Reflexão sobre Homem-Aranha: Sem Volta para Casa

Reflexão sobre Homem-Aranha: Sem Volta para Casa

Olá, marujos! Hoje, faremos uma reflexão sobre o filme Homem-Aranha: Sem Volta para Casa. Nesse filme, vemos Peter Parker tendo que lidar com a revelação da sua identidade secreta (e as consequências das suas escolhas). Na reflexão, falarei sobre a necessidade de evitar criar expectativa com as coisas e sobre redenção tardia. Teremos grandes spoilers do filme, então fiquem avisados! Vamos lá!

Sobre Homem-Aranha: Sem Volta para Casa (COM Spoilers)

Homem-Aranha: Sem Volta para Casa é um filme do Universo Cinematográfico da Marvel (MCU) lançado no final de 2021 nos cinemas. Esse é o terceiro e último filme da parceria entre a Disney e a Fox (detentora dos direitos cinematográficos do Homem-Aranha e seu universo). Por esse motivo, não dá para saber exatamente onde ele estará em streaming no futuro.

O filme começa exatamente onde termina o filme anterior de 2019 (Homem-Aranha: Longe de Casa), com a revelação pública da identidade do Homem-Aranha: Peter Parker (Tom Holland).

Para piorar, não só é revelado quem é o homem por trás da máscara de aranha, como ele também é acusado de matar o Mistério (até então, um herói para as pessoas já que o público não sabia a verdade). Com isso, Peter agora é acusado formalmente e midiaticamente de assassinato!

Com as pessoas divididas entre Homem-Aranha herói e Homem-Aranha vilão, e uma superexposição não só de sua vida particular, mas da vida de sua família e amigos, Peter começa a se desesperar. A gota d’água foi a recusa do MIT em aceitá-lo e seus amigos MJ (Zendaya) e Ned (Jacob Batalon) como alunos por causa dessa confusão (e não porque eles não são competentes / dignos da vaga).

Em uma atitude típica de um adolescente, que não sabe parametrizar direito os seus problemas com os problemas do mundo e não tem muita noção das consequências de seus atos, Peter pede para o Doutor Estranho (Benedict Cumberbatch) fazer um feitiço para todos esquecerem que Peter Parker é o Homem-Aranha e, com isso, desaparecer com todos os problemas que surgiram após a revelação.

Com pena de Peter, Strange inicia o feitiço. Porém, após várias intromissões de Parker no feitiço, Stephen interrompe o encantamento que tinha começado a desandar. O que eles não sabiam é que o feitiço mal lançado gerou uma ruptura no multiverso, trazendo várias pessoas que conheciam o Homem-Aranha de outros universos.

Em um primeiro momento, Peter e Estranho se unem para capturar todos os vilões do multiverso que surgiram. Contudo, sabendo que enviá-los de volta para suas realidades causará a morte desses vilões, Peter fica com pena deles e decide ajudá-los. Isso gera uma briga entre Peter e Estranho, culminando em um Doutor Estranho preso na realidade espelhada.

Peter, tia May (Marisa Tomei), MJ, Ned e o sexteto sinistro (o grupo de vilões que vieram do multiverso) se reúnem para achar uma cura para seus problemas. Na ocasião, o Duende Verde revela que não quer ser curado e causa uma briga, a qual termina com a morte de tia May. Nisso, Peter foge para evitar ser acusado por toda essa confusão.

MJ e Ned, tenta encontrar Peter usam o anel dos magos para abrir um portal até seu amigo. O que eles não esperavam era abrir portais para dois outros Homens-Aranhas, de universos paralelos (Tobey Maguire e Andrew Garfield).

Os dois “novos” Homens-Aranhas se juntam ao nosso Homem-Aranha para lhe mostrar que a perda de alguém querido é um fardo que eles também carregam, e que isso não pode ser impeditivo para se fazer a coisa certa. Com isso, os três se juntam para salvar todos os vilões antes de mandá-los para seus respectivos universos.

Conseguindo realizar o feito com os vilões, o nosso Peter Parker descobre que só conseguirá evitar um colapso do multiverso se concretizar o feitiço original, em que TODOS esquecerão quem ele é. Dessa forma, Peter Parker se tornará um desconhecido do mundo todo (inclusive de seus amigos). Não vendo outra opção, Peter aceita esse destino.

O filme termina com nosso Peter Parker sozinho, sem amigos ou família. Um completo desconhecido e solitário cabeça de teia.

Reflexão sobre Homem-Aranha: Sem Volta para Casa: Esperar a Decepção é a Melhor Escolha

Uma das frases mais marcantes do filme foi dita pela MJ quando os três amigos descobriram que não entraram no MIT: “Se você espera a decepção, você nunca se decepciona”.

Muitos podem considerar essa frase depressiva e negativa, mas eu vejo o lado positivo dela. Na vida, nem sempre as coisas sairão como nós queremos e temos que saber nos preparar para que as coisas deem errado.

Precisamos lembrar que Peter, MJ e Ned são adolescentes, com seus 16-18 anos. Se olharmos para os adolescentes de hoje em dia, o que mais vemos são jovens os quais não sabem lidar com a frustração.

Esses adolescentes foram criados por pais super protetores, que mascararam boa parte das dificuldades da vida adulta e real. Na tentativa de dar o máximo de amor, carinho e conforto possível, esses pais não treinaram seus filhos para a decepção. Dessa forma, quando eles se decepcionam com algo, essa decepção se torna profunda a ponto de gerar uma depressão ou uma crise de ansiedade.

O filme veio mostrar para os jovens (e para todos nós) que é normal ou até mesmo garantido que iremos nos decepcionar com a vida ou com fatos que ocorrerão em nossas vidas e precisamos aprender a lidar com isso, entendendo que nem sempre as coisas sairão como queremos, que não temos como controlar tudo e que vamos nos decepcionar com pessoas, com situações, com nossos empregos, com nossos relacionamentos.

Normalmente, em filmes de super-heróis, o mocinho consegue resolver todos os problemas no final e terminar com a mocinha no “felizes para sempre”. Só que não é isso que ocorre nesse filme. A decisão inicial de Peter de criar o feitiço e, depois, de querer ajudar os vilões, culminou no feitiço em que todos esquecem quem ele é! Ele não conseguiu resolver todos os problemas! Ele “se ferrou” no final!

Na vida, muitas vezes isso também ocorre. O aluno estuda muito, acerta todos os exercícios, ensina os amigos, mas chega na prova e vai mal; o candidato se prepara o ano todo para o concurso/Enem e acaba não indo tão bem porque naquele ano cobraram algo que normalmente nunca se cobra ou até vai bem, mas os outros vão ainda melhor; o funcionário tem um desempenho perfeito nas suas funções, mas não ganha a promoção porque não é o melhor amigo do superior; você faz de tudo para manter seu relacionamento saudável e feliz, mas a outra pessoa insiste em querer criar problemas ou te trair… Pois é! Essa é a vida da grande maioria das pessoas: decepção.

Reflexão sobre Homem-Aranha: Sem Volta para Casa: Esperar a Decepção não Significa não Agir

O que muitos não conseguiram compreender da frase de MJ é que esperar a decepção não é sinônimo de não agir. MJ já esperava ser recusada pela universidade, mas mesmo assim se inscreveu em várias.

Da mesma forma, esperar que você poderá não passar na prova / concurso / Enem não significa não tentar ou não se esforçar muito para ir bem. Apenas é uma forma de estar pronto caso não seja o seu momento e você não passe.

O funcionário que não espera a promoção, não se frustra quando outro é promovido. Mas isso não quer dizer que ele vai deixar de ser um bom funcionário e se esforçar para ser o melhor no que ele faz, ele só não pode fazer isso tudo esperando reconhecimento garantido porque, infelizmente, na vida real, nem sempre o que é certo é feito.

Não é porque vários dos seus relacionamentos deram errado que será impossível de encontrar seu par ideal. É só pensar em quantas pessoas namoramos ao longo da vida para só casa com uma. E até mesmo depois de casar ainda pode ser que o casal se separe e a pessoa se case novamente com outra. O que não pode é acreditarmos que nunca encontraremos a pessoa ideal e, por isso, parar de procurar alguém para nos completar. Relacionamento é aceitar que podemos fazer de tudo e ainda assim dar errado porque um relacionamento depende de reciprocidade e nem sempre ela acontece.

Resumindo: se pararmos para analisar friamente nossas vidas, veremos que tivemos, quantitativamente falando, mais decepções (no sentido de que esperávamos um resultado e veio outro) do que satisfações. O ponto é que quando a satisfação chega, todas as decepções acabam sendo esquecidas ou minimizadas.

Esse “esquecimento / minimização” é normal. Não é uma crítica. É até saudável para nosso cérebro / alma que se retenha no consciente mais lembranças prazerosas do que dolorosas. Por isso, quando você faz uma retrospectiva, você lembra com detalhes o dia que viu seu nome aprovado ou no dia da nomeação da sua promoção, mas lembra mais vagamente dos dias de sofrimento quando se descobriu a reprovação ou ausência de nomeação. Da mesma forma, você lembra com detalhes do seu relacionamento atual, e não fica pensando muito nos seus antigos relacionamentos (mesmo das partes boas).

Dessa forma, temos sim que aprender a viver a decepção. Para muitos, isso só é possível na radicalidade do “se você espera a decepção, você nunca se decepciona”. É extremamente necessário que seja dessa forma? Não! Mas é um caminho para uma geração que não foi educada para a decepção.

Reflexão sobre Homem-Aranha: Sem Volta para Casa: A Redenção é uma Possibilidade

Muitos consideram que Homem-Aranha: Sem Volta para Casa é um filme de redenção. A palavra “redenção” normalmente é utilizada para se referir a um ato que corrige um erro do passado, que conserta alguma falha praticada, que compensa uma culpa guardada; e isso ocorre para os dois Homens-Aranhas que vieram de outros universos.

A maior frustração do Homem-Aranha, amigão da vizinhança (Tobey Maguire) foi não ter salvado Norman Osborn (Willem Dafoe). Norman estava sendo influenciado pelo seu alter ego Duende Verde e o Homem-Aranha não conseguiu achar uma cura a tempo, e acabou deixando ele morrer quando desviou do planador deixando-o acertar o Duende Verde.

No Homem-Aranha: Sem Volta para Casa, ainda temos essa oscilação entre Norman Osborn e Duende Verde. Na batalha final, o Homem-Aranha do Tom Holland está para conscientemente matar Norman Osborn quando o Homem-Aranha do Tobey Maguire o interrompe. Nem quando o Aranha-Tobey leva uma facada ele muda de posição, mostrando que ele precisava a qualquer custo deixar viver seu inimigo (que já foi seu amigo). Felizmente, o Aranha-Tom consegue frear seu impulso, dando chance para o antídoto ser usado, libertando Norman de vez.

Claro que na vida real isso seria impossível (fazer alguém que já morreu reviver e não ser morta novamente), mas esse é um exemplo de uma redenção entre as pessoas afetadas porque a pessoa que morreu conseguiu uma segunda chance. Ou seja, o filme vem nos mostrar que não importa o tempo que demore (19 anos, nesse caso, entre o primeiro filme do Tobey Maguire e esse), é possível você se redimir com alguém que você tenha tido um problema sério.

Um exemplo da vida real muito comum são pais e filhos ou irmãos que deixam de se falar e essa picuinha dura por anos, muitas vezes só se resolvendo quando um dos envolvidos se encontra entre a vida e a morte. Esse é o momento em que ambos percebem o quão idiotas e superficiais foram os problemas que geraram a briga inicial. 

Dessa forma, percebemos que a redenção é possível mesmo que se tenha passado muitos anos ou muitas coisas tenham mudado. O próprio Aranha-Tobey falou que nunca conseguiu superar aquilo que aconteceu em 2002. 

Sendo assim, caso você tenha problemas não resolvidos a muito tempo com alguém, reveja se realmente vale a pena continuar dessa forma. Veja se no todo, com o passar dos anos, aquilo que foi importante um dia já não é mais, mostrando que a amizade e a relação entre as pessoas envolvidas não são melhores e mais bem quistos do que aquilo que motivou a briga.

Reflexão sobre Homem-Aranha: Sem Volta para Casa: Redenção como Libertação

O outro caso de redenção, provavelmente o mais emocionante, foi quando o Espetacular Homem-Aranha (Andrew Garfield) conseguiu salvar MJ da queda da Estátua da Liberdade.

Como o filme mostra, o Aranha-Andrew não conseguiu salvar sua namorada Gwen Stacy (Emma Stone) de uma queda provocada pelo vilão Harry Osborn (Dane DeHaan). Esse Aranha se tornou incapaz de sentir amor-próprio porque ele nunca superou a culpa que sentia por não ter agido melhor. Para esse Aranha, ele é o culpado pela morte da namorada.

É muito interessante vez a cena em que o Aranha-Tobey chama o Aranha-Andrew de espetacular porque é uma injeção de autoestima nesse Aranha que não consegue se sentir mais um herói.

Na fatídica cena desse filme, o Aranha-Tom não consegue alcançar MJ e o Aranha-Andrew vai ao salvamento, conseguindo, dessa vez, proteger a menina. MJ não é sua namorada e nem é a “mesma pessoa” que ele perdeu, mas isso não deixou de “tirar o peso das costas” pela culpa do Aranha-Andrew.

Esse é um exemplo de redenção que podemos ter fazendo o que é certo com outra pessoa, quando não dá mais para acertar as coisas na situação original do problema que gerou a culpa. O Aranha-Andrew não tinha como salvar sua Gwen Stacy, mas o fato dele ter falhado naquela vez não o impediu de tentar novamente e, dessa vez, obter sucesso. Com isso, ele pode readquirir sua confiança.

Em nossas vidas, nem sempre conseguiremos nos redimir nos mesmos termos que geraram o problema original. Na verdade, é praticamente impossível isso. Dessa forma, temos que buscar a redenção de outros meios, vendo possibilidades de fazermos a coisa certa ou provarmos para nós mesmos que superamos aquilo que causou o trauma.

É fácil? Claro que não! Vai ser a mesma coisa? Nunca será! Mas a vida só anda para frente e precisamos sempre ser melhores no futuro porque, na vida real, não dá para mexer no passado. É aceitando isso que podemos nos libertar dos nossos fantasmas.

Conclusão

Ao final dessa reflexão sobre Homem-Aranha: Sem Volta para Casa, percebemos que às vezes é melhor esperar a decepção para sabermos lidar quando ela ocorre; contudo, isso não significa que não devemos agir para alcançar nossos objetivos. Na verdade, precisamos sim agir, mas sabendo que pode dar tudo errado. Também refletivos sobre a possibilidade de redenção tardia, seja na mesma situação que causou o trauma, seja em uma nova situação. Independentemente da forma, o importante é a sensação de libertação que vem após a redenção.

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Até a próxima e tenham uma boa viagem!

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Professor de filosofia desde 2014 e nerd desde sempre. Tem como objetivo pessoal mostrar às pessoas que filosofia é importante e não é uma coisa chata. Gosta de falar dos temas filosóficos de forma descontraída e atual, fazendo muitas referências ao universo nerd.