Olá, marujos! Hoje, faremos uma reflexão sobre o filme Eternos da Marvel / Disney. A história mostra um grupo de não-humanos que vieram para a Terra 7 mil anos atrás para proteger a raça humana de criaturas conhecidas como Deviantes. Eles acharam que tinham eliminado todos e se dispersaram, mas apareceram novos e eles precisam se reunir novamente. A grande questão moral disso tudo é que eles só podem agir contra Deviantes, não podendo interferir em conflitos entre humanos; e essa limitação causa várias discussões entre eles. Será sobre isso que iremos refletir nesse texto. Não teremos spoilers do filme nessa reflexão. Vamos lá!
Sobre Eternos (SEM Spoilers)
Eternos é mais um filme de superaventura dos Estúdios Marvel / Disney, dando continuidade ao MCU. Ele estreou em 2020 nos cinemas e estreará em 2021 na Disney+.
A história começa com um grupo de 10 seres criados pelo celestial Arishem para virem à Terra proteger os seres humanos de seres monstruosos chamados Deviantes, que querem devorar (literalmente) a raça humana.
Esses protetores da Terra recebem o nome de Eternos e possuem diferentes aparências, poderes e personalidades. Eles chegam na Terra por volta de 5000 a.C. e passam milênios combatendo esses Deviantes em todo o globo terrestre. Esses combates não são ocultos dos humanos, ou seja, todas as lutas eram presenciadas pelos seres humanos. Além disso, em períodos de paz, os Eternos também ajudavam os humanos a desenvolverem aos poucos sua tecnologia. Por tudo isso, muitas das lendas e mitos antigos fazem referência aos Eternos e Deviantes.
Após derrotarem todos os Deviantes, o grupo se dispersa pelo globo. Eles não podem ir embora porque precisam residir na Terra até que o celestial Arishem considere a missão cumprida. Com isso, passam-se mais alguns séculos e chegamos aos dias atuais.
Nos dias atuais, tudo estava calmo até que surge um Deviante o qual ataca um Eterno. Isso motiva o grupo a ter que se reunir e entender porque ainda existem Deviantes na Terra. Ao buscarem essa resposta, eles também descobrirão qual era a verdadeira missão deles (Deviantes e Eternos) no nosso planeta.
Para saber como tudo acaba, só vendo o filme! 😉
Reflexão sobre Eternos: Dilema Moral
Imaginem a situação: você é mandado para uma missão de auxílio / ajuda a alguém mais fraco. Chegando lá, você descobre que só pode proteger essa pessoa de um problema, mas todos os demais problemas ela terá que lidar sozinha, mesmo você tendo condições de ajudar. Complicado né? Basicamente, é esse o dilema moral pelo qual passam os Eternos.
Todos os Eternos foram mandados juntos para proteger os seres humanos dos Deviantes. Basicamente, o que eles faziam era garantir que os humanos sobrevivessem, já que os Deviantes queriam matar todos os humanos. A questão é: se o propósito da missão é manter os humanos vivos, porque só protegê-los dos Deviantes, porque não os proteger deles mesmos?
Pela lógica da missão, deveria ser aceitável que os Eternos também protegessem os humanos de outros humanos, acabando com guerras e invasões, por exemplo. Mas isso não lhes era permitido. E isso incomodou muito um grupo de Eternos. O dilema moral aqui presente é: se é para ajudar, porque não ajudo de forma completa? Porque só posso ajudar um pouquinho?
Se trouxermos para o nosso dia a dia, veremos que esse é um problema que enfrentamos diariamente. Todos queremos interferir na vida dos outros, mas temos dúvidas sobre o limite para nossas ações.
Se pensarmos em um casal, veremos como um quer o bem do outro e, para alcançar esse bem, um quer ajudar o outro a ser melhor. Porém, qual é o limite da ajuda? Sou eu que sei o melhor para o outro e possuo a razão em dizer como as coisas devem ser? Será que preciso esperar o outro pedir ajuda? Será que é certo ajudar o outro quando essa pessoa pede ajuda ou devemos deixar essa pessoa “se virar” para aprender?
No caso acima, ainda estamos falando de duas pessoas que hipoteticamente estão em igualdade racional ou de maturidade. Agora, imaginem a relação entre pais e filhos? Todos os problemas acima se tornam dez vezes piores porque temos, de um lado, alguém maduro e racionalmente formado e, do outro lado, alguém que ainda está amadurecendo e não tem ainda muita experiência de vida. Fica muito difícil para o adulto saber a hora de intervir ou não intervir porque ele saber que a criança precisa dele, mas que ela também precisa aprender a sobreviver sozinha.
Se pararmos para pensar, a relação entre os Eternos e os seres humanos é uma relação de desigualdade. Eles são seres muito superiores a nós. Por isso, recai sobre eles todas as decisões sobre agir ou não agir conosco. Nossa opinião não importaria muito já que somos inferiores.
Complicado, né? Por isso, chamamos isso de dilema, porque não existe uma resposta certa!
Reflexão sobre Eternos: Omissão não deixa de ser uma ação!
A escolha da maioria dos Eternos foi de obedecer à ordem do celestial e não interferir. Eles acreditavam que os Deviantes eram um inimigo injusto, que poderia dizimar a humanidade. Porém, os conflitos internos, de seres humanos com seres humanos era algo que deveríamos saber resolver e seria importante para o nosso desenvolvimento como espécie. Em outras palavras, a raça humana tinha que a aprender a se virar…
A questão aqui é que omissão ainda é uma ação, no sentido de que é uma escolha consciente que trará consequências. Não existe isso de “não vou opinar ou votar porque não quero participar desse problema e nem ser responsabilizado pelas consequências daquilo que eu, teoricamente, não intervi”. Ao nos decidirmos pela omissão, estamos deliberadamente tomando uma posição, que é a posição de não agir. Sendo assim, qualquer efeito decorrente da minha não ação é culpa minha!
Na Igreja Católica, existe uma oração de arrependimento pelos pecados cometidos que pode ser proferida nas missas que diz assim: “Confesso a Deus todo poderoso / E a vós irmãos e irmãs / Que pequei muitas vezes / Por pensamentos e palavras / Atos e omissões / Por minha culpa, minha tão grande culpa”. Reparem que os cristãos católicos consideram como pecado não só os atos, mas também as omissões. Isso ocorre porque a Igreja tem consciência que se omitir é uma escolha deliberada e que pode nos trazer responsabilidades.
Ao escolherem não agir, os Eternos tomaram uma decisão que os responsabilizavam pelas consequências disso. Ao escolhermos não agir, também devemos ter isso em mente: as consequências das nossas omissões são tão importantes quanto as consequências de nossas ações.
Reflexão sobre Eternos: Responsabilidade Moral e Angústia
O filósofo existencialista Jean-Paul Sartre vai nos dizer que somos livres e, por sermos livres, somos totalmente responsáveis por nossos atos, não só no que tange a nós mesmos, mas naquilo que tange a toda a humanidade. Para ele, quando nos escolhemos, escolhemos toda a humanidade.
Quando agirmos, nos responsabilizamos por todos os impactos causados, seja em nós mesmos ou nos outros. Esse fato, segundo Sartre, nos angustia porque ninguém quer ser responsável por algo de ruim que aconteça com outra pessoa. Podemos não ligar para o que aconteça conosco, mas ligamos quando existe a possibilidade de fazermos mal a outra pessoa. Acredito que é por isso que tentamos justificar nossas omissões como ausência de responsabilidade.
Como não queremos nos responsabilizar pelo que pode acontecer com os outros, escolhemos a omissão como “solução”. Se eu não faço nada, nada do que ocorrer será culpa minha. Logo, não terei peso na consciência se algo der errado. Mas esse pensamento é incorreto! E é por ele existir que muitas coisas deixam de ocorrer e, provavelmente, causaram muitos males na humanidade.
Na segunda guerra mundial, por exemplo, muitos alemães desconheciam a existência dos campos de concentração por uma omissão, por uma vontade de não querer saber o que estava acontecendo com os judeus, ciganos, deficientes e homossexuais. Em diversas eleições, os votos em branco/nulos permitem que partidos com mais eleitores fanáticos dominem a eleição e partidos com candidatos mais centrados ou menos apoiados por grandes empresas não tenham força. Em manifestações sociais, concordar com a causa e não fazer nada por ela só descredibiliza o movimento porque ele aparentará ser fraco e você ainda estará dando um contratestemunho da causa.
Se as pessoas de fato se engajassem naquilo que acreditam, assumindo que agindo ou não agindo temos responsabilidades, muito mais ações teriam forças porque os omissos começariam a agir. E, provavelmente, com esse reforço de atitudes, as coisas poderiam ser diferentes e, provavelmente, até melhores.
Conclusão
Agir ou se omitir tem o mesmo peso moral sobre nossa responsabilidade. Dessa forma, qualquer escolha que façamos é uma escolha que pode nos dar orgulho ou vergonha. Não adianta mais ficar nos esquivando da responsabilidade dizendo que não participamos de uma situação só porque escolhemos não participar. Escolher não participar é uma escolha! Tendo isso em mente, espero que tenhamos mais consciência na hora de nossas decisões. Os Eternos repensaram suas escolhas; e você, vai repensar a sua também?
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Até a próxima e tenham uma boa viagem!