram os policiais ou promotores que pagaram o valor, foi o Estado. Em outras palavras, os cidadãos.

Foi dinheiro de imposto que teve que pagar essa indenização. Dinheiro que deixou de ser aplicado em segurança, saúde e educação.

Logo, mais um motivo para que órgãos públicos não falhem é evitar desperdiçar dinheiro público porque esse dinheiro acaba deixando de ir para onde deveria.

Reflexão sobre Olhos que Condenam: Conclusão

Olhos que Condenam é uma minissérie pesada, mas necessária para todos compreenderem como é fácil manipular a verdade e aceitar mentiras para “resolver” rápido problemas. Não é para você desconfiar de tudo, como se todos fossem mentirosos, mas sim evitar fazer julgamentos e condenações morais precipitados. Ainda assim, não podemos perder a fé nas instituições sociais; antes, precisamos cuidar delas, retirando aqueles que não as representam direito e educando os que lá trabalham para agirem corretamente.

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Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Reflexão sobre Olhos que Condenam: Referências

WIKIPÉDIA. Verbetes When They See Us (português e inglês) & Caso corredora do Central Park.

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.